Furtos crescem mais de 90% em Copacabana; Ipanema e Leblon seguem tendência
Os furtos em Copacabana, bairro nobre da zona sul do Rio de Janeiro, aumentaram cerca de 92% no período de junho a setembro de 2013, em comparação com o quadrimestre de 2012. Segundo levantamento feito pelo UOL com dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), foram registradas 2.133 ocorrências na 12ª DP neste ano, com 1.074 casos a mais em relação ao mesmo período do ano passado.
Apenas em julho do ano passado, quando foi realizada a Jornada Mundial da Juventude na capital fluminense, foram registrados 1.188 furtos. O dado é superior à soma dos furtos que ocorreram nos meses de junho, agosto e setembro de 2013.
Os bairros vizinhos, Ipanema e Leblon, também tiveram aumento nos indicadores de criminalidade. Em relação ao acumulado do quadrimestre de 2012, a 13ª DP (Ipanema) teve, de junho a setembro de 2013, 18% a mais de boletins de ocorrência, com elevações percentuais do número de roubos (73,3%), furtos (32,8%) e roubo a transeunte (40%). No Leblon (14ª DP), o roubo a celular quase dobrou.
Em nota, a Secretaria de Estado de Segurança Pública informou que, a partir deste mês, serão inauguradas dez companhias destacadas da Polícia Militar a fim de reforçar o patrulhamento urbano. A PM está à espera da formatura de 600 recrutas. Além disso, informou a Seseg, "a Polícia Civil formou este mês 1.114 inspetores e 135 delegados, que serão deslocados para as Delegacias de Homicídios da Baixada e Niterói e no recompletamento das delegacias distritais. Com essa medidas, a secretaria espera obter redução nos índices".
CALVÁRIO DO TURISTA
3.jan.2014 Cerca de cem pessoas ficaram presas durante duas horas em um dos trens do Corcovado, na última sexta-feira (3). A composição apresentou um problema técnico
3.jan.2014 Os turistas que visitam o Rio sofrem com a onda de forte calor na cidade. Na última sexta (3), a sensação térmica chegou a 50ºC,. As praias ficaram lotadas
1.jan.2014 - Um tiroteio assustou os turistas que passavam pela avenida Nossa Senhora de Copacabana, a poucos minutos da queima de fogos do Réveillon em Copacabana
30.dez.2013 - Turistas enfrentam filas para pegar a van no Cosme Velho até o Corcovado, no Rio de Janeiro. O tempo de espera para as vans que levam até o ponto turístico era, em média, de duas horas
26.dez.2013 - Os espanhóis Cristian (camiseta vermelha) e Alejandro (verde) são resgatados após se perderem numa trilha da Floresta da Tijuca
1.abr.2013 - Uma turista norte-americana foi estuprada dentro de uma van por três homens na frente do namorado da vítima. O caso ganhou repercussão internacional
Em Copacabana, o roubo a celular praticamente quadruplicou. De junho a setembro de 2013, a Polícia Civil registrou 33 ocorrências no bairro, o que representa crescimento de mais de 266% em relação ao quadrimestre do ano anterior --quando haviam sido registradas 9 ocorrências.
Em 2012, Copacabana tinha uma média mensal de 2,25 roubos a celular entre junho e setembro. Em 2013, no mesmo período, a média mensal subiu para 8,25.
"Venho ao Rio desde 1976 e nunca vi Copacabana tão perigosa. Antigamente, a gente podia andar livremente pelo calçadão. Hoje a situação é outra", disse o paulista Ademar Antônio de Souza, 59. O turista afirmou ter visitado a capital fluminense pelo menos dez vezes nos últimos 30 anos. "A cada ano que passa eu me sinto mais inseguro", completou.
Moradores, turistas e policiais militares relatam que os furtos ocorrem com frequência na beira da praia, no calçadão e em pontos como a praça do Lido, próxima ao hotel Copacabana Palace, na avenida Nossa Senhora de Copacabana, na altura da junção com o Arpoador, e nas ruas Barata Ribeiro e Toneleros.
Uma das situações que se tornaram comuns no bairro é a da abordagem em grupo por parte de menores de idade. Eles se deslocam em bandos e visam principalmente correntes, relógios e aparelhos eletrônicos.
"Quando chega o fim do ano, é sempre mais constante. Todo mundo fala dos grandes arrastões na praia, mas é comum ver por aqui os pequenos arrastões de rua. São 'pivetes' que circulam por aí sempre em grupo. Parecem que são treinados na escolinha do Usain Bolt", disse o morador Paulo Assant, 39, em referência ao atleta jamaicano apontado como um dos maiores velocistas de todos os tempos.
"Eles puxam a corrente, pegam relógio, máquina fotográfica e saem correndo. Outro dia eu vi um policial correndo atrás de um pivete, mas enquanto o PM estava aqui em Copacabana, o 'moleque' já estava lá no Arpoador. Eles correm muito', completou Assant.
Para o cientista político e diretor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio), Geraldo Tadeu Monteiro, há uma carência no policiamento ostensivo, o que está diretamente associado com o deslocamento de efetivo para as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e a repressão ao tráfico de drogas.
"A UPP é um projeto importante. Ninguém discute isso. Mas não adianta direcionar a atenção exclusivamente para a favela. Com isso, diminui-se o policiamento ostensivo, e isso ocorre exatamente no momento em que o fluxo de turistas é cada vez maior. Cria-se um ambiente extremamente desfavorável a essa pequena criminalidade", afirmou.
"O problema está nos acessos e nas ruas de dentro. Na zona sul, por exemplo, você tem a polícia no calçadão. Na praia. Mas você pode ter mil pequenos arrastões que nunca vão ter a mesma atenção da imprensa e do Estado. São bandos de jovens que atacam uma determinada vítima considerada mais frágil. Às vezes não estão nem armados", completou.
A cada ano que passa, eu me sinto mais inseguro
Na visão do presidente do SindRio (Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio), Pedro de Lamare, o aumento dos indicadores de criminalidade também está vinculado à política das UPPs, uma vez que o tráfico de drogas seria "asfixiado", segundo ele, fazendo com que criminosos buscassem outras formas de obter dinheiro.
"A sensação de segurança, vivida intensamente nos primeiros anos de implantação das UPPs, foi reduzida em 2013, como mostram as estatísticas. Nas áreas turísticas, essa sensação é ainda mais palpável, com furto de celulares e assaltos a pedestres e, também, a bares, restaurantes e albergues. Este aumento é consequência direta da ação policial nas comunidades. Com o tráfico asfixiado, a fonte de renda de algumas pessoas envolvidas com esta engrenagem precisou ser deslocada para outras áreas", disse.
Lamara afirma acreditar, porém, que o crescimento da criminalidade em bairros turísticos não vai "impactar na maneira como Rio vem sendo visto dentro do país e no exterior".
O Huffington diz que o "crime" faz de Copacabana uma das praias mais perigosas do mundo
"Qualquer grande metrópole no mundo sofre com turistas tendo celulares e carteiras levados, além da prática de outros pequenos golpes. Com o Rio, que vem recebendo cada vez mais visitantes, não seria diferente, mas é preciso aumentar o policiamento nas áreas em épocas críticas, como Carnaval e Réveillon. É nos momentos de aglomeração que há mais casos e eles são mais simples de serem evitados", declarou.
Já o antropólogo Roberto Kant de Lima, da UFF (Universidade Federal Fluminense), afirmou ser mais complexa a análise dos números coletados pelo ISP, e que as variações não necessariamente significam que as áreas turísticas estão ou não mais violentas."Roubo a turista? Um monte de gente que eu conheço que foi roubada na Espanha, na França, em Nova York, em Paris. É o que mais tem", disse.
'Me sinto mais segura em Campo Grande'
Questionada sobre o aumento da criminalidade em Copacabana, a babá Marileide Sales, 31, que trabalha na zona sul há cinco anos, afirmou se sentir "mais segura" no bairro onde mora, Campo Grande, na zona oeste da cidade. "Aqui tem muito mais mendigos e moradores de rua. Principalmente à noite, não dá para andar na rua de forma tranquila, sem olhar para os lados", disse ela.
A babá responsável por tomar conta do menino Bernardo, 8, contou que até mesmo a criança já foi vítima de uma "tentativa de assalto". "Ele estava aqui brincando na praça do Lido quando chegou uma menina de rua e pediu para ver o brinquedo dele. Ela já estava se preparando para correr quando eu cheguei. Como criança é ingênua, ele acabou entregando o brinquedo", relatou.
Visitando o Rio pela primeira vez, o casal de catarinenses Eduardo Faraco, 26, e Brígida Carvalho, 30, se disse satisfeito com as condições de segurança existentes em Copacabana. Porém, a repercussão a respeito dos arrastões na praia e o próprio estigma da cidade fizeram com que eles tivessem algumas precauções.
"A gente se preocupa em não circular com o celular na mão e tirando fotos toda hora. Na verdade, achávamos que seria pior. Mas em três dias não conseguimos sentir tanto essa questão da violência", afirmou Faraco.
Em razão da violência, o catarinense relatou ter "pensado duas vezes" antes de aceitar o convite da namorada para visitar a capital fluminense. "Um amigo nosso deu algumas dicas de lugares mais perigosos, como a Lapa. Por enquanto, estamos passeando mais pela zona sul", afirmou.
A gente se preocupa em não circular com o celular na mão e tirando fotos toda hora
Já o taxista Benjamin Antunes, 66, que está na profissão há 45 anos, ressaltou o fato de que muitos turistas acabam atraindo a atenção de criminosos porque carregam câmeras fotográficas nas mãos, por exemplo.
"Sempre que entra um gringo no carro e a corrida é para Copacabana, eu aviso para não dar mole. Aqui tem áreas que você pode andar livremente, fazer o que você quiser, e outras que são reconhecidamente inseguras. Tem muito turista dando mole por aí. A pessoa tem que se informar antes", disse.
O artista plástico Ubiratan dos Santos, 62, foi o único entrevistado que se disse totalmente satisfeito com as condições de segurança em Copacabana. Ele trabalha fazendo esculturas na areia da praia há 20 anos.
A CNN afirma que o cartão-postal carioca possui uma paisagem "majestosa"
"Copacabana mudou muito. Antigamente, a situação era muito pior. O policiamento está melhorando cada vez mais, e o bairro está atraindo mais turistas a cada ano que passa. Por mim, poderia continuar do jeito que está", declarou.
Por mim, poderia continuar do jeito que está
Tendência
As estatísticas do ISP mostram que o crescimento do roubo a celular é uma tendência em áreas turísticas. O levantamento considera os dados de sete delegacias situadas em regiões turísticas num período de quatro meses --de junho a setembro-- em 2012 e 2013.
Em 2013, as delegacias dessas regiões registraram aumento de quase 121% em comparação com o mesmo período do ano passado.
As delegacias dos bairros vizinhos a Copacabana, Ipanema e Leblon, também famosos por suas praias, registraram aumentos de 137,5% e 93,10%, respectivamente. Já a distrital da Gávea teve o dobro de casos.
Na delegacia que atende a região da Lapa e do centro, por sua vez, foram registrados --entre junho e setembro de 2013-- 61 casos de roubo a celular, 34 a mais em comparação com o mesmo período do ano anterior (aumento de 126%).
Em abril, o UOL mostrou que os furtos a turistas brasileiros e estrangeiros haviam aumentado 66,5% no Estado do Rio se comparados os meses de janeiro, período de alta temporada, dos últimos três anos. No primeiro mês de 2013, houve um total de 313 casos, contra 276 em janeiro de 2012 e 188 em janeiro de 2011.
Gávea e Tijuca
As delegacias responsáveis pelas regiões da Gávea (15ª DP), da Tijuca e do Alto da Boa Vista (19ª DP) registraram aumento de 135% no indicador de roubo a celular entre 2012 e 2013. Também houve crescimento percentual do número de roubos (21,77%).
Somadas, as distritais tiveram apenas 37 ocorrências entre junho e setembro de 2012. Já no quadrimestre de 2013, foram 87 casos. O perímetro atendido pelas duas delegacias inclui o Parque Nacional da Tijuca --onde estão a Pedra da Gávea, o Corcovado e a Floresta da Tijuca.
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