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MP vai indiciar outros policiais por sumiço de Amarildo; advogado pede liberdade para 4 PMs

Reconstituição feita pela Delegacia de Homicídios na Rocinha, no Rio, no dia 8 de setembro - Guito Moreto/Agência O Globo
Reconstituição feita pela Delegacia de Homicídios na Rocinha, no Rio, no dia 8 de setembro Imagem: Guito Moreto/Agência O Globo

Juliana Dal Piva

Do UOL, no Rio

14/10/2013 19h04Atualizada em 14/10/2013 20h10

A promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, disse que já conseguiu coletar novas provas e que pretende indiciar mais policiais no caso do desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza. Ela, no entanto, não quis divulgar o número nesta segunda-feira (14).

"Já existem novas provas envolvendo outros policiais, mas ainda não sei quantos serão indiciados", informou a promotora. Ela disse que ainda não pode divulgar quais são as novas evidências. Agora à noite, a polícia e o MP fazem perícia na UPP na Rocinha.

A informação vem no mesmo dia em que o advogado Marcos Espínola entrou com um pedido de liberdade provisória para quatro PMs acusados de tortura e morte de Amarildo. Ele defende os policiais Victor Vinícius Pereira da Silva, Douglas Roberto Machado, Jorge Luiz Gonçalves Coelho e Marlon Campos Dias, que estavam sob o comando do major Edson Santos, ex-chefe da UPP da Rocinha, quando o morador foi preso e desapareceu, em junho.

O pedido está na 8ª Câmara Criminal sob análise do desembargador Marcus Quaresma Ferraz. Na semana passada, quando preparava o pedido, Espínola criticou a ausência de provas materiais e de testemunhas comprovando o envolvimento dos clientes no caso.

"A autoridade policial requereu a prisão com base em escutas telefônicas infundadas e daí tirou suposições. Onde está o corpo? Vestígio de tortura? São apenas suposições, com isso vou tentar requerer a reconsideração de despacho da juíza da vara", explicou Espínola.

Ele informou ainda que a falta de provas é ressaltada pelos exames efetuados até o momento nos locais apontados no inquérito.

"Foram realizados exames no contêiner, na mata e nos veículos. Até o momento não existe uma prova garantidora de que Amarildo tenha sido torturado. O indício é o início de uma prova. Para que esse indício seja prova, precisa ser confirmado por prova testemunhal e pelo menos uma prova pericial -- e não há nenhum dos dois", apontou.

Os outros acusados, entre eles o major Edson Santos, ainda não entraram com pedido de liberdade provisória.

Dez policiais acusados no caso tiveram mandados de prisão expedidos e se apresentaram à Justiça no último dia 4. São eles o major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, e os policiais Luiz Felipe de Medeiros, Jairo Ribas, Douglas Machado, Marlon Reis, Jorge Luiz Coelho, Victor Pereira da Silva, Anderson Maia, Wellington Tavares da Silva e Fábio Rocha. Se condenados, as penas individuais dos PMs podem chegar a 30 anos. Todos negam as acusações.

No mesmo dia prisão dos acusados, o delegado Rivaldo Barbosa, da DH (Divisão de Homicídios) do Rio de Janeiro, disse que os denunciados à Justiça pelo desaparecimento e morte do pedreiro Amarildo de Souza, na favela da Rocinha (zona sul), em 14 de julho, podem estar envolvidos em outros 22 casos de tortura na comunidade.

BLOG DO MÁRIO MAGALHÃES

"A coragem que tempera o inquérito do caso Amarildo é inversamente proporcional ao destaque diminuto que as conclusões policiais receberam nos meios de comunicação: parece que se trata apenas de mais uma peça produzida pela Polícia Civil do Rio de Janeiro"

Para a Polícia Civil, Amarildo foi torturado e morto depois de ser levado por policiais para a sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na comunidade, um dia depois de a PM realizar a operação Paz Armada, que investiga o tráfico de drogas na Rocinha.

De acordo com o delegado, que coordena a investigação, a polícia ouviu pelo menos 22 pessoas que se disseram vítimas de tortura de policiais da UPP da Rocinha, de março a julho deste ano, para revelar detalhes do esquema do tráfico de drogas no local.

Todas as 22 testemunhas que narraram mecanismos de tortura apontam homens comandados pelo major Edson Santos (ex-comandante da UPP afastado no mês passado após ser denunciado pelo caso Amarildo) como agressores. Pela linha de investigação da polícia, Amarildo seria a 23ª vítima do grupo --e a única que foi morta.

Asfixia com saco plástico, choque elétrico com corpo molhado, introdução de objetos nas partes íntimas e até ingestão de cera líquida eram alguns dos "castigos" aplicados aos moradores da Rocinha, dentro e fora das dependências da UPP -- alguns depoimentos falam em sessões de tortura em becos da comunidade, incluindo o beco do Cotó, onde, segundo a polícia, Amarildo foi sequestrado.

À época do desaparecimento do pedreiro, o ex-comandante da unidade sustentou que Amarildo foi ouvido e liberado, mas nunca apareceram provas que mostrassem o pedreiro saindo da UPP, pois as câmeras de vigilância que poderiam registrar a saída dele não estavam funcionando.

A polícia deve divulgar em breve o resultado de exames de confronto genético de oito cadáveres. Um deles pode ser o do pedreiro Amarildo.