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Papa foi "sutil" ao reforçar dogmas da Igreja durante visita ao Rio, diz especialista

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

29/07/2013 06h00

Em sua primeira viagem internacional, no Rio de Janeiro, o papa Francisco mostrou vigor, inteligência e sutileza ao discursar para milhares de jovens de diferentes países no sentido de reforçar dogmas defendidos pela Igreja Católica, a exemplo do "sacramento do matrimônio". A opinião é do padre José Antônio Trasferetti, doutor em teologia moral pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas.

O chefe de Estado do Vaticano e líder máximo da Igreja Católica Apostólica Romana, que esteve na capital fluminense para a Jornada Mundial da Juventude, entre os dias 22 e 28 de julho, gerou um "efeito midiático" extremamente positivo para a Igreja Católica, na visão de Trasferetti.

O padre afirmou que a natureza "humilde" do pontífice --traduzida em gestos como os deslocamentos de carro simples, a visita a Varginha, favela da zona norte do Rio, e a simplicidade para com o povo brasileiro-- pode ser analisada com duplo viés: espontaneidade e publicidade.

Trabalho de assessoria para ambientar o papa foi "ótimo"

Ao mesmo tempo em que houve, segundo o teólogo, ótimo trabalho de assessoria, fazendo com que o santo padre utilizasse expressões como "colocar mais água no feijão", por exemplo, e fugisse de temas polêmicos em época de efervescência social e política no país, a simpatia de Francisco seria uma característica pessoal do argentino Jorge Mario Bergoglio.

"A presença dele aqui no Brasil foi 'light'. Ele esteve leve, brincalhão e comunicativo, mas evitou temas polêmicos. Ele foi o "paizão" que veio para abraçar e beijar o povo. Mas a passagem dele não teve uma substância mais profunda. Isso se deve ao fato de que o Brasil passa por um momento político complicado. E também foi a primeira viagem internacional", opinou Trasferetti.

"É claro que ele foi bem assessorado. Ele sabe que os gestos contam mais do que os discursos. Quando ele cumprimenta uma pessoa idosa ou beija uma criança, a imagem vai para o mundo. Mas não é só estratégia de comunicação. Esse também é o jeito dele. Quando ele era arcebispo de Buenos Aires, ele anda de ônibus, visitava favelas, enfim, também se mostrava uma pessoa humilde", completou.

Francisco evitou radicalismos, mas reforçou teses caras aos católicos

O teólogo entende ainda que o pontífice tentou reforçar pontos de vista defendidos pela Igreja Católica, porém o fez sem radicalismos, evitando assim a criação de uma imagem autoritária, que, para o padre, era anteriormente atribuída a Bento 16 pela sua filosofia essencialmente teórica.

Exemplo disso foi o discurso do santo padre para os jovens voluntários que trabalharam na Jornada Mundial da Juventude, quando ele fez considerações sobre o casamento, e pediu que a juventude se "rebelasse" contra a "cultura do provisório".

"Ele fez um discurso muito interessante e estratégico. Utilizou palavras como rebeldia, revolução, provisório. Na verdade, ele estava tentando guiar os jovens na direção contrária do movimento 'laicista', do sexo fácil, da cultura transitória. Ele está pedindo que a juventude se oponha a isso. Reforçando a doutrina cristã em prol do casamento, em prol do não uso de pílulas. Nesse sentido, ele é conservador. Não se espera que ele mude a doutrina", disse.

"Mas ele fez isso tudo de uma forma sutil. Essa é a palavra. Ele estimulou o debate, o estudo, a discussão, para que os jovens sejam protagonistas de eventuais mudanças, e aprofundem discussões que podem proporcionar essas mudanças mais mudanças. Ele está realmente preparando a juventude. (...) A postura dele em relação a temas morais de ordem sexual e comportamental ainda é muito conservadora", completou.

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