Wálter Maierovitch

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Opinião

Conclave seguirá regras criadas por João Paulo 2º e Bento 16

Na Capela Sistina, construída entre 1477 e 1481 pela genialidade de Michelangelo e que, depois das pinturas iconográficas, recebeu o apelido de "A Divina Capela", será escolhido o sucessor do falecido papa Francisco.

Tudo será realizado em observância à Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, de 1996, elaborada durante o pontificado de João Paulo 2º.

Essa constituição foi emendada por Bento 16, logo no começo do seu pontificado.

Dizem os vaticanistas que o cardeal alemão Joseph Ratzinger jamais seria eleito Bento 16 não fosse a Universi Dominici Gregis, do polonês Karol Wojtyla.

O primeiro papa eleito na Sistina foi Leão 10º, em 9 de março de 1513.

Nascido Giovanni de' Medici, Leão 10º era o segundo filho do poderoso florentino Lorenzo de' Medici, que passou para a história como O Magnífico. Leão 10º foi considerado medíocre e como tendo sido eleito pela influência dos Medici.

Para os vaticanistas, nome dado aos jornalistas especializados em coberturas, histórias e bastidores do Vaticano, o primeiro conclave de escolha do novo papa ocorre, por tradição, entre 20 dias da morte de Jorge Mario Bergoglio.

Trincheira e sede vacante

A primeira assembleia de cardeais ocorreu hoje, mas por mero cumprimento do direito canônico. Estando o trono vago, as questões administrativas são decididas pela assembleia, mesmo sem todos os membros, pois a maioria ainda não chegou ao Vaticano.

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Um padre jesuíta, da mesma ordem de Bergoglio, ouvido por um vaticanista do jornal italiano Corriere della Sera na edição de hoje, observou ter sido o papa Francisco um "sacerdote de trincheira".

Explicou haver Francisco, ainda em convalescença, participado ativamente da função papal. Na Quinta-Feira Santa, data chamada pela Igreja de Endoenças, Francisco esteve no presídio romano de Regina Coeli para a cerimônia do lava-pés. No sábado, marcou presença na basílica em oração. Recebeu o vice-presidente dos EUA e, no domingo, durante a recitação do Angelus, proferiu a bênção Urbi et Orbi. Com a voz um pouco fraca, desejou a todos uma "buona Pasqua".

Em outras palavras, o jesuíta Francisco esteve na trincheira até o final.

Pelas nomeações realizadas no seu pontificado, conforme os vaticanistas colheram nos bastidores, Bergoglio, um humanista, progressista e pacifista, procurou, para o futuro, não deixar caminhos para uma volta à linha conservadora.

Eleição

O falecido vaticanista Juan Arias, do jornal espanhol El País, contou em livro a crença, por ocasião do Concílio de Niceia, do ano 325, de que o Espírito Santo, materializado numa pomba, teria escolhido os quatro evangelhos inspirados: os de Marcos, Mateus, Lucas e João.

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Como os tempos mudaram, o Espírito Santo parece ter preferido inspirar regras escritas. Assim, e para a eleição do papa, ficou estabelecida em 1179 a regra da maioria de 2/3 dos votos.

O supracitado Wojtyla, pela constituição apostólica Universi Dominici Gregis de 1996, derrubou a exigência dos 2/3 dos sufrágios. Seus biógrafos mencionavam o temor de Wojtyla à formação de um bloco minoritário.

Pela reforma de Wojtyla, uma vez decorridos 13 dias de votações sem definição, a maioria absoluta dos cardeais (mais de 50%) bastaria para decidir como prosseguir. Ou seja, continuariam com a maioria dos 2/3 ou escolheriam entre os dois candidatos mais votados. E, como já referido acima, Ratzinger venceu em 2005.

Mas, com a reforma do já então papa Bento 16, voltou-se à maioria dos 2/3, estabelecida em 1179.

Abriu-se uma exceção a essa regra: após o decurso de 13 dias sem se atingir a meta, passa-se à escolha entre os dois nomes mais votados, mantido o quórum de 2/3.

Na previsão dos vaticanistas, apesar das mudanças adotadas por Ratzinger, a escolha do sucessor de Francisco não passará da segunda metade de maio.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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