Mulheres dos EUA preferiram Kamala a Trump, um misógino e hedonista
São muitos os temas para comentários depois da surpreendente lavada eleitoral sofrida pelos democratas, um partido dividido internamente entre radicais e centristas, com pouco espaço para os progressistas.
Mais ainda, o Partido Democrático cedeu à vontade de Joe Biden. Isso num acordo que constou a desistência em concorrer, em troca da indicação de Kamala Harris. Uma espécie de prêmio de consolação ao abrir mão de disputas primárias.
Ponto fulcral
O ponto que me chama a atenção —e aterroriza quando estão em jogo a sensibilidade humana e a igualdade de todos— diz respeito à escolha feita pelas mulheres americanas.
Todas essas mulheres eram capazes de perceber que Trump é um estridente misógino e machista. Em outras palavras, ele desvaloriza as mulheres e acha os homens mais capazes.
Um de tantos exemplos está no episódio da sua condenação criminal, com sentença a ser publicada neste mês. Trump mostrou a alma e a cara, ao não assumir a responsabilidade e mentir. Processualmente, considerou e expôs negativamente a empresária contratada para serviços sexuais. Sua equipe de campanha a rotulou de "porn star". Trump desacatou e desafiou até o juiz presidente das audiências.
As mulheres brancas representam 37% do total do eleitorado —é o maior grupo de eleitores dos EUA. Desse grupo, calcula-se, 47% votaram em Kamala Harris. Donald Trump foi bem mais votado, com 52%.
Entre mulheres e homens hispânicos, Trump recolheu 54% dos votos, conforme cálculo da NBC News. Neste caso, é preciso lembrar da bola fora de Trump em comício da Pensilvânia, quando humilhou e ofendeu a honra dos porto-riquenhos.
As mulheres afro-americanas também abandonaram Kamala. Idem em relação aos homens afro-americanos.
Tanto as hispânicas, quanto as afro-americanas, a incluir os seus parceiros, foram egoístas, pois votaram com base no discurso contra a imigração de Trump. Esqueceram o passado e sufragaram o presidente eleito.
Luta de Kamala desprezada
De nada adiantou a origem de Kamala e a sua incansável e heroica luta em defesa da liberdade das mulheres.
Kamala, na sua agenda eleitoral, colocou o aborto como uma das prioridades.
Nas eleições do meio do mandato presidencial (midterm), Kamala empenhou-se pela manutenção da decisão da Corte Suprema, no chamado "case" Roe contra Wade. Idem quando era senadora pela Califórnia, onde, aliás, venceu Trump.
A respeito do "case", a Corte Suprema entendeu, em 1973, que a Constituição protege a liberdade individual das mulheres e lhes garante a opção de fazer aborto, sem que haja nenhuma restrição por parte dos governos.
Segunda oportunidade perdida
As mulheres americanas, pela segunda vez, deixaram passar a oportunidade de ter uma representante na presidência dos EUA.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberAnteriormente, em 2016, já vacilaram com Hillary Clinton. Naquela ocasião, Hillary conquistou apenas 11% de vantagem no eleitorado feminino.
Volto a frisar: desde a eleição de 2016, as mulheres representam 30% do total de eleitores. Hillary teve 45% dos votos das mulheres, e Trump saiu com 47%, na ocasião.
Será que vingou o discurso de Trump quando afirmou ter "Deus poupado a sua vida para salvar a América"? Essa frase, no X de Ellon Musk, teve 2 bilhões de visualizações.
Pano rápido
James Madison, o pai da Constituição americana promulgada em 1787, escreveu o capítulo dos Direitos e Deveres. Tinha em mente a liberdade, a igualdade e o Estado laico (separação entra a igreja e o Estado).
As mulheres, na sua maioria, trocaram os ideais de Madison pelo engodo de Trump, que o interesseiro Musk elogiou: "You are the media now ("você é a mídia, agora").
Na obra intitulada "A Constituição Americana e o seu Criador", publicada com tradução brasileira em 1963, as duas autoras, Katharine Wilkie e Elizabeth Moseley, concluíram:
"Na sua juventude, [Madison] sonhou com uma nação unificada, cujo povo fosse livre. Na maturidade, elaborou a Constituição. Nela, estavam contidos os ideais da sua juventude. Todos os anos da sua vida foram dedicados a esses ideais e ao país que amou e tão bem soube servir. Sem a menor dúvida, foi um homem que conseguiu realizar os seus sonhos".
As mulheres americanas preferiram Kamala ao Trump, um misógino e hedonista. Ofenderam a memória de Madison.
Deixe seu comentário