Musk não visitou Brasil em 2024 nem anunciou construção de escolas no país
É falso que Elon Musk visitou o Brasil em 2024 e investiu 15 milhões de dólares na construção de escolas no país. Postagem feita no TikTok utilizou dublagem para manipular fala do empresário. No vídeo original, Musk opina sobre assuntos de inovação e tecnologia, sem mencionar o Brasil ou a construção de escolas no país. A mais recente visita do bilionário ao Brasil foi em 2022, para negociar projetos tecnológicos na Amazônia.
Conteúdo investigado: Post dubla vídeo de Elon Musk, proprietário do X e Starlink, dizendo que ele esteve recentemente no Brasil e decidiu investir 15 milhões de dólares na educação com a construção de escolas. "É Astra Nova, rede de instituições, que vai focar em ensino de verdade, sem viés ideológico. Já estamos construindo escolas por todos os Estados Unidos e agora vou investir do meu próprio bolso para construir colégios nas principais cidades brasileiras", cita a dublagem.
Onde foi publicado: TikTok.
Conclusão do Comprova: Elon Musk não disse que investiria em construções de escolas no Brasil em 2024, ao contrário do que cita post. Na publicação, a fala do empresário é dublada para omitir seu contexto original, em que Musk compartilha opiniões sobre inovações e tecnologia.
Tanto a dublagem quanto a legenda do vídeo foram inventadas. O vídeo é acompanhado de um aviso que diz: "marcado pelo criador como gerado por IA".
A filmagem utilizada no post investigado foi retirada de uma conversa via Zoom entre Musk e o Instituto Cato - que se descreve como uma "organização de pesquisa de políticas públicas que promove ideias libertárias em debates políticos". O diálogo ocorreu entre os dias 11 e 12 de junho deste ano, durante uma conferência em Buenos Aires, na Argentina. Musk falou no dia 12.
A conversa foi publicada na íntegra no canal do instituto em 14 de agosto, com 34 minutos e 17 segundos de duração. Nela, foram abordadas as opiniões do empresário sobre inovação e tecnologia. No entanto, em nenhum momento Musk mencionou a situação da educação no Brasil, nem a decisão de investir na construção de escolas no país.
O post falso também diz que, no dia anterior à gravação, Musk teria visitado escolas de regiões periféricas no Brasil. No entanto, o registro mais recente de uma visita do empresário ao país é de 2022, quando ele viajou a Porto Feliz, no interior de São Paulo, para negociar com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) projetos de "conectividade e proteção" na Amazônia. Na ocasião, Musk, proprietário da Starlink, anunciou um projeto da rede para conectar 19 mil escolas em áreas rurais e monitorar a Amazônia.
De acordo com reportagem do jornal Valor Econômico, de abril de 2024, o projeto está em curso e pretende conectar em rede mais de cinco mil comunidades em áreas protegidas da Amazônia até 2025. O investimento, que usa tecnologia de comunicação da Starlink, é avaliado em 80 milhões de dólares com recursos de entidades filantrópicas. No entanto, o projeto não menciona construção de escolas.
Segundo a Agência Brasil, também em 2022, a Tesla - fabricante de veículos elétricos gerida por Musk - fechou contrato de longo prazo com a mineradora brasileira Vale para o fornecimento de níquel a partir das operações da mineradora no Canadá.
O conteúdo falso ainda afirma que Musk estaria investindo 15 milhões de dólares na construção de escolas no Brasil, como parte do seu projeto de educação "Astra Nova". Musk não anunciou recentemente investimentos no Brasil de forma pública. Pelo contrário, no dia 31 de agosto de 2024, o empresário disse em sua conta no X que "investir no Brasil sob a administração atual é insano".
O post foi feito após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinar a suspensão da plataforma no Brasil, em 30 de agosto, e em resposta a uma publicação de outro usuário, que chamou a suspensão do X no país de ilegal, e a definiu como "um caminho rápido para o Brasil se tornar um mercado ininvestível".
Em 2014, Musk criou uma escola para educar os filhos, a "Ad Astra". De acordo com uma entrevista que o empresário deu a uma televisão chinesa em 2015, a criação foi motivada pela insatisfação que ele sentia em relação ao ensino nos Estados Unidos. A escola de Musk é oficialmente registrada como uma escola privada ativa em Los Angeles, na Califórnia, desde 20 de julho de 2015, com cursos para crianças de 7 a 14 anos. Segundo a BBC, que visitou "Ad Astra" em 2018, a escola contava com cerca de 40 alunos na época.
Um canal no YouTube e uma página na internet levam o nome de "Astra Nova", suposto projeto no Brasil ao qual o vídeo falso se refere. Tanto a página quanto o canal citam Elon Musk, mas não falam sobre a criação de escolas no Brasil. Na verdade, a "Astra Nova" se trata de, conforme a própria descrição, "uma escola online experimental para alunos de 10 a 14 anos". Não há registros, físicos ou virtuais, de escolas criadas por Musk no país.
O Comprova tentou contato com a página responsável por publicar o conteúdo, mas um aviso de erro aparece ao enviar a mensagem, impossibilitando o diálogo.
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Quero receberFalso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 29 de outubro, o vídeo contava com mais de 225,1 mil visualizações no TikTok.
Fontes que consultamos: Buscamos no Google por entrevistas com Elon Musk via chamada virtual e encontramos o vídeo original, editado pelo post verificado. Também consultamos reportagens sobre as visitas do empresário ao Brasil e sobre a Ad Astra, escola criada por Musk.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: Elon Musk já foi alvo de outras verificações do Comprova. Em abril deste ano, o projeto concluiu que ele não comprou o Grupo Globo, ao contrário do que vídeos satíricos afirmavam e, em setembro, foi verificado que a Starlink, pertencente a ele, não é dona de todos os satélites do Brasil.
Este conteúdo foi investigado por Nexo eAgência Tatu. A investigação foi verificada por Metrópoles, NSC Comunicação, Tribuna do Norte, Correio do Estado, Folha, SBT e SBT News. A checagem foi publicada no site do Projeto Comprova em 30 de outubro de 2024.
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