Dilema do líder do Irã é atacar Israel antes ou depois da posse de Trump
O velho e enfermo Ali Khamenei, líder máximo da teocracia iraniana, luta em duas frentes e, em ambas, corre contra o tempo.
A primeira diz respeito a Israel, e a segunda, a uma manobra para emplacar o próprio filho no seu lugar, como sucessor.
Todos sabem, em especial o primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que Khamenei determinou ao Conselho Nacional de Defesa a execução de ataque a Israel.
Ninguém sabe, no entanto, quando ocorrerá o ataque, a sua duração e a intensidade.
Ele terá consequências diferentes caso efetivado antes ou depois da posse de Donald Trump, em 20 de janeiro de 2025.
Façam as suas apostas.
Réplica e tréplica
Os ataques parecem não ter fim: réplicas e tréplicas dadas militarmente como pontuais.
Mas, na visão de militares especializados em geoestratégia, esses ataques poderão levar a uma guerra total entre Israel e Irã.
A situação de momento mostra, para usar uma linguagem futebolística, que a bola está no campo dos aiatolás.
Khamenei justifica o ataque recém-ordenado como revide iraniano às agressões de Israel às bases militares iranianas, em 26 de outubro.
Netanyahu contesta e lembra que Irã atacou Israel com uma chuva de 180 mísseis no início de outubro.
Os aiatolás não deixam Netanyahu sem resposta e apontam para o bombardeamento, em abril, do consulado iraniano em Damasco, com a morte do general Mohammad Reza Zahedi.
Também invocam o assassinato em território iraniano, em 31 de julho, do líder de relações exteriores do Hamas, Ismail Haniyeh.
Especulações
Nos campos político e militar, as especulações são intensas.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberPara uns, as forças do Estado teocrático iraniano irão atacar antes da posse do mercurial e imprevisível Donald Trump, em 20 de janeiro.
No campo dessas especulações, caso isso aconteça antes da posse de Trump, o presidente Biden, em fim de mandato, deverá assimilar o ataque ao aliado Estado de Israel e empurrar com a barriga, até a chegada do seu sucessor.
Aí, volta o problema da questão não resolvida. Cai no colo de Trump, como novo presidente. Trump mantém laços fortes com Netanyahu e compromissos com a comunidade judaica norte-americana. Terá de marcar posição e, certamente, ouvirá a Arábia Saudita, que corteja desde o seu primeiro mandato de presidente.
Novo ministro
Khamenei sabe que, no ataque já ordenado a Israel, encontrará no posto de ministro da Defesa um novo titular, Israel Katz.
Katz é ligado à direita radical e de obediência cega às ordens de Netanyahu.
Tem mais: Israel já substituiu seu sistema de defesa. O motivo foi a vulnerabilidade do Domo de Ferro: dos 180 drones e mísseis iranianos lançados contra o país, dez deles romperam a barreira.
Dos lançados, 170 restaram interceptados, fato visto, sob o prisma militar, como fracasso. Por outro lado, não fossem bloqueados, a tragédia seria pior do que aquela acontecida no 7 de outubro de 2023, quando do ataque terrorista do Hamas.
Com a dispensa do ministro da Defesa, Yoav Gallant, um general da reserva com muito apoio popular, o sanguinário premiê Netanyahu ficará com as mãos livres.
Gallant era, dentro do gabinete de guerra, voz discordante de Netanyahu. Também discordante foi o general Benny Gantz, antigo primeiro-ministro e membro do gabinete de guerra pós-7 de outubro de 2023, que se exonerou por não suportar mais a arrogância de Netanyahu e a desatenção com os reféns. Passados mais de 400 dias em cativeiro, presumem-se que estejam vivos 110 reféns.
Enfim, Khamenei enfrentará a novidade decorrente de um ministro de Defesa que cumprirá sem discutir as ordens de Netanyahu.
Embora Netanyahu e Gallant fossem do mesmo partido, o Likud, de centro-direita, sempre divergiram em posições político-militares.
Gallant priorizava solução para a libertação dos 110 reféns ainda vivos. Foi, ainda, contra o ataque ao Irã e se opôs firmemente, com sucesso, a revidar mirando as plataformas de petróleo e as bases nucleares iranianas. Com Trump, tudo poderá acontecer.
Sucessão
Khamenei não se saiu bem nem na retórica, nos embates contra Israel. Sua política expansionista territorial e religiosa de matriz xiita, que leva sustentação a Hamas, Hezbollah, Houthis, Jihad Palestina etc, é criticada mundo afora e implica forte oposição por parte dos árabes.
O guia supremo Khamenei suportou desmoralização quando o Mossad, sob as suas barbas e em prédio oficial, executou o líder político do Hamas, hóspede oficial vindo para a posse do novo presidente iraniano. A reação determinada, a chuva de 180 drones, foi entendida como fracassada, como já frisado acima.
Diante disso tudo, internamente, ele teme não emplacar seu filho, também um clérigo, como sucessor.
Caso o ataque ordenado represente um outro fracasso, Khamenei perderá todo o poder de influência, e o filho não chegará à liderança suprema do país.
Deixe seu comentário