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Por vinda do papa, PM ocupa favelas da zona sul do Rio para instalação de UPP

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

29/04/2013 05h40Atualizada em 29/04/2013 12h43

Em 30 minutos, policiais militares ocuparam na manhã desta segunda-feira (29) as favelas do Cerro-Corá, Guararapes e Vila Cândido, na zona sul do Rio, para dar início à instalação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na região. Esta será a 33ª UPP da cidade.

A favela do Cerro-Corá, próxima a um dos principais pontos turísticos do Rio, o Cristo Redentor, e possivelmente parte do roteiro da visita do papa Francisco ao Rio de Janeiro por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, "furou a fila" no processo de implantação de UPPs em comunidades cariocas. O evento será realizado entre 23 e 28 de julho.

O relações públicas da PM, Frederico Caldas, confirmou que a questão da vinda do papa influenciou a ocupação da favela. "Indiscutivelmente, a jornada vai fazer com que o fluxo de pessoas aumente ainda mais, inclusive com a presença do papa. Sem dúvida alguma, a ocupação favorece ainda mais a segurança agora por conta do encontro dos jovens com o papa", disse.

De acordo com o COE (Comando de Operações Especiais) da Polícia Militar, cerca de 420 homens do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), do Batalhão de Choque, do Grupamento Aeromóvel e do Batalhão de Ações com Cães participam do processo de implantação da UPP na região.

Clique na imagem para ver o mapa das UPPs no Rio

  • Arte/UOL

A operação, que começou às 5h, é realizada na favela do Cerro-Corá e nas comunidades dos Guararapes e da Vila Cândida, no Cosme Velho. De acordo com o Instituto Pereira Passos (com base no censo do IBGE de 2010), 2.803 pessoas vivem nessas comunidades.

O carro blindado da polícia, conhecido como caveirão, e um helicóptero da PM dão apoio nos trabalhos. Até as 9h30, haviam sido apreendidos em um terreno baldio três tabletes de maconha, três radiotransmissores com carergadores e baterias e grande quantidade de munição para pistolas e fuzis.

Frederico Caldas afirmou ainda que as três favelas eram dominadas pela facção criminosa Comando Vermelho e serviam de refúgio para os criminosos.

"Não é uma comunidade com histórico de criminosos armados. Era mais uma comunidade onde eles se escondiam", detalha. Ainda de acordo com ele, roubos a transeuntes a bordo de motos e de veículos eram os crimes mais frequentes na localidade.

Frederico Caldas informa que esta ocupação "praticamente fecha a zona sul", ao explicar que todas as favelas da região foram ocupadas pela polícia. 

Uma unidade móvel do Instituto de Identificação Félix Pacheco foi instalada próximo ao Cerro-Corá para realizar a identificação biométrica e facilitar a identificação de possíveis criminosos. A Polícia Civil disponibilizou também um ônibus itinerante da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam). Apreensões e suspeitos detidos serão encaminhados à 9ª DP (Catete).

Veja onde fica a comunidade do Cerro-Corá

  • Arte/UOL

A previsão é que no fim de maio seja instalada uma UPP na localidade, onde cerca de 190 homens da polícia devem atuar de forma permanente. A política de ocupação prevê que até a Copa do Mundo de 2014, o Rio de Janeiro conte com 40 UPPs em funcionamento e que todas as favelas da cidade estejam ocupadas em 2016, quando a cidade organizará os Jogos Olímpicos.

Visita do papa

Segundo o coordenador de segurança da Jornada Mundial da Juventude no âmbito da Sesge (Secretaria Extraordinária de Segurança de Grandes Eventos), coronel Paulo Cruz, que acompanhou as vistorias feitas pelo chefe do departamento de viagens internacionais do Vaticano, o italiano Alberto Gasbarri, durante esta semana, há uma lista de comunidades pacificadas --Complexo de Manguinhos (Manguinhos, Mandela e Varginha), Jacarezinho, Mangueira e Tuiuti, todas na zona norte-- que podem receber o papa Francisco em evento paralelo aos atos centrais da Jornada Mundial da Juventude.

A escolha já teria sido feita pelos organizadores do evento, mas a revelação só será feita no dia 7 de maio. "A escolha segue critérios técnicos. Existe uma ordem preferencial. Só não dá para dizer que foi 100% porque ainda falta a posição do Vaticano", disse o coronel.

"Nós visitamos várias comunidades e priorizamos a nível de segurança. Já temos essa pré-definição. O que eu posso falar nesse momento é que se trata de uma comunidade pacificada. Para que ele possa fazer o seu trabalho sem risco, levar a sua palavra para as pessoas. Entrar e sair com segurança dessa comunidade", afirmou.

Cruz disse ainda que a logística de segurança para a visita do pontífice a uma comunidade da capital fluminense envolve questões como a mobilidade, o posicionamento de atiradores nas lajes das casas e a análise de indicadores do ISP (Instituto de Segurança Pública). Também foi levada em consideração a existência de projetos da Igreja Católica no interior das comunidades.

Cristo Redentor

Cruz confirmou ao UOL que há a possibilidade de o papa ir ao Cristo Redentor, ponto turístico localizado próximo à comunidade que será ocupada nesta semana. No entanto, antes que qualquer decisão seja tomada, ainda é necessário concluir o trabalho de avaliação de riscos em relação a principal cartão postal do Rio.

"Iniciamos uma avaliação de todos os pontos nos quais havia a possibilidade [de presença do papa]. Boa parte desse trabalho ainda não foi concluído. Há muitos critérios. Projeta-se uma crise em cima desses indicadores e, dependendo do resultado, classifica-se como risco baixo, médio ou alto", disse.

"Não é simplesmente ir lá e dar uma olhada", completou o general Paulo Cruz.

UPPs

As duas últimas UPPs da cidade foram inauguradas no Caju e na Barreira do Vasco e Tuiuti, localidades com cerca de 26 mil habitantes cortadas pela avenida Brasil e pela Linha Vermelha, duas das principais vias expressas da cidade. Ao todo, as duas novas UPPs abrangem 15 comunidades, 13 delas no Caju.

A próxima comunidade na fila seria o Complexo da Maré, na zona norte, que agora deve ficar para o segundo semestre deste ano. Com cerca de 130 mil moradores, a Maré é rota obrigatória para quem chega ao Rio pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim e precisa se deslocar em direção ao centro ou à zona sul. (Com agências)