Elo com PCC, bunker e atirador de Pinheiros: os crimes de CACs em 2024
Com permissão para ter arma de fogo, pessoas com registro de CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) se envolveram neste ano em crimes ligados ao PCC, assassinatos e até em suspeita de venda ilegal de armas encontradas em um bunker em São Paulo nesta segunda-feira (9).
Crimes de CACs em 2024
Dois CACs presos em intervalo de três dias em SP. Na noite de 6 de dezembro, Marcelo Berlinck, 31, foi preso após atirar de uma cobertura na zona oeste de São Paulo. No apartamento dele, a PM encontrou fuzil, carabinas, granada e 350 munições. Vizinhos dizem que ele circulava armado no prédio. Na segunda (9), a Polícia Civil achou 152 armas atrás de um guarda-roupa de um CAC na zona sul da capital paulista.
Um militar reformado tinha 111 armas em um imóvel que explodiu em Campinas (SP). Granadas, pólvora e munição foram encontradas no apartamento onde morava Virgilio Parra Dias, deixando 37 feridos. Um laudo pericial apontou duas explosões e vestígios de disparo de munições no local. Com registro de CAC, ele foi indiciado por explosão e porte ilegal de armas. O caso ocorreu em 24 de fevereiro.
CACs treinavam membros do PCC para ações do "novo cangaço", diz polícia. Um vídeo que faz parte de uma investigação da PF e do MP de São Paulo mostra o CAC Otávio Magalhães, preso em maio, dando orientações em um estande de tiro a Elaine Souza, conhecida como "Patroa do PCC". Ela foi presa preventivamente em setembro por suspeita de manter conexões com a facção criminosa paulista.
CAC foi preso após confessar ter matado ex-namorada a tiros. Nayara dos Santos Fonseca, 27, foi encontrada morta dentro de um carro em Boituva (SP) no dia 18 de agosto. Ela tinha medida protetiva concedida pela Justiça contra o seu ex-namorado, que não teve a sua identidade divulgada pela Polícia Civil.
Com esquizofrenia, homem que matou pai, irmão e policial tinha 300 munições em casa. O caminhoneiro Edson Fernando Crippa, 45, foi internado quatro vezes. O CAC tinha duas pistolas e duas espingardas "de acordo com a legislação", segundo a polícia. O atirador, que ainda feriu outras nove pessoas, foi morto em confronto com a Brigada Militar. O caso ocorreu no dia 23 de outubro em Novo Hamburgo (RS).
Isso é apenas a evidência da loucura que a gente viveu durante o governo Bolsonaro, e não é o único caso. Várias pessoas tinham arsenais ou adquiriam para revender para criminosos. A violência armada é o grande problema do Brasil. Gastamos muito dinheiro combatendo o tráfico, mas não temos a mesma preocupação com armas.
Roberto Uchôa, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Cacs foram beneficiados por Bolsonaro
Normas do governo Bolsonaro permitiram que CACs montassem arsenais com número ilimitado de armas. Um atirador poderia comprar 60 armas, e ainda teria o direito de ter mais 30 com registro de caçador.
Não havia limite de armas para um colecionador, desde que fossem no máximo cinco de mesmo modelo e calibre. O governo Lula reverteu a flexibilização em 2023, obrigando o recadastramento de mais de 900 mil registros, segundo informações obtidas pelo UOL por meio da Lei de Acesso à Informação junto à PF.
A profissão de "administrador" é a mais presente nos registros e corresponde a 13,6% das profissões identificadas. A maioria dos atiradores que recadastraram suas armas completou o ensino médio (34%), mas o número dos que completaram ensino superior é próximo (33,2%). Eles são quase em totalidade homens e mais da metade é casado.
Quem comprou armas na gestão anterior está sujeito às regras da época. Ou seja, quem já tinha as armas antes do novo decreto de Lula não precisa se desfazer delas.
Exército fiscalizou apenas 3% das pessoas com registro de CAC em 2022, apontou um levantamento do Instituto Sou da Paz. O número é o menor índice de fiscalização dos últimos quatro anos, enquanto o número de CACs dobrou no período.
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