Vídeo de 'motociata' traz boa estimativa, diz professor; entenda contagem
Em meio a boatos sobre o número de participantes da "motociata" em que esteve o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em São Paulo, no sábado (12), um vídeo com uma contagem do número de veículos no ato viralizou na última semana. Segundo um professor de ciência da computação da USP entrevistado pelo UOL Confere, o método usado para a contagem — que chegou a 6.235 motos — traz uma boa estimativa da quantidade de veículos.
O vídeo viralizou no Twitter após um post do usuário Nicolas Kasprzak, mas foi publicado originalmente em um canal do YouTube chamado Análise de Vídeos. Pelo e-mail disponível no canal, o UOL Confere conseguiu contato com o editor do vídeo. Ele preferiu não se identificar, alegando temer represálias de bolsonaristas, mas explicou a técnica utilizada para chegar ao número de 6.235 motocicletas.
A filmagem
O editor disse trabalhar com filmagens feitas por drones, e contou ter ido de bicicleta até um ponto da marginal Pinheiros, em São Paulo, por onde sabia que a "motociata" passaria no sábado (12). Ali, ele afirma ter feito 16 minutos de imagens. A CET-SP (Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo) confirmou ao UOL que o vídeo viral não usou imagens de câmeras de monitoramento de trânsito.
Depois de ver o material, o editor disse que decidiu aplicar uma técnica de visão computacional — o uso de computadores para a interpretação de informações visuais — que conhecia vagamente usando a linguagem de programação Python. Com alguma pesquisa, chegou ao resultado que postou no YouTube.
A contagem da 'motociata'
Professor do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP (Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo), Roberto Hirata Junior explicou ao UOL Confere que o vídeo foi feito com o uso de uma biblioteca de códigos de visão computacional e aprendizado de máquina chamada OpenCV. O código é aberto e está disponível no GitHub, uma plataforma de hospedagem de códigos.
A técnica de contagem que usa a visão computacional funciona a partir da subtração do fundo.
"Imagina uma foto da sua sala de trabalho sem ninguém e, quando aparece alguém, esse novo objeto vai contrastar com o fundo. Para cada imagem, faz-se a subtração da nova imagem com o fundo e, tudo que fica, pode ser um novo objeto", exemplifica o professor.
Na sequência, a solução cria um contorno retangular ao redor de cada objeto e conta quando esse contorno cruza uma linha que o editor coloca na imagem para controlar a contagem.
"O processo não é perfeito, mas dá uma estimativa muito boa de quantas motos tinham na 'motociata'", afirmou Hirata.
Hirata diz que qualquer solução de visão computacional pode ter problemas quando aplicada ao mundo real.
"No caso específico, o fato da polícia ter fechado o espaço para a 'motociata' e o fato da maioria dos objetos que se movem serem motocicletas, o fato das motocicletas não estarem em alta velocidade, ou velocidade diferente entre elas, facilita bastante a solução", explicou o professor.
O mesmo software já foi usado em São Paulo, por exemplo, para contar bicicletas utilizando as ciclovias implementadas pela prefeitura durante a gestão de Fernando Haddad (PT).
A estimativa feita de forma amadora sobre a "motociata" está em linha com um levantamento feito por meio do sistema de monitoramento de pedágio da rodovia dos Bandeirantes, que liga São Paulo à região de Campinas (SP). Segundo reportagem da Folha publicada anteontem (16), o primeiro pedágio do trecho bloqueado para a "motociata", localizado no km 39, registrou 6.661 passagens de veículos.
Segundo a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo), que concedeu os dados do pedágio, o valor pode ser maior que o registrado, pois não é possível determinar a margem de erro dos sensores, mas é improvável que seja o dobro.
O governo paulista estimou a presença de 12 mil motos a partir de imagens registradas pelo helicóptero da Polícia Militar. Apoiadores do presidente chegaram a falar em 1,3 milhão de motos no evento e que o número havia entrado para o livro dos recordes, o que é mentira, segundo o Guiness World Records.
Na segunda (14), o UOL Confere também mostrou que apoiadores e opositores de Bolsonaro usaram fotos verdadeiras, mas feitas de formas diferentes, para dizer que a "motociata" tinha sido um fracasso ou um sucesso.
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