Ivermectina não é indicada para tratamento de câncer ou medida pós-vacina
A ivermectina deve ser usada contra doenças relacionadas a parasitas e vermes. Ao contrário do que apontam peças de desinformação, o medicamento não é indicado para tratamento contra outras doenças, como câncer, ou como uma medida pós-vacinação de covid-19. Os imunizantes são seguros e as reações comuns às doses, como dor local e febre, são consideradas leves e passageiras.
Conteúdo investigado: Postagens afirmam que pesquisas científicas indicam que a ivermectina "pode curar câncer, Parkinson, danos causados por vacinas e muito mais". Uma das publicações questiona: "Dá para entender porquê (sic) demonizam tanto esse medicamento secular?".
Onde foi publicado: X.
Conclusão do Comprova: A ivermectina é um medicamento recomendado para tratamento contra doenças provocadas por parasitas e vermes e seu uso não é indicado para o tratamento de "lesões" supostamente causadas por vacinas contra a covid-19, ao contrário do que apontam publicações falsas nas redes sociais. Não há evidência de que os imunizantes provocam este tipo de problema ao corpo humano, mas sim reações passageiras, como febre e inchaço local.
Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que estudos demonstram que a ivermectina funciona no tratamento das seguintes infecções, causadas por parasitas: elefantíase, lombriga, sarna, piolho, estrongiloidíase intestinal e oncocercose.
Segundo o órgão, as indicações "são aprovadas a partir da apresentação de dados e estudos que demonstrem a relação de eficácia e segurança para as indicações pretendidas pela empresa registrante". "Não há qualquer indicação aprovada pela Anvisa para uso da ivermectina em quadros diferentes dos citados acima", destacou a agência.
Também consultada pelo Comprova, a Food and Drug Administration (FDA), agência norte-americana que regula medicamentos quanto à eficácia e segurança, afirmou, como a Anvisa, que a ivermectina é aprovada no país apenas para tratar pessoas com problemas causados por parasitas.
A reportagem entrou em contato com os autores de duas postagens sobre o assunto que viralizaram no X, mas não houve retorno até a publicação. Após o pedido de resposta do Comprova, um dos conteúdos foi apagado. A postagem também mostrava contraponto que informava o risco do uso da ivermectina para tratamentos em casos que não são recomendados oficialmente.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 14 de agosto, duas publicações sobre o tema no X alcançaram juntas 295,3 mil visualizações, 16 mil curtidas e 4 mil compartilhamentos.
Fontes que consultamos: Entramos em contato com Anvisa, FDA, Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e entrevistamos o médico Igor Thiago Queiroz, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Também consultamos o site do Ministério da Saúde.
Vacina contra covid-19 é segura
A publicação verificada alega que "a ivermectina mostrou-se útil no tratamento de lesões causadas pelas vacinas de mRNA para Covid-19". O texto falso não detalha quais seriam essas lesões. No entanto, o infectologista Igor Thiago Queiroz reafirma o que já tem sido apontado pela comunidade científica: a vacina contra a covid-19 é segura e não causa lesões.
"Pode provocar alguns efeitos colaterais, principalmente locais, dor local, mal-estar, às vezes um pouco de febre baixa, que seriam esperados por muitas vacinas comumente", disse. "Ela não tem como provocar doença, porque é uma partícula do vírus. É um RNA mensageiro para estimular a produção de anticorpos".
De acordo com Queiroz, os efeitos causados pela vacina são considerados leves e podem ser contornados com uso de medicamentos como paracetamol.
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Quero receberAs peças de desinformação relacionadas às vacinas contra a covid-19 são comuns. O Comprova já mostrou caso de postagem que engana ao associar sintomas da covid longa às vacinas. Entre as condições provocadas pela covid estão perda de memória e fadiga; não há comprovação que a vacina também cause esses sintomas. Outra checagem apontou ser enganoso afirmar que miocardite e pericardite ocorrem apenas em pessoas vacinadas contra a covid-19.
Ivermectina não é recomendada para tratamento contra câncer
As peças de desinformação também alegam que a ivermectina pode curar câncer. Entretanto, em nota, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica afirmou que "não há embasamento científico para essa associação". A entidade pontuou que atualmente "existem tratamentos eficazes e seguros para a maioria dos tipos de câncer" e destacou que a substituição de terapias comprovadas por alternativas sem evidência científica pode criar riscos para os pacientes.
Em julho, o Ministério da Saúde publicou nota afirmando que a ivermectina não deve ser usada no tratamento contra o câncer.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O Estadão Verifica publicou, em abril de 2023, uma checagem que também mostrou que a ivermectina não pode ser considerada tratamento contra câncer. Na área de saúde, o Comprova mostrou que uma declaração de Drauzio Varella foi tirada de contexto para sugerir que o médico defende o uso de drogas e que documentos de órgão ligado ao governo alemão não apontam que a pandemia foi "fraude".
Esta verificação contou com a colaboração de jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.
Este conteúdo foi investigado por O Popular e UOL. A investigação foi verificada por A Gazeta, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Nexo, SBT e SBT News. A checagem foi publicada no site do Projeto Comprova em 16 de agosto de 2024.
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