'Sentimos a morte de nossos filhos novamente', diz mãe de jovem morto em boate em Buenos Aires em 2004
Os pais das vítimas do incêndio que matou 194 jovens na boate Cromañon, em Buenos Aires (Argentina), em 2004, se solidarizaram neste domingo (27) com os familiares da tragédia em Santa Maria (RS).
As semelhanças com o acidente na casa noturna Kiss - saídas insuficientes e inicialmente fechadas, explosivos e material inflamável no local, problemas com o alvará de funcionamento e público jovem - também despertaram memórias e reativaram a dor destes argentinos.
“Com a morte de cada jovem, sentimos a morte dos nossos filhos novamente. Estendemos nossa solidariedade a nossos queridos irmãos brasileiros e mandamos um abraço à distância de 194 famílias que já passaram por isso”, disse, muito emocionada, Cristina Bernasconi, mãe de Nicolas Landoni, 22, morto na noite de 30 de dezembro de 2004.
Ela redigiu um comunicado da associação Que Não se Repita, formada pelos familiares das vítimas do acidente, em que destacava que “o homem é o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra”.
José Antonio Iglesias, pai de Pedro Iglesias (19), é presidente do grupo e advogado de acusação da causa, que no dia 20 de dezembro levou para a cadeia 14 réus.
Ele conta que se sente revoltado com mais uma tragédia, depois de outras tantas com os mesmos ingredientes em países vizinhos: “A morte de jovens deveria ser um ponto final. É uma ofensa para eles, como se sua vida não tivesse servido para nada”.
Miriam Araneda, mãe de Leonardo David Chaparro (14), também disse que neste domingo sentiu que a morte de seu filho foi em vão.
Ansiosa, mas ainda sem saber como ajudar os parentes dos jovens de Santa Maria, ela conta que parte da associação foi ao Paraguai se solidarizar com pais e mães que perderam filhos em outra tragédia semelhante em mais um país vizinho. Em agosto de 2004, um incêndio matou 400 pessoas em um supermercado da capital Assunção.
Ela afirmou que, tanto para essa viagem, como para qualquer outra ação do grupo, e mesmo imediatamente após o incêndio no Cromañon, não houve apoio dos governos nacional e de Buenos Aires e elogiou a atuação da presidente Dilma Rousseff neste domingo. “Na época, o Estado não nos ajudou nem com os gastos dos enterros de algumas vítimas. No Brasil, pelo menos a presidente teve a sensibilidade de voltar do Chile”.
Depois da tragédia do Cromañon, Miriam e o marido tiveram três infartos cada um e seguem sob tratamento cardiológico e psicológico.
Mobilização
Ao falar da rede de solidariedade estabelecida entre parentes de vítimas de acidentes semelhantes em países do continente, Iglesias critica a globalização meramente econômica da América do Sul e convoca uma união também pautada nestas experiências comuns.
“Quando estes pais possam se restabelecer minimamente queremos fazer algum tipo de contato com eles. Somos países jovens que matam jovens. Fomos afetados pelos mesmos problemas e podemos reagir todos juntos. O negócio da noite é um negócio corrupto. Se não reagirmos juntos, vai continuar acontecendo”, afirma, lembrando que o incêndio no Paraguai, quatro meses antes do acidente no Cromañon, ao final não serviu de sinal de alerta para evitar a tragédia em Buenos Aires.
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