Sem ônibus, vans na zona oeste do Rio cobram R$ 10; veículos são depredados
Nas primeiras das 48 horas de paralisação dos motoristas e cobradores de ônibus do Rio de Janeiro, que começou à 0h desta terça-feira (13), quem tentou se deslocar pela cidade encontrou filas nos pontos de ônibus, veículos lotados, preços abusivos cobrados por vans e dificuldade no acesso ao metrô. Os passageiros que mais enfrentam transtornos são os que tentam deixar a zona oeste da cidade. De acordo com o Rio Ônibus, 74 ônibus foram depredados na cidade, e seis pessoas foram detidas ao tentar impedir a circulação dos veículos.
Os trabalhadores reivindicam aumento salarial de 40% (e não os 10% acordados entre o sindicato da categoria e as empresas de ônibus), o fim da dupla função e reajuste no valor da cesta básica –de R$ 150 para R$ 400. A convocação é feita por um grupo dissidente, que não se sentiria representado pelo Sintraturb-Rio (Sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus do Rio de Janeiro). De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes do Rio, apenas 10% da frota de ônibus está circulando.
Nenhum ônibus de linha municipal está circulando pelo bairro de Jacarepaguá desde o início da madrugada. Nem mesmo os ônibus do tipo frescão --mais confortáveis e climatizados, com valores entre R$ 7 e R$ 13-- estão nas ruas, ao contrário da greve na semana passada, quando os coletivos circulavam com passageiros em pé.
Apenas coletivos de linhas intermunicipais estão circulando. A pista sentido centro da Linha Amarela, no trecho que passa pelo bairro, estava completamente congestionada. Há ônibus com destino a cidades da Baixada Fluminense parados no engarrafamento. As vans legalizadas, que circulam dentro do bairro, estão cobrando R$ 10. A tarifa normal é a mesma dos ônibus, isto é, R$ 3.
Em Campo Grande, as vans apresentavam lotação máxima e não havia taxistas disponíveis nas ruas. Na comunidade da Gardênia Azul, onde há pontos finais de ônibus para o centro e a Tijuca, passageiros fazem filas enormes à espera de transporte. Policiais militares do Batalhão de Choque fazem a segurança do local, mas mesmo assim nenhum ônibus apareceu.
O carpinteiro João de Deus, 34, está desde as 4h40 esperando um ônibus para ir ao trabalho, no centro. "Na semana passada não consegui ir trabalhar no dia da greve. E hoje a empresa já avisou que vai descontar o dia de quem não for. Entendo que a empresa não tem culpa. Mas o trabalhador também não tem".
Já a movimentação de passageiros de ônibus na região da Central do Brasil era tranquila no início da manhã. Entre as 5h45 e as 6h45, havia poucas linhas de ônibus circulando na região, geralmente abastecida por ônibus que partem de toda a cidade. Presença massiva, apenas a de veículos que fazem viagens intermunicipais, principalmente de oriundos da Baixada Fluminense.
Plano de contingência
Na noite de segunda (12), após o anúncio da paralisação, a Prefeitura do Rio divulgou nota informando que desenvolveu um plano de contingência para minimizar os impactos da greve. Além do reforço em metrô, trens e barcas, a Polícia Militar deve garantir a segurança na saída das garagens dos quatro consórcios, nas estações do BRT Transoeste e nos terminais de ônibus.
Na SuperVia, a operação de horário de pico foi antecipada em uma hora e meia e começou às 4h30. O horário de pico da tarde também será prolongado, de acordo com a demanda. No metrô, o horário de pico começou uma hora antes, às 5h30, também com prolongamento à tarde. Já a operação das barcas teve início às 6h30, meia hora antes.
Segundo usuários de metrô ouvidos pela reportagem, o movimento intenso na estação da Central do Brasil na manhã desta terça é maior que o de hábito nos guichês de compra de bilhetes e nas plataformas, com muita aglomeração, mas os trens, que passaram a sair em maior número por conta do Plano de Contingência, estão circulando com lotação normal para o horário.
"Pego metrô todo dia na Pavuna pra vir pra Central e hoje está muito mais cheio aqui. Mas os trens estão saindo mais rápido e menos lotados", afirmou a operadora de telemarketing Débora Lemos, 29.
Carona
Com a paralisação de 48 horas dos motoristas e cobradores de ônibus do Rio de Janeiro, que começou à 0h desta terça-feira (13), havia nos pontos de ônibus na região da Central do Brasil, no centro da cidade, quem esperasse caronas de colegas de trabalho, como o rádio-operador Felipe Rezende, 24. "Está impossível pegar ônibus pra Ilha do Governador, onde eu trabalho. Ontem à noite, quando saiu a notícia da greve, o pessoal do trabalho se mobilizou pra um dar carona ao outro. Vim de metrô, de Copacabana, e um colega vem me pegar aqui na Central", disse ele, minutos antes de entrar no carro do amigo.
A empregada doméstica Marly Nascimento, 49, que trabalha em São Conrado, na zona sul do Rio, saiu às 4h15 de casa, em Queimados, na Baixada Fluminense, e ainda esperava um ônibus na Central do Brasil às 6h30. "Já estava desistindo de ir quando um colega me ligou e disse que passaria aqui pra me dar uma carona", contou Marly.
Motoristas e cobradores começam o dia em greve
Depredações
A Rio Ônibus (Empresas de Ônibus da Cidade do Rio) informou que já havia pelo menos dez depredados na zona oeste carioca, por pessoas que integram piquetes que se formaram nas imediações das empresas desde a madrugada.
Os ônibus atacados são da Viação Jabour, que atua principalmente na zona oeste. A garagem da Jabour fica no subúrbio de Senador Vasconcelos. Os veículos estão sendo atacados quando deixam a sede rumo aos pontos de passageiros.
Em nota, o Rio Ônibus anunciou que pedirá ainda nesta manhã ao TRT (Tribunal Regional do Trabalho) que considere "ilegal e abusivo o movimento grevista convocado por um grupo de rodoviários que anunciou a paralisação do serviço de ônibus, nesta terça e quarta-feira, na cidade do Rio".
A Justiça do Rio já determinou que quatro líderes da comissão de rodoviários que decidiu pela paralisação, identificados como Hélio Alfredo Teodoro, Maura Lúcia Gonçalves, Luís Claudio da Rocha Silva e Luiz Fernando Mariano, devem se abster de "promover, participar, incitar greve e praticar atos que impeçam o bom, adequado e contínuo funcionamento do serviço de transporte público, bem como mantenham distância das garagens das empresas consorciadas filiadas ao sindicato (Rio Ônibus)".
"A entidade esclarece ainda que está em vigência um acordo firmado com o sindicato da categoria que assegura o reajuste salarial de 10% e o aumento de 40% da cesta básica, retroativos ao dia 1º de abril, que já estão sendo pagos agora no mês de maio", informa o Rio Ônibus.
Na semana passada, uma paralisação de 24 horas provocou uma série de transtornos para os usuários do transporte público na capital fluminense. Segundo balanço divulgado pelo Rio Ônibus, 531 veículos foram depredados em diversos pontos da cidade.
*Colaboraram Gustavo Maia e Maria Luísa Melo, no Rio
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