Nunes Marques não apontou fraude em urnas; vídeo distorce fala do ministro
Uma publicação que circula nas redes sociais distorce um vídeo com uma fala do ministro do STF Kassio Nunes Marques para sugerir que ele teria apontado fraude nas urnas nas eleições presidenciais de 2022.
No vídeo, o ministro lê a transcrição de uma live do ex-deputado estadual Fernando Francischini (União-PR), cassado e tornado inelegível por propagar desinformação sobre o sistema eleitoral (aqui). A leitura ocorreu no julgamento no TSE (aqui) que tornou inelegível o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-SP) por atacar sem provas o sistema eleitoral em uma reunião com embaixadores transmitida pela TV pública.
O que diz o post?
"Isso é grave. Ministro Cássio (sic) Nunes lê texto que revela as fr4ld3s (sic). Explica isso TSE. Urnas adulteradas ou fraudadas", afirma um texto sobreposto à imagem
Nunes Marques aparece lendo seu voto. "Assim se iniciou a live do parlamentar: 'Urgente pessoal, acabamos de pegar o primeiro caso grave e já identificamos duas urnas que eu digo são urnas fraudadas ou adulteradas. Agora é real porque eu tô (sic) passando pra vocês. Eu tô com toda a documentação da própria Justiça Eleitoral. Um ato da mesa receptora da Justiça Eleitoral. É grave o que eu tô passando pra vocês todos. E nós estamos estourando isso aqui em primeira mão pro Brasil inteiro pra vocês. Urnas ou são adulteradas ou fraudadas e com a ajuda do juiz eleitoral e do promotor eleitoral (...) urnas ou são adulteradas ou são fraudadas e com a ajuda do juiz eleitoral e do promotor eleitoral. A gente está trazendo essa denúncia gravíssima antes do final', disse o parlamentar".
Na sequência, ele segue a leitura do voto, agora comentando o discurso de Francischini e fazendo um paralelo com o de Bolsonaro. "Na fala do deputado não tem cogitação, hipóteses ou dúvidas a respeito do processo eleitoral, mas a descrição de fatos que não deixa espaço para outra conclusão que não a existência de fraude eleitoral. Ainda que se admita que as falas se equivalem e, via de consequência, que o evento com embaixadores promovido pelo ex-presidente era de cunho eleitoral em seu sentido estrito, mister seria avaliação da gravidade da conduta frente ao cargo em disputa."
Por que é distorcido?
A postagem tira a fala de contexto. A leitura do voto de Nunes Marques durou 48:55 (confira aqui a íntegra) . O ministro citou o discurso falso de Francischini sobre as urnas para fazer uma comparação com o de Bolsonaro. O trecho usado no vídeo distorcido vai de 37:20 a 30:47. A menção ao deputado no entanto começa em 37:09. Veja:
"Assim se iniciou a live do parlamentar". A frase dita pelo ministro, e que aparece no vídeo distorcido, reforça o contexto verdadeiro da fala, que repete o discurso falso de Francischini.
Nunes Marques, que votou contra a inelegibilidade de Bolsonaro (aqui), cita a fala do ex-deputado para diferenciar os casos de Francischini e Bolsonaro. Nunes Marques justifica seu voto pela absolvição do ex-presidente ao alegar que Francischini fez uma live no dia da eleição, enquanto Bolsonaro o fez antes do pleito.
O post tem erros de grafia, elemento comum em desinformações. A palavra fraude e o primeiro nome do ministro, Kássio, estão escritos incorretamente.
Não há comprovação de fraude no sistema eleitoral brasileiro desde o início da utilização das urnas eletrônicas, em 1996.
O UOL Confere aplica o selo distorcido a conteúdos que usam informações verdadeiras em contexto diferente do original, alterando seu significado de modo a enganar e confundir quem os recebe.
Viralização. A postagem teve mais de 3 mil curtidas, 384 comentários e 1,2 mil compartilhamentos no Kwai até o dia 13 de julho.
O post também foi checado por Aos Fatos.
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