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Busca por corpo de Amarildo na Rocinha termina sem sucesso

Cerca de 30 policiais da Divisão de Homicídios, com auxílio de 40 bombeiros, realizaram buscas pelos restos mortais do pedreiro Amarildo - Gustavo Maia/UOL
Cerca de 30 policiais da Divisão de Homicídios, com auxílio de 40 bombeiros, realizaram buscas pelos restos mortais do pedreiro Amarildo Imagem: Gustavo Maia/UOL

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

11/10/2013 09h46Atualizada em 11/10/2013 17h50

Depois de passarem quatro horas e meia no matagal da favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, policiais civis da DH (Divisão de Homicídios) do Rio encerraram na tarde desta sexta-feira (11) as buscas pelo corpo do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, sem conseguirem encontrar nada. A procura pelos restos mortais do morador da comunidade começaram às 10h e contaram com 30 policiais civis e 40 homens do Corpo de Bombeiros, além de cães farejadores.

Segundo denúncia do Ministério Público, Amarildo morreu após ser torturado por PMs dentro da base da unidade, localizada no alto da comunidade, em uma região conhecida como Portão Vermelho, no dia 14 de julho. Dez policiais foram presos no dia 4 sob acusação de tortura, homicídio e ocultação de cadáver.

Os trabalhos começaram na represa do Laboriaux. A represa, com seis metros de profundidade, foi esvaziada há dois dias, a pedido da Polícia Civil. O trabalho no local foi suspenso após uma hora de busca. Os policiais e bombeiros seguiram para uma segunda represa, localizada na Dioneia, e saíram pela mata que fica atrás da sede da UPP, no Portão Vermelho.

Segundo a delegada Elen Souto, as duas represas foram citados por testemunhas, moradores da Rocinha, como possíveis locais de ocultação do cadáver de Amarildo.

À época do desaparecimento do pedreiro, o ex-comandante da unidade sustentou que Amarildo foi ouvido e liberado, mas nunca apareceram provas que mostrassem o pedreiro saindo da UPP, pois as câmeras de vigilância que poderiam registrar a saída dele não estavam funcionando.

Asfixia, choque e ingestão de cera líquida

Segundo o relatório da Polícia Civil que pede a prisão preventiva dos dez PMs indiciados, a tortura de moradores era costumeira nos contêineres da sede da UPP, no topo da favela.

Em depoimento, testemunhas relataram os tipos de agressões a que eram submetidas, segundo elas, pelos policiais comandados pelo major Edson.

BLOG DO MÁRIO MAGALHÃES

"A coragem que tempera o inquérito do caso Amarildo é inversamente proporcional ao destaque diminuto que as conclusões policiais receberam nos meios de comunicação: parece que se trata apenas de mais uma peça produzida pela Polícia Civil do Rio de Janeiro"

Asfixia com saco plástico, choque elétrico com corpo molhado, introdução de objetos nas partes íntimas e até ingestão de cera líquida eram alguns dos "castigos" aplicados aos moradores da Rocinha, dentro e fora das dependências da UPP -- alguns depoimentos falam em sessões de tortura em becos da comunidade, incluindo o beco do Cotó.

Dez presos

Os dez policiais militares denunciados à Justiça pelos crimes de ocultação de cadáver e tortura seguida de morte do pedreiro Amarildo de Souza, na favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, se apresentaram na noite da última sexta-feira (4) no quartel-general da corporação, na rua Evaristo da Veiga, no centro da capital fluminense.

Entre os presos está o major Edson Santos, ex-comandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Rocinha. Os demais são: Luiz Felipe de Medeiros, Jairo Ribas, Douglas Machado, Marlon Reis, Jorge Luiz Coelho, Victor Pereira da Silva, Anderson Maia, Wellington Tavares da Silva e Fábio Rocha.

Amarildo foi visto pela última vez no dia 14 de julho durante a operação policial "Paz Armada", que tinha o objetivo de desestabilizar o tráfico de drogas na Rocinha. Segundo testemunhas, ele teria sido levado por quatro dos dez policias denunciados (Machado, Coelho, Reis e Pereira da Silva).

De acordo com o inquérito, Machado seria desafeto da família do pedreiro e abordou Amarildo quando ele saía de um bar nas proximidades de sua casa. O PM teria conversado com o comandante Edson Santos pelo rádio e recebido ordens para levá-lo para a sede da UPP. (Com Estadão Conteúdo)