Condomínios usam até estação de tratamento para fugir da falta d'água em SP
Graças ao esforço e criatividade de seus síndicos, alguns condomínios conseguem até agora escapar dos efeitos da falta d'água em São Paulo. A maioria dos prédios vão desde medidas educativas para os moradores até a instalação de uma estação de tratamento para reutilizar água suja em outras funções.
Maria Aparecida Feder, síndica do edifício Horto 2, na Vila Amélia, zona Norte de São Paulo, optou por uma saída simples: a criação de um site onde disponibiliza todas as informações sobre as contas do condomínio. Ela ainda conscientizar constantemente os moradores desde maio, quando assumiu o posto. Ela conseguiu uma economia de 30% de água desde então.
"Os moradores estão lavando roupa uma vez por semana, e guardam a água da maquina para usar no banheiro. Também não lavamos escadas nem a área comum, é tudo varrido e com pano molhado", explica Maria Aparecida.
No outro extremo, outros condomínios investem em equipamentos que otimizam o consumo. São os casos do Monalisa, na Vila Madalena, que implementou um sistema de captação da água da chuva; e o Maison Saint Hilaire, de Campo Belo, que instalou uma estação de tratamento para limpar a água usada nas lavadoras de roupa e reutilizá-las nas descargas dos banheiros e na área comum, para lavagem e rega de plantas.
"Temos uma segunda caixa d'água que fica no subsolo, recebendo a água de chuva que cai do telhado. Depois essa água é bombeada para jardim, área de lazer e garagem", conta a síndica do Monalisa, Marita Trabanco. Essa água chega a durar oito meses quando a caixa enche e traz uma economia de 20% de água; com a estiagem, porém, o sistema vem sendo muito menos utilizado. "Agora voltamos a usar apenas vassouras", diz.
No Maison Saint Hilaire, o sistema de tratamento foi instalado em 2006 e custou na época R$ 40 mil, sendo R$ 10 mil bancados pelo condomínio, e o restante sendo pago após o seu funcionamento. Como a economia mensal ficou entre R$ 3 mil e R$ 5 mil a menos na conta de água, o sistema se pagou em poucos meses.
"A situação de abastecimento tá péssima, tem água dia sim, dia não no bairro, mas felizmente aqui não faltou ainda. Penso em fazer uma placa de aviso, porque as pessoas passam pela frente do prédio e reclamam quando a mangueira é usada. Eles não entendem que é água de reuso", afirma a síndica Marizilda Gonçalves.
Caixas sem vazamentos
Um dos condomínios mais famosos do país, o Copan, no centro de São Paulo, não se restringiu a educar os moradores --sua campanha de conscientização na verdade existe desde 1993-- mas também realiza uma série de medidas, como periódica impermeabilização das caixas d'água e a substituição das válvulas de descarga mais antigas. Além disso, conta com uma nascente com água contaminada, mas que é usada pra lavagem interna do prédio.
"Aqui na região a água vem sendo cortada no período noturno. Dizem por aí que cortam das 10h às 16h. Mas as cinco caixas do Copan, que têm 700 mil litros no total, estão sempre cheias", aponta o síndico do Copan, Affonso Prazeres. A impermeabilização das caixas é feita a cada seis anos e tem o objetivo de evitar vazamentos. Já as válvulas possuem dupla descarga, com botões para urina e fezes. O reparo e mão de obra são realizados quando solicitado, e são gratuitos.
Prazeres se mostra preocupado com a crise do abastecimento de água na cidade. "No meu apartamento a água suja das máquinas de lavar também é reaproveitada para lavar sanitários. Não lavo meu carro há mais de quatro meses". Apesar disso, na opinião dele o governo não teria culpa pela situação. "O que tá acontecendo em São Paulo [a estiagem] não acontece há mais de 80 anos, numa época em que a cidade tinha 20 mil pessoas, hoje são 12 milhões. Ninguém se preocupou por ninguém esperava por isso. Fala-se que faltou investimento na rede, acho que é uma grande bobagem", opina.
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