Inteligência artificial: deepfake já foi usada em eleições pelo mundo

Com o avanço da tecnologia, as deepfakes vêm tornando-se uma ferramenta cada vez mais utilizada em campanhas eleitorais. A técnica é usada para disseminação de informações falsas e já foi utilizada em pleitos na Argentina, nos Estados Unidos e no próprio Brasil.

Na última terça-feira (27), o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aprovou 12 resoluções que proíbem o uso de deepfakes e regulamenta o uso de inteligência artificial (IA) nas eleições municipais deste ano.

IA nas eleições

Tecnologia pode ser usada de forma correta. A IA tem o potencial de baratear o custo das campanhas eleitorais e acelerar a produção de peças publicitárias. É possível, por exemplo, traduzir a fala de um candidato para outras línguas ou criar um avatar de libras.

AI também poder ser perigosa. Entretanto, também há o risco de a ferramenta ser utilizada para a propagação da desinformação contra adversários políticos, como por meio da deepfake.

O que é deepfake? É uma técnica que utiliza IA para copiar vozes e rostos para simular falas e ações de pessoas, dificultando a distinção entre o real e o falso. No caso das eleições, é possível produzir vídeos realistas em que candidatos aparecendo falando ou fazendo coisas que nunca disseram ou fizeram.

Regulamentação de IA

O TSE vetou o uso de deepfake e criou restrições ao uso de IA na propaganda durante as eleições municipais de 2024. O descumprimento das regras pode levar à cassação do registro ou mandato. Entre as determinações, está a obrigação de aviso sobre o uso de IA na propaganda eleitoral e a restrição do emprego de robôs para intermediar contato com o eleitor.

A resolução do TSE também impõe obrigações aos provedores de internet e às plataformas digitais. Eles devem retirar do ar — imediatamente — conteúdos com desinformação, discurso de ódio, ideologia nazista e fascista, antidemocráticos, racistas e homofóbicos.

Casos de deepfake em eleições foram registrados recentemente; veja alguns deles:

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Argentina

Candidato usando droga. No ano passado, durante as eleições presidenciais, grupos de direita e integrantes do partido de Javier Milei, La Libertad Avanza, compartilharam nas redes sociais um vídeo em que o adversário Sérgio Massa aparece supostamente consumindo cocaína.

Posteriormente, o peronista desmentiu a peça. Segundo reportagem do UOL, as imagens circulam desde 2016 nas redes sociais e foram manipuladas com a sobreposição do rosto de Massa ao da pessoa da gravação original.

Sergio Massa foi alvo de deepfake durante as eleições na Argentina
Sergio Massa foi alvo de deepfake durante as eleições na Argentina Imagem: LUIS ROBAYO/AFP

Estados Unidos

Em janeiro deste ano, o presidente Joe Biden também foi alvo de uma deepfake. Um áudio simulando a voz do líder norte-americano circulou no estado de New Hampshire às vésperas das primárias estaduais, pedindo que os membros do Partido Democrata ficassem em casa.

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"É importante que você guarde seu voto para a eleição de novembro... Votar nesta terça-feira apenas ajudará os republicanos em sua tentativa de eleger Donald Trump novamente", dizia o áudio. Na época, a direção da campanha de Biden afirmou que a gravação era falsa e uma tentativa de atrapalhar o resultado da eleição.

Áudio que reproduzia a voz de Joe Biden pedia para democratas não votarem em primárias
Áudio que reproduzia a voz de Joe Biden pedia para democratas não votarem em primárias Imagem: Saul Loeb/AFP - 25.out.2023

Brasil

A apresentadora Renata Vasconcellos, do Jornal Nacional, protagonizou a primeira deepfake das eleições presidenciais de 2022. Na peça desinformativa, a voz da jornalista foi usada para anunciar uma falsa pesquisa de intenção de votos.

Vasconcellos anunciava que Jair Bolsonaro (PL) liderava a disputa com 44% de intenção de votos, enquanto Lula (PT) aparecia em segundo lugar, com 32%. Entretanto, os resultados eram falsos. O vídeo era uma montagem que alterou a edição do telejornal do dia 15 de agosto daquele ano, conforme a colunista Cristina Tardáguila do UOL.

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Paquistão

Antes das eleições gerais, em fevereiro, um vídeo com o áudio falsificado, por meio de IA, do ex-primeiro-ministro Imran Khan passou a circular nas redes sociais. Na peça adulterada, o líder, que foi condenado a 10 anos de prisão por vazamento de segredos de Estado, e membros de seu partido pediam boicote às eleições gerais.

Eslováquia

Em meio a uma eleição acirrada, em outubro de 2023, um áudio fruto de deepfake que viralizou nas redes sociais influenciou o rumo da votação. Na suposta gravação, o líder do partido liberal Michal Simecka e a jornalista do Denník N, do jornal Monika Tódová, pareciam estar discutindo maneiras de fraudar as eleições, o que se provou falso. O áudio manipulado começou a circular dois dias antes do pleito.

O que dizem os especialistas sobre as consequências da deepfake

Em 2024, vamos ter eleições em mais de 60 países do mundo, em democracias com muitos eleitores, que é o caso dos Estados Unidos, da Indonésia, da Índia, do México e do Brasil. Então, parece ser uma tempestade perfeita justamente para se verificar o efeito dos deepfakes nas eleições. Existe uma preocupação muito concreta de que o uso indiscriminado ou criminoso das deepfakes possa realmente alterar o resultado das eleições.
Solano de Camargo, presidente da Comissão de Privacidade, Proteção de Dados e Inteligência Artificial da OAB SP

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A desinformação não tem a força para mudar o voto das pessoas [no Brasil]. Isso não quer dizer que a desinformação não muda a opinião das pessoas sobre temas [...] como a vacina. Mas estamos falando de política, de eleição e de voto em uma sociedade profundamente polarizada
Nara Pavão, cientista política e professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)

Em geral, as pessoas têm um lado e cada vez mais o contingente de pessoas que não ligam para política --que são aquelas que poderiam ser influenciadas pelas notícias falsas-- está menor. Então, o que espera é que essa desinformação não altere o voto e, portanto, não altere o resultado das eleições
Nara Pavão

A gente não pode esquecer que as eleições esse ano são municipais. Então são mais de 5.500 municípios que envolve questões familiares, econômicas, religiosas, de tradição, de questões. A polarização [Lula x Bolsonaro] é muito mais diluída. Nas eleições agora pulverizadas com o fenômeno das deepfakes, eu acho que o efeito [no voto dos eleitores] será assim muito significativo.
Solano de Camargo

Fabíola Cidral conta como reconhecer logo de cara uma fake news

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