Confira os erros de Nunes, Boulos, Marçal, Tabata e Datena nas sabatinas
Durante duas semanas, o UOL e Folha de S.Paulo promoveram uma série de sabatinas com os candidatos à Prefeitura de São Paulo. As declarações dos cinco candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de votos foram verificadas pelo UOL Confere.
Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB) fizeram afirmações imprecisas, exageradas, distorcidas ou falsas. Confira as checagens:
Ricardo Nunes
Só de UPA, eu entreguei 18.
EXAGERADO. O UOL Confere não localizou as 18 unidades que Nunes alega ter entregue. Procurada, a assessoria de imprensa da campanha repassou uma lista de 18 UPAs [Unidades de Pronto Atendimento] que teriam sido inauguradas na gestão do prefeito. Ao ser questionada sobre algumas inconsistências, a campanha orientou que a reportagem procurasse a Secretaria Municipal da Saúde. A pasta, então, forneceu uma nova lista. Entretanto, em três casos foram encontradas inconsistências.
A UPA Jabaquara foi entregue em abril de 2020 pela gestão do então então prefeito Bruno Covas (aqui), em que Nunes ainda era vice. Ele só assumiu em maio do mesmo ano (aqui). A UPA 24h Vera Cruz, por sua vez, foi inaugurada em 2018 pelo então prefeito João Doria (aqui). A secretaria disse que Nunes entregou uma "ampliação da unidade".
Já a UPA Santo Amaro foi originalmente lançada em 2018 por Bruno Covas. Em junho de 2024, contudo, a unidade passou a funcionar em novo endereço e com maior capacidade de atendimento, tendo sido esta mudança inaugurada por Nunes (aqui).
Ideb, sim. Nós estamos com 0,2% [sic], a maior na média das capitais no ensino final. E estamos com 0,2 menor no ensino inicial. Realmente a gente precisa melhorar a questão no ensino inicial. Com relação à comparação das capitais, nós estamos 0,8 ponto acima, por exemplo, da cidade que é administrada pelo PSOL. Nós estamos com 5,8 e a cidade que é administrada pelo PSOL, 5.
IMPRECISO. A nota do Ideb 2023 da cidade de São Paulo nos anos iniciais foi de 5,6, e não 5,8 como afirma Nunes (aqui e aqui - linha 9953). Já nas edições anteriores, o indicador ficou em 5,7 (em 2021) e 6 (em 2019). Já a "cidade administrativa pelo PSOL", que no caso é Belém, a nota ficou em 5 na última avaliação (aqui e aqui - linha 502). Ou seja, a diferença é de 0,6 ponto, e não 0,8. Os dados são do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
Eram 4.000 [usuários de drogas na "cracolândia"] na época do PT. Hoje, tem em torno de 900.
IMPRECISO. O método para medir o número de usuários na região da "cracolândia" é impreciso. Desde 2017, a prefeitura usa imagens feitas por drones. Porém, o sistema monitora apenas em dois períodos: das 9h às 10h e das 15h às 16h. Além disso, a própria prefeitura diz que a estimativa pode ser prejudicada por árvores e barracas (aqui).
A última gestão do PT à frente da Prefeitura de São Paulo (Fernando Haddad) terminou em 2016. No ano seguinte, uma pesquisa da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de São Paulo apontou que o fluxo havia crescido 160% nos meses de abril e maio de 2017 em comparação aos mesmos meses de 2016. Na época, o levantamento, que já englobava parte da gestão de João Doria (PSDB), constatou uma média de 1.861 pessoas frequentes no fluxo (leia aqui). Ou seja, um número bem menor do que os 4.000 citados por Nunes.
Em março deste ano, reportagem do G1, citando dados da prefeitura, apontou que o "fluxo" da "cracolândia" havia crescido em relação ao mesmo mês de 2023. Alta de 44,3% no período da tarde e 17,4% pela manhã (leia aqui). Já reportagem da Folha, de junho deste ano, apontou redução de 600 usuários para 400 no período da tarde (leia aqui).
O BRT Radial Leste fiquei mais de um ano para poder licitar. Agora que licitei, dei ordem de início. Mais de um ano.
IMPRECISO. Nunes deu a declaração quando comentava sobre a burocracia para realizar obras na capital paulista. A licitação do BRT Radial Leste foi lançada em dezembro de 2022 (leia aqui). No mês seguinte, o TCM (Tribunal de Contas do Município) suspendeu o processo por suspeita de sobrepreço. Mas o órgão liberou a licitação em junho de 2023, ou seja, seis meses depois, e não um ano (leia aqui).
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Quero receberGuilherme Boulos
Nós temos já um instrumento aqui na cidade de São Paulo, que é a Patrulha Guardiã Maria da Penha. Essa patrulha na Guarda Civil Metropolitana foi criada durante a gestão do Fernando Haddad. Hoje ela está esvaziada, é vergonhoso. Até o início do ano eram oito viaturas... Para cobrir uma cidade de 12 milhões de habitantes.
IMPRECISO. Até 2023, havia apenas nove viaturas a serviço da patrulha. Ano passado, o programa passou a contar com 14 veículos, segundo registro no site da prefeitura (leia aqui). Já este ano, até o momento, são 24 viaturas disponíveis, de acordo com a assessoria de imprensa da gestão municipal.
De fato, a Patrulha Guardiã Maria da Penha foi criada durante a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) (leia aqui). O projeto teve início em 2014. Haddad governou a cidade de São Paulo de 2013 a 2016.
Pablo Marçal
R$ 1 bilhão é destinados para ONGs que estão ajudando nisso [tirar gente das ruas na Cracolândia]. Só que tem ONG, tipo a Craco Resiste, que recebe dinheiro público para manter [as pessoas na rua], para fazer esse negócio continuar.
FALSO. A Craco Resiste não recebe recursos públicos. A alegação já foi verificada anteriormente pelo UOL Confere (leia aqui). A organização é, na verdade, um coletivo, não possui CNPJ, e segundo um integrante disse ao UOL Confere não se estrutura como ONG ou OS. O coletivo promove atividades culturais na Cracolândia (aqui).
Não há nenhum registro de que o grupo tenha recebido recursos no portal da Prefeitura de São Paulo. Ao UOL Confere, a prefeitura também confirmou que não mantém convênio com o coletivo.
O UOL Confere procurou a assessoria de Pablo Marçal para esclarecer a afirmação, mas não obteve retorno.
E o que a gente vai ensinar que a esquerda pira e surta é educação financeira. Como o próprio presidente Lula falou num comício aqui em São Paulo. Se a pessoa ganha mais de R$ 4.000 por mês, ela tem uma renda superior a R$ 4.000, ela para de votar [no PT].
DISTORCIDO. Marçal faz referência a um discurso de Lula realizado em dezembro de 2023. Porém, o presidente não disse que a esquerda é contra educação financeira ou, como sugere Marça, que as pessoas ganhem dinheiro (aqui). Lula deaclarou que o PT precisava fazer uma autoreflexão sobre o perfil do eleitorado, formado majoritariamente por pessoas que recebem até dois salários mínimos - que na época ficava em R$ 2.640. Na sequência, Lula deu um exemplo. "Um metalúrgico de São Bernardo, que ganha R$ 8 mil, já não quer mais votar na gente. Pega a pesquisa e vocês percebem que quem ganha acima de cinco salários mínimos já tem dificuldade de votar na gente" (veja aqui e abaixo). Na época, cinco salários mínimos equivaliam a R$ 6.600.
Tem mais homicídio no Brasil do que países que estão em guerra. A gente já chegou a ter 70 mil homicídios no ano. Se você olha para o Japão, que é um povo que trabalha essa questão socioemocional, a gente tem 900 ou 800 do Japão no ano.
IMPRECISO. O dado sobre o número de mortos no Brasil existe, mas é de uma organização internacional. Segundo a Small Arms Survey, em 2016, o país registrou 70 mil homicídios (leia aqui). Já segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, considerado como referência, em 2016 foram registrados mais de 61 mil homicídios no Brasil (confira aqui). Desde 2011, início da série histórica da organização, o maior número de assassinatos foi registrado em 2017, com 64 mil mortes. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, responsável pelo relatório, utiliza dados das secretarias de Segurança Pública dos estados.
Açúcar vicia dez vezes mais do que a cocaína.
INSUSTENTÁVEL. Não há evidências científicas conclusivas que mostrem que o açúcar tem capacidade para viciar mais que a cocaína (aqui). Uma análise de estudos realizados até 2016 (aqui em inglês), feita por pesquisadores da Universidade de Cambridge (Reino Unido), indicou que há poucas evidências para sustentar a afirmação (aqui, em inglês). "Dada a falta de evidências que o sustentem, argumentamos contra uma incorporação prematura do vício em açúcar na literatura científica e nas recomendações de políticas públicas", concluíram três pesquisadores na revisão. Há, de fato, um estudo feito em 2016 (aqui, em inglês) por pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, que mostra que as duas substâncias acionam a mesma região do cérebro conhecida por sistema de recompensas. Porém, o estudo não mostra que o açúcar vicia dez vezes mais em relação à cocaína. Além disso, a pesquisa foi feita em ratos, não sendo replicada em humanos, o que torna o estudo questionável por outros pesquisadores.
Tabata Amaral
O prefeito Ricardo Nunes abriu mão nesses três anos de quase R$ 5 bilhões que deveriam ir para a educação por conta do mínimo constitucional. Ele está respondendo sobre isso no Tribunal de Contas.
FALSO. Ao contrário do que disse a candidata, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) não está "respondendo" no TCM (Tribunal de Contas do Município) por gastos com educação. Todas as contas da prefeitura durante sua gestão tiveram parecer favorável do órgão.
O que aconteceu foi que, em 2022, uma auditoria do TCM detectou que o governo Nunes não havia cumprido o mínimo constitucional em investimento em educação para o ano anterior (aqui).
Segundo a avaliação, a prefeitura teria empenhado R$ 1,5 bilhão nos últimos dias do ano, o que fez a quantia ser incluída como "restos a pagar não processados" do ano de 2021. Essa manobra fez com que os 25% do mínimo constitucional para a educação fossem atingidos (leia aqui), o que foi apontado como uma espécie de "pedalada".
No entanto, isso se tratava de um relatório do TCM. Na hora do julgamento, ou seja, a decisão definitiva dos conselheiros do TCM, o assunto foi favorável às contas da prefeitura para o exercício de 2021 (leia aqui). Ao UOL Confere, a assessoria do tribunal afirmou que o valor de R$1,5 bilhão foi considerada para atingir o percentual mínimo de gastos em educação.
"No contexto dessa análise, foi considerado o cômputo de 1,4 bilhão referente a restos a pagar não processados para o alcance do percentual mínimo de 25% de gastos em educação, notadamente diante do aumento da receita ocorrida no Município de São Paulo em período pós-pandêmico", afirma o TCM.
As contas da gestão de Ricardo Nunes de 2022 e 2023 também tiveram parecer favorável do tribunal (aqui).
Ao UOL Confere, a assessoria de imprensa de Tabata alegou que, apesar da aprovação das contas pelo TCM, os relatórios do órgão emitem recomendações que questionam a prática da inscrição de restos a pagar não processados para o cumprimento do mínimo constitucional.
"Ainda, o órgão aponta para o fato de que parte dos recursos inscritos nos restos a pagar tem sido cancelados. Ou seja, não há qualquer tipo de inconsistência em apontar a dificuldade da gestão Nunes de execução dos recursos constitucionalmente reservados para a educação", afirma.
A equipe da candidata disse também que há um processo em aberto no TCM que questiona a regularidade das contas de Nunes em educação no valor de R$ 5 bilhões. Procurado novamente, o TCM informou que não conseguiu identificar esse processo nem confirmou esse valor.
José Luiz Datena
A gente [São Paulo] já paga R$ 22.000 por aluno. Sabe quanto paga o Ceará, que está muito melhor qualificado que a gente? R$ 5.000 por aluno. O Rio de Janeiro, R$ 8.000 e consegue índices de alfabetização que não conseguia há muito tempo.
IMPRECISO. Os gastos por aluno nessas três cidades são diferentes dos declarados por Datena. Em São Paulo, ficou em R$ 20.459,82 no ano passado. Já o Rio de Janeiro desembolsa R$ 10.198,92 por aluno, enquanto Fortaleza, capital do Ceará, gasta R$ 10.959,18. (aqui e aqui - na aba "Orçamento - investimento").
De 13 mil ônibus, 380 são ônibus elétricos.
IMPRECISO. De fato, há 13.281 ônibus na capital paulistana, segundo dado de agosto deste ano (aqui). Porém, o número de coletivos elétricos é maior do que o informado por Datena. Em nota ao UOL Confere, a SPTrans informou que a frota é composta por 408 veículos movidos a energia elétrica. Desses, 201 são trólebus e 207 a bateria.
Para um estado [São Paulo] que não atinge nem 7% da meta de 25% de escolas em período integral.
IMPRECISO. Apesar de ter dito "estado", Dantena depois deixou claro que se referia à capital paulista ao dizer que acha "que São Paulo é um estado dentro de um estado". Sobre o dados, ao contrário do que disse o candidato, a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é de "oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos(as) alunos(as) da educação básica" até 2024 (leia aqui). Ou seja, a meta é de 50% das escolas, e não 25%, porcentagem esta que se refere aos alunos.
Já o 7% citados pelo candidato está perto da realidade, se não levar em conta as creches. Segundo dados levantados pela ONG Todos pela Educação, na média, 38% das matrículas na rede municipal de São Paulo são de alunos em tempo integral (aqui). Nas creches, esse número chega a 100%. Nos demais segmentos as porcentagens são: pré-escola (11%), anos iniciais (8%) e anos finais (4%).
Já o Censo Escolar 2023 (aqui) traz outros dados. Sem contar as creches, o percentual de alunos em tempo integral é de 5,7%. De acordo com os dados as porcentagens são: pré-escola (4,4%), anos iniciais (7,8%), anos finais (4,2%) e ensino médio (39,2%).
Brasil foi o penúltimo país do mundo a acabar com a escravidão. O último foi Macau.
FALSO. A abolição da escravidão no Brasil ocorreu em 1888 (aqui), mas o país não foi o penúltimo do mundo a fazer isso nem Macau foi o último. O último foi a Mauritânia, em 1981 (aqui). O penúltimo foi a Arábia Saudita em 1962, e antes o Marrocos em 1956. O Brasil foi o último país no Ocidente a adotar e medida (aqui).
Ele [Marçal] já teve registro indeferido de candidato a presidente da República e deputado mais ou menos por esse tipo de coisa [suspeita no financiamento da campanha]
IMPRECISO. Pablo Marçal teve o registro de candidatura indeferido pelo TSE quando tentou concorrer à Presidência e a deputado federal em 2022, mas não por causa de financiamento de campanha. O indeferimento da sua campanha presidencial ocorreu porque os ministros consideraram válida a anulação da convenção partidária do então Pros que escolheu Marçal como candidato. O partido retirou a candidatura dele. Em seguida, ele tentou concorrer a deputado federal, e o motivo do indeferimento foi também questões referentes a escolha da candidatura dele pelo partido.
Marçal, no entanto, é investigado por lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e apropriação indébita eleitoral por causa da sua candidatura à presidência em 2022. Segundo a PF, ele e seu sócio, Marcos Oliveira, fizeram doações de R$ 1,7 milhão à campanha e usaram esses recursos para contratar serviços de suas próprias empresas.
Ele também teve as contas da sua candidatura a deputado federal reprovadas pelo TRE-SP.
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