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Em CPI, médicos defendem substâncias sem eficácia comprovada para covid-19

18.jun.2021 - Os médicos Ricardo Zimerman (à esquerda na foto) e Francisco Alves participam de audiência da CPI da Covid no Senado. Esta imagem é um recorte de uma imagem mais ampla, feito com o objetivo de destacar os dois médicos - Jefferson Rudy/Agência Senado
18.jun.2021 - Os médicos Ricardo Zimerman (à esquerda na foto) e Francisco Alves participam de audiência da CPI da Covid no Senado. Esta imagem é um recorte de uma imagem mais ampla, feito com o objetivo de destacar os dois médicos Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Beatriz Montesanti

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/06/2021 19h43Atualizada em 18/06/2021 19h44

Médicos a favor do suposto "tratamento precoce" para covid-19 defenderam hoje (18), ao serem ouvidos na CPI da Covid no Senado, o uso de medicamentos sem eficácia comprovada para a doença. Ricardo Ariel Zimerman e Francisco Eduardo Cardoso Alves falaram aos senadores na condição de convidados.

Em março, os dois médicos estavam entre os profissionais de saúde que assinaram uma nota técnica publicada pelo Ministério Público Federal em Goiás apoiando o uso do chamado "tratamento precoce". O texto foi encaminhado a órgãos e instituições relacionados ao enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. A seguir, veja esclarecimentos sobre alguns dos temas abordados por Zimerman e Alves hoje na CPI:

'Tratamento precoce' não funciona para covid-19

Estudos já provaram que o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina é ineficaz contra a covid-19. Um deles foi organizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), conduzido no Brasil pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e publicado após revisão na revista científica New England Journal of Medicine (NEJM). Os dados mostraram que os tratamentos avaliados —com uso dos medicamentos rendesivir, hidroxicloroquina, lopinavir e interferon— tiveram pouco ou nenhum efeito em pacientes hospitalizados com Covid-19, seja em mortalidade geral, início da ventilação ou duração da internação hospitalar.

Em suas diretrizes, que são constantemente atualizadas, a OMS recomenda fortemente ou condicionalmente não usar nenhum destes medicamentos no tratamento da covid-19. A organização realizou uma metanálise (revisão de seis estudos clínicos) que concluiu que a hidroxicloroquina teve um efeito muito pequeno ou nenhum efeito na prevenção, internação e mortalidade por covid-19.

Outros medicamentos do chamado "tratamento precoce", como a ivermectina, a proxalutamida e a nitazoxanida, não têm eficácia comprovada para a doença. A OMS não recomenda o uso de ivermectina em pacientes com covid-19, a não ser em testes clínicos.

Estudos que atestam suposta eficácia são falhos

Estudos que atestam a suposta eficácia destes medicamentos não são considerados confiáveis pela comunidade científica por apresentarem uma série de problemas. Uma metodologia considerada rigorosa precisa trazer dois pontos fundamentais: O primeiro é a randomização — ou seja, a escolha aleatória dos pacientes. O segundo é o chamado teste duplo-cego, quando nem médicos, nem pacientes sabem quem está recebendo o remédio testado e quem está recebendo o placebo.

Além disso, também é preciso que os resultados sejam publicados em uma revista científica, o que só acontece depois da revisão pelos pares —no caso, outros especialistas no assunto. Muitos dos estudos citados por defensores do "tratamento precoce" não atendem a nenhum desses pontos.

Um comumente citado foi publicado na plataforma Research Square. Ele indica que a ivermectina, remédio geralmente usado no combate de piolhos, pode reduzir risco de morte em até 75% para pacientes infectados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). Especialistas, no entanto, apontam que o estudo não seguiu diversas etapas e, as que foram seguidas, não foram feitas da forma correta. Artigos usados para a análise final, por exemplo, não foram publicados ou revisados por pares, uma premissa básica na validação de estudos científicos.

Hoje na CPI, por exemplo, o médico Ricardo Zimerman mencionou uma "metanálise da Front Line Critical Care que mostra um benefício com a profilaxia com ivermectina". Uma checagem publicada pelo Aos Fatos em março mostrou que a metanálise citada compila resultados de estudos que não foram revisados por pares, e a própria metanálise teve a publicação rejeitada por uma revista científica porque citava pesquisas com problemas de metodologia.

Corticoides devem ser usados em condições específicas

Resultados preliminares mostram que alguns corticoides podem tratar complicações específicas da covid-19 em pacientes já internados. Corticoides são usados no geral para aliviar inflamações e tratar doenças que requeiram ação imunossupressoras, como artrite reumatoide, alergias e asma.

No ano passado, pesquisadores da Universidade de Oxford divulgaram estudo segundo o qual a dexametasona reduz a incidência de mortes pela covid-19. A pesquisa teve uma versão preliminar publicada no NEJM em julho de 2020, e a versão final saiu na mesma publicação em fevereiro.

O medicamento é apenas indicado em pacientes com quadros moderados e graves, que estão internados. Ainda mais importante: o remédio não pode evitar que alguém contraia covid-19. Portanto, não devem ser usados de forma preventiva, apontam especialistas.

Colchicina pode evitar complicações da covid-19

O anti-inflamatório colchicina, utilizado no tratamento de gota, pode evitar complicações da covid-19, segundo resultados do teste clínico COLCORONA, coordenado pelo Montreal Heart Institute, no Canadá. A pesquisa com os resultados do teste foi divulgada em janeiro e publicada na revista científica The Lancet Respiratory Medicine em maio.

Outra pesquisa, feita pelo projeto Recovery, da Universidade de Oxford, apontou que a colchicina não teria efeito em casos de pacientes hospitalizados. O estudo ainda não foi revisado por pares.

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