Cantareira precisa de dilúvio para chegar em janeiro, diz presidente da ANA
O presidente da ANA (Agência Nacional das Águas), Vicente Andreu, afirmou que o sistema Cantareira, que abastece 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo, precisa de um "dilúvio" para chegar aos níveis dos reservatórios do início desse ano. Andreu participou de uma audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (13).
"A solução dessa situação é chover e muito. Para chegar na situação que estávamos em 2014 até janeiro nós precisamos um dilúvio", declarou Andreu na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara.
Hoje, o nível do Sistema Cantareira caiu 0,2 ponto percentual em relação ao dia anterior, chegando a 10,8%. Com essa nova queda, a primeira cota do volume morto, água que fica no fundo das represas, praticamente chega ao fim.
São necessários 500 bilhões de litros de água para chegar aos índices do início do ano. Atualmente, o sistema Cantareira tem um deficit de 20% do volume normal, segundo Andreu.
"Precisa chover mais que a média histórica, mas não parece que isso vai acontecer", afirmou Andreu."O sistema Cantareira está próximo de 20% negativo do seu volume. Isso significa que estamos com um deficit para ser suprido. Nós teríamos no curto, prazo para que a gente entre na série de 2015 igual a 2014, suprir o deficit e voltar o volume de água em dois meses para entrar numa série que ainda depende do volume de chuvas que vamos ter”, disse o presidente da ANA.
Em audiência na Assembleia Legislativa de São Paulo no mês passado, Andreu já havia afirmado que, se não chovesse, as pessoas vão beber água de lodo. O deputado federal José Aníbal (PSDB-SP) o chamou de vagabundo.
Na audiência de hoje, a procuradora regional da República, Sandra Shimada Kishi, que gerencia projeto Qualidade da Água do Ministério Público Federal, concordou com afirmação do presidente da ANA.
"Esse dilúvio é a chuva de 60 dias [consecutivos] com a pior chuva dos últimos seis anos, aí vamos conseguir provavelmente restaurar a situação que estávamos antes dessa tormentosa crise”, disse a procuradora.
A procuradora também afirmou afirmou que "falta credibilidade" a Sabesp. "Na crise a Sabesp está explorando o volume morto dois sem autorização", afirmou a procuradora da República ao citar visitas técnicas do Ministério Público que comprovariam a retirada fora da cota autorizada.
“Há divergências entre os dados fornecidos pela Sabesp e a análise de campo feita pelo MPF. Há falta de credibilidade da Sabesp. Premissas técnicas, elaboradas pelos próprios órgãos gestores, estão sendo ignoradas pelos órgãos", afirmou Sandra ao se referir também o Daee (Departamento de Água e Energia Elétrica) de São Paulo.
Já foram abertos 12 inquéritos civis públicos e quatro ações civis para apurar as responsabilidades da crise hídrica em São Paulo, segundo o Ministério Público Federal.
Neste ano, o país passa por uma das mais severas secas dos últimos anos. Para atenuar os efeitos da seca, tanto o governo federal quando o estadual afirmam que são necessárias obras para reduzir a dependência do período chuvoso, que só começa agora.
Na última segunda-feira (10), o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), encontrou-se com a presidente Dilma Rousseff (PT) em Brasília para pedir apoio financeiro para realizar obras que devem atenuar os problemas de abastecimento de água no Estado no valor de R$ 3,5 bilhões. As medidas, no entanto, não são de caráter emergencial e só ficarão prontas em curto e médio prazo, ou seja, em até cinco anos.
Embora o governo esteja inclinado a destinar recursos federais para financiar as obras, a presidente Dilma pediu detalhamento dos projetos antes de liberar a verba.
Foi marcada uma nova reunião para a próxima segunda-feira (17) entre membros do governo paulista e dos ministérios do Planejamento e do Meio Ambiente para definir melhor a execução das obras.
"As obras anunciadas pelo governo do Estado de São Paulo não resolvem a situação [imediatamente], essas obras entrarão em funcionamento em melhor das hipóteses em um ano ou dois", explicou o presidente da ANA.
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