Wálter Maierovitch

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Opinião

Lula convida STJ para jantar, de olho no aparelhamento do Judiciário

Coincidência? Sim, eu estava a reler Cícero sobre a República. De repente, caiu no meu colo o texto publicado pelo UOL, analítico-informativo, da respeitada jornalista Carolina Brígido.

Brígido informou ter o anfitrião Lula — em fase de escolha de dois ministros para integrar o Superior Tribunal de Justiça (STJ) — convidado todos os ministros da Corte para jantar, nesta quarta-feira (18).

A intenção de Lula, pela informação vazada, seria conversar sobre a lista tríplice que lhe foi enviada pelo STJ, conhecido pelo designativo Tribunal da Cidadania.

Em especial, sobre eventual escolha por Lula do polêmico Rogério Favreto, desembargador não concursado, oriundo da classe dos advogados e que já tomou decisão que favoreceu o atual presidente.

A informação de Brígido representa exemplo vivo de conduta nada republicana por parte do presidente Lula, caso confirmadas as suspeitas relatadas a respeito de Favreto.

Lula imita Bolsonaro — ambos, cada um ao seu tempo, na meta de tentar aparelhar a Justiça. Aliás, algo que o ditador Nicolás Maduro logrou realizar.

A referida meta de aparelhar, instrumentalizar, significa, na verdade, jogar na lata do lixo a independência do Poder Judiciário. Também aparenta camuflagem voltada à descaracterização do sistema constitucional da "Separação dos Poderes da República".

Num linguajar deste tempo de campanha política paulistana, Lula e Bolsonaro, na tentativa de aparelhar a Justiça, ofendem a nossa Constituição republicana, tratando-a como se fosse um rolo de papel higiênico.

Tubaína e jantar à Favreto

No quesito afronta ao sistema republicano de governo, as iniciativas de Lula e Bolsonaro são semelhantes.

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O anti-republicano Jair Bolsonaro, com relação à escolha de ministro ao Supremo Tribunal Federal (STF), convidava para tomar tubaína.

Lula, mais sutil, propõe um jantar — com vinho, sem tubaína — para os ministros engolirem sem engasgar Rogério Favreto.

Bolsonaro com copos de tubaína garganta abaixo, na base do pegar e obedecer. Lula, na manha, na parolagem e no regabofe.

O golpista e anti-republicano Bolsonaro alardeava querer um ministro do STF para tomar tubaína e lhe passar ordens de como decidir casos de interesse da Presidência — dele, Jair, dos filhos e apaniguados.

Vale lembrar. Ao nomear Kássio Nunes Marques, falou em deter bancada de 10% do STF. E Kássio ganhou o apelido de Kássio 10%.

Lula nomeou o seu advogado criminal Cristiano Zanin para o STF. Nomeação nada republicana.

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Em recente editorial, o jornal Estado de S. Paulo criticou os critérios de Lula na escolha de desembargadores federais, ministros de tribunais regionais e STJ — com o grupo Prerrogativas, chamado pelo jornal de partido político informal, a aconselhar os nomes para Lula.

Favreto tomou decisão pró-Lula

Favreto, num plantão judiciário, concedeu habeas corpus liberatório a Lula, quando ele encontrava-se preso pela Lava Jato, em Curitiba.

Favreto cassou, sem ser o juiz natural — ou seja, sem nenhuma competência jurisdicional — decisão colegiada do Tribunal Regional sediado no Rio Grande do Sul.

Colocada a questão em exame de qualificação profissional da OAB, até um reprovado teria acertado ao responder pela não competência de Favreto.

Trocado em miúdos, sem ter competência — portanto atrevidamente, monocraticamente e numa canetada —, Favreto cassou decisão colegiada do seu próprio Tribunal, que havia mantido a prisão de Lula.

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Favreto, sem corar e num plantão, virou um órgão de cassação. Colocou-se acima dos seus próprios pares.

Lula não foi solto. A ordem ilegal e abusiva de Favreto restou solenemente ignorada. Disciplinarmente, Favreto acabou não punido.

Não teria sido trama preparada intencionalmente, em plantão e por habeas corpus liberatória. Num faz de conta, aceitou-se o princípio constitucional do livre convencimento do magistrado e, numa expressão popular, livrou-se a cara de Favreto.

Pano rápido

Os ministros do STJ, convidados para o jantar palaciano, terão — ao que parece e para usar a forma ritual vaticana observada pelos papas — de conceder um escandaloso "nihil obstat" (nada obsta) a Favreto.

Pelo jeito, tudo mudou. Agora, temos jantares, audiências conciliatórias sobre como cumprir a Constituição, promiscuidades.

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Tudo isso faz parte do chamado "Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito (O triunfo do direito constitucional no Brasil)", consoante a obra-prima do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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