Por que as pessoas acreditam em fake news?
Por que alguém acredita que vacinas contra covid-19 contêm um suposto vírus causador do câncer? Ou que um decreto presidencial mudou o nome de coxão duro para picanha? Ou até que a erva-doce é usada para produzir Tamiflu?
As emoções são a chave para entender a questão.
A nossa relação com a informação é emocional, não é racional. E o ser humano não faz boas avaliações quando ele está tomado por emoções"
Clara Becker, fundadora da organização Redes Cordiais
Primeiro passo: convencimento
A captura da atenção das pessoas é a primeira etapa para que um leitor comece a entender como verdadeiras mensagens potencialmente falsas.
Diferentes táticas podem captar a atenção, aponta o editor do Projeto Comprova, Sérgio Lüdtke:
Postagens que utilizam partes de conteúdos verdadeiros garantem verossimilhança ao conteúdo;
Chamadas para uma ação urgente que vá evitar algo de ruim;
Peças satíricas que enfatizem aspectos que sejam entendidos como verdadeiros"
Segundo passo: isolamento
Após a fase de convencimento, a tendência é que a pessoa passe a conviver exclusivamente com quem compartilha das mesmas crenças que ela. O movimento é favorecido pelos algoritmos das redes sociais, que reconhecem as preferências do usuário e recomendam cada vez mais conteúdos similares.
Há um reforço constante das ideias das quais a pessoa já está convencida e a possibilidade de reconexão com a realidade se torna cada vez mais difícil.
Nesse ponto, as pessoas já formaram convicções e dificilmente estarão abertas aos fatos que as contradigam. Refutam o contraditório, as opiniões contrárias, conteúdos jornalísticos e até evidências científicas".
Sérgio Ludtke, editor do Projeto Comprova
Como lidar, então, de forma racional com uma questão é, essencialmente, emocional?
Uma das soluções passa pela educação midiática:
Saber diferenciar fatos de opiniões,
Buscar as fontes da informação
Ter consciência crítica sobre o conteúdo que se está consumindo e como ele chegou até o leitor.
É importante ser capaz de compreender:
A relação que as pessoas estabelecem hoje com as redes sociais,
Como as plataformas funcionam e como mudaram substancialmente a forma com que lidamos com as informações e com o jornalismo.
Uma série de iniciativas brasileiras compreenderam esses processos e se dedicam a propagar a educação midiática como mecanismo de combate à desinformação. Conheça algumas delas:
- Redes Cordiais
Foi criada em 2018 a partir da percepção de uma escalada de violência e polarização política nas redes sociais e da disseminação de fake news.
O que faz? Atua na capacitação de influenciadores digitais por meio de educação midiática para tornar as mídias sociais um ambiente menos hostil para o debate público.
Nosso principal projeto é a capacitação de influenciadores digitais. Através deles, conseguimos falar com o maior número de pessoas em um curto espaço de tempo".
Clara Becker, fundadora do Redes Cordiais
Projetos. Nas eleições de 2022, o Redes Cordiais atuou em conjunto com o TSE na capacitação de influenciadores para combater a desinformação eleitoral.
Desde 2018, a organização calcula que já treinou mais de 250 influenciadores digitais que somam uma audiência de mais de 140 milhões de seguidores, entre eles estão a atriz Paolla Oliveira, o cantor Rogério Flausino e os comunicadores Raull Santiago e Rene Silva.
- Instituto Vero
Criada em 2020 a partir das discussões sobre o PL das Fake News (PL 2630/2020), o Instituto Vero é capitaneado pelo influenciador Felipe Neto e pelo CEO e diretor executivo Caio Machado.
A gente percebeu que havia uma grande assimetria de informações. Tanto por parte dos legisladores, que não estavam equipados com as melhores pesquisas, as informações técnicas, mas também o grande público que não tinha se apropriado ainda dessas questões que são áridas: algoritmos, proteção de dados, todos esses debates que são muito chatos, mas que na verdade afetam a vida de todo mundo que está conectado à internet".
Caio Machado, CEO do Instituto Vero
O que faz? Com foco em ações de comunicação para o público jovem, o Instituto propõe discussões sobre o uso saudável das redes sociais. Algumas dessas iniciativas são o curso online "fake dói", que oferece dicas e ferramentas para a checagem de fatos, e o podcast "curti, e daí?", que promove debates com estudantes de escolas públicas e particulares sobre a relação dos adolescentes com a internet.
A gente entende que os jovens são os nativos digitais, praticamente nasceram conectados à internet, estão imersos nisso o tempo todo e conseguem se apropriar dessas tecnologias de uma forma crítica".
Caio Machado
- Desinformante
Criado em 2021, o Desinformante se propõe a ser uma fonte de referências para as discussões sobre o combate à desinformação, a partir de jornalismo especializado e também com atuação política e institucional. A principal inquietação do projeto é que a desinformação não se resume às notícias falsas e não será solucionada apenas com checagem de fatos.
A desinformação é um problema estrutural, não é pontual nem simples".
Ana D'Angelo, editora do Desinformante
O que faz? O site elenca e explica saídas possíveis para combater o fenômeno da desinformação, como regulação das redes, educação midiática, checagem de fatos, acordos internacionais e a produção de desinformação com uso de inteligência artificial. A plataforma ainda indica referências para melhor compreensão de cada um desses pontos (veja aqui).
Nosso debate público está sendo travado nesses espaços. Se a gente quer sustentar a democracia em que a gente vive, a gente vai precisar ter essa discussão sobre o funcionamento dessas ferramentas e dessas novas tecnologias. Não tem muita saída, tem que enfrentar essa discussão".
Ana D'Angelo
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