Rejeitos de barragens podem ser usados na construção civil
Acumulados em diversas barragens pelo país e motivo de preocupação das autoridades após a tragédia de Mariana (MG), os rejeitos da extração de minério de ferro poderiam ter um destino econômico e ambiental mais eficaz transformando-se em produtos para construção de casas e pavimentação de estradas, segundo pesquisadores da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), em Minas Gerais.
Desde 2010, o Reciclos-CNPq (Grupo de Pesquisa em Resíduos Sólidos) da universidade desenvolve métodos para o reaproveitamento do rejeito usando material de empresas do Quadrilátero Ferrífero, região onde se encontra a barragem da Samarco, que rompeu e provocou a morte de pelo menos 13 pessoas, além de mais de 600 desabrigados e uma onda de lama que invade o mar.
O professor do Departamento de Engenharia Civil da UFOP e coordenador do grupo multidisciplinar, Ricardo André Fiorotti Peixoto, explica que existem duas linhas principais testadas pelo grupo.
“A gente trata o rejeito de duas formas diferentes. A primeira busca utilizar o rejeito “in natura”. A gente pega da mesma forma que está na barragem, dá uma desaguada nele (retira a água), e usa como matéria-prima como artefatos para a construção”, afirma.
Além disso, o produto final poderia ser usado como adição a concretos, a argamassas e na fabricação de tijolos de concreto e utilizado na pavimentação de ruas e estradas.
“A gente secou esse rejeito e conseguiu separar em três frações diferentes. Uma fração de minério de ferro, uma fração de areia e, outra, de argila. Assim, conseguimos extrair três matérias-primas extremamente valiosas e puras”, detalha.
A argila pode ser usada como pigmento para ser usado em cerâmicas. “E a areia é de ótima qualidade porque é lavada. E o minério de ferro é tão bom ou talvez até superior aos que são lavrados hoje, já que está lá nas barragens há 20 ou 30 anos, quando as lavras eram efetivamente de hematita e não de itabirito, como é hoje. Ou seja, são minérios mais ricos”, complementa.
Para tornar realidade
Entretanto, para que esses experimentos saiam do laboratório e tornem-se uma realidade em larga escala, o professor avalia que um fomento público na área de infraestrutura, voltado para a utilização desse material, poderia ser a solução.
Segundo Peixoto, empresas do setor da construção civil mostraram interesse no trabalho. Entretanto, o especialista afirma que nenhuma mineradora, até o momento, entrou em contato com o grupo.
“A mineração é de uma magnitude inacreditável. Quando a gente fala em geração de rejeito, que vai para as barragens, nas minerações de pequeno porte, a gente fala em algo em torno de 400 toneladas de rejeito por hora. A gente não consegue consumir todo o rejeito de mineração porque a ordem de grandeza é gigante, mas a gente consegue colocar essa condição do rejeito em maior segurança”.
“Há dois anos, um aluno meu de mestrado defendeu uma tese na qual propunha a utilização desses rejeitos de barragens de mineração como infraestrutura para rodovias. E nós conseguimos utilizar de uma forma muito eficaz para usar esse rejeito puro para base, sub-base, em leito e subleito (fundação) do pavimento (camada final de asfalto ou concreto). Aí o consumo é exponencial”, disse.
Material não é tóxico
Sem conhecer especificamente os rejeitos da Samarco, o especialista afirma que o material estocado nas barragens que utilizou para a pesquisa não é tóxico.
“Ao contrário de que muita gente pensa, ou até especula, esses rejeitos não são tóxicos. Nós caracterizamos um conjunto de 12 barragens do Quadrilátero Ferrífero, e essas barragens contêm exclusivamente minério de ferro, areia e argila, mais nada”, afirmou.
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