Topo

UOL Confere

Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


Vídeo viral reúne três fakes contra Lula já desmentidas

25.out.2022 - CPX significa Complexo; L feito por traficantes em reportagem de 2018 é de Linho, não de Lula; e polícia descartou hipótese de atentado contra Tarcísio - Arte/UOL sobre Reprodução Facebook
25.out.2022 - CPX significa Complexo; L feito por traficantes em reportagem de 2018 é de Linho, não de Lula; e polícia descartou hipótese de atentado contra Tarcísio Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução Facebook

Do UOL, em São Paulo

25/10/2022 19h46Atualizada em 26/10/2022 15h19

Um vídeo que viralizou na última semana no Facebook reúne três mentiras sobre o candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que já foram checadas.

O que mostra o vídeo? A publicação traz uma colagem de diversos vídeos, sendo que três deles insinuam desinformações já desmentidas e checadas por agências de checagem nesta eleição.

No primeiro, Lula aparece com o boné com o termo "CPX", que não significa cupincha, e ao contrário do que mostra a legenda do vídeo, se escreve com ch e não com x.

No segundo, aparece um homem sendo preso fazendo L com as mãos, o que já foi demonstrado que se trata de uma referência ao traficante Linho, um dos fundadores da facção A.D.A do Rio de Janeiro, não a Lula — o vídeo é de uma reportagem da TV Record de agosto de 2018.

No terceiro, o vídeo viral é acompanhado de uma narração que insinua participação do PT no tiroteio que aconteceu em Paraisópolis (SP) durante agenda do candidato apoiado por Bolsonaro ao Governo do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o que também não é verdade.

O que diz a narração do vídeo? "Olha só, quem conhece a realidade sabe que para entrar de peito aberto em comunidade ou você é morador ou cupinxa (sic) da bandidagem. Até onde eu sei, o Nine não tem nenhum tríplex no complexo e eles sabem que, dessa vez, se perder essas eleições, já era. Por isso estão dispostos a qualquer coisa. O sistema nunca teve tão perto de cair. E nunca foi tão fácil para o povo escolher o lado certo. O inimigo agora é o mesmo."

As checagens

1) CPX: É falso que a sigla "CPX" no boné do candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja uma apologia a alguma facção de crime organizado. O petista usou o adereço durante evento de campanha no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Como mostrou matéria do UOL, CPX é a abreviação de Complexo, como são chamados os conjuntos de favelas. O termo é utilizado até em documentos oficiais do Governo do Estado do Rio de Janeiro, como na LDO 2023 (Lei de Diretrizes Orçamentárias - página 45). O documento se refere ao Complexo da Maré como CPX Maré.

ldo 2023 rj - Reprodução Secretaria de Estado de Fazenda do Rio de Janeiro - Reprodução Secretaria de Estado de Fazenda do Rio de Janeiro
25.out.2022 - LDO do Rio de Janeiro para 2023 se refere ao Complexo da Maré como CPX Maré
Imagem: Reprodução Secretaria de Estado de Fazenda do Rio de Janeiro

Nas redes sociais, políticos bolsonaristas relacionaram a abreviação ao termo "cupinxa", que na verdade se escreve com ch (cupincha), e significa "comparsa", segundo o dicionário Michaelis. O termo é uma gíria gaúcha. O assunto voltou a circular nesta terça-feira (25) com a viralização do recorte de uma entrevista de um major e subcomandante do BOPE de Santa Catarina em que ele diz que o 'CPX' do boné de Lula, usado em uma favela carioca, é na verdade, cupincha. É falso.

O UOL entrou em contato com a assessoria da PM sobre a declaração inverídica do agente, já que ele usava o uniforme da corporação na entrevista. Em resposta, a Polícia Militar de Santa Catarina disse que a opinião do subcomandante do BOPE não representa a opinião da instituição, e que as imagens e falas do oficial estão sendo analisadas pela corregedoria-geral da corporação "a fim de verificar os procedimentos administrativos decorrentes".

Além disso, também é falso que Lula esteve na favela sem escolta. A segurança dos candidatos à presidência é feita pela Polícia Federal. Mais de 30 agentes da PF participaram da escolta do petista no Complexo do Alemão, e a segurança no trajeto do evento também foi reforçada pela PMERJ (Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro) como é possível ver que havia viatura nas fotos do evento.

lula escolta alemão - Érica Martins/Estadão - Érica Martins/Estadão
Mais de 30 agentes da PF participaram da escolta do candidato. Além disso, havia viaturas da PM no local
Imagem: Érica Martins/Estadão

2) L é de Linho, fundador de facção do Rio, não de Lula: É falsa a associação criada entre um homem fazendo a letra "L"em trecho do vídeo com o ex-presidente Lula, que usa a letra inicial de seu nome na campanha eleitoral. O gesto é uma referência a um líder da facção Amigos dos Amigos (A.D.A), Paulo César Silva dos Santos, conhecido como Linho e que desapareceu no início dos anos 2000.

O vídeo que circula nas redes sociais é o trecho de uma reportagem da TV Record, veiculada em agosto de 2018 sobre a prisão do traficante Marcos Vinicius Tostes da Silva, conhecido como Pitbull ou MV e apontado pela polícia como chefe do tráfico no Morro do Urubu, zona norte do Rio de Janeiro.

A gravação original, que tem 2 minutos e 27 segundos, mostra o criminoso e também outros traficantes fazendo a letra "L" com as mãos em uma foto. O conteúdo foi verificado pelo Projeto Comprova — coalização de checagem do qual UOL faz parte.

3) Tiros em agenda de Tarcísio: Embora não reproduza o conteúdo da desinformação, o vídeo insinua participação do PT no trecho da narração que diz "por isso estão dispostos a qualquer coisa" e mostra um vídeo com acompanhado da legenda "tiros contra Tarcísio em São Paulo". A desinformação também foi checada pelo UOL Confere e pelo Projeto Comprova.

Publicações nas redes sociais associavam um apoiador de Lula que aparece ao lado dele em ato na Bahia a um dos suspeitos do tiroteio — a polícia nega. O homem que aparece nas fotos com Lula é o líder comunitário Anderson Mamede.

Um suspeito morto e outro foragido. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), o caso é investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Um suspeito foi baleado após entrar em confronto com policiais militares e morreu em seguida. Um segundo suspeito foi identificado e está foragido.

Além disso, a polícia paulista também descartou hipótese de atentando contra Tarcísio. Os tiros foram em um local próximo ao que o candidato estava, e não direcionados a ele.

O UOL Confere é uma iniciativa do UOL para combater e esclarecer as notícias falsas na internet. Se você desconfia de uma notícia ou mensagem que recebeu, envie para uolconfere@uol.com.br.