Manaus: dos corpos de presos identificados, 30 foram decapitados, diz polícia
O diretor do DPTC (Departamento de Polícia Técnico Científica) da Polícia Civil do Amazonas, Jeferson Mendes, afirmou, em coletiva a imprensa no IML (Instituto Médico Legal) nesta terça-feira (3) que, dos 60 corpos de detentos mortos na UPP (Unidade Prisional do Puraquequara) e no Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), 39 já foram identificados e dez corpos foram liberados para as famílias. Até agora apenas quatro famílias se apresentaram para retirada dos corpos.
Ainda segundo o diretor do DPTC, dos 39 identificados, 30 foram decapitados. Mendes afirmou que o IML está usando como método de identificação dos mortos a análise das arcadas dentárias e impressão digital, além de informações repassadas pelas famílias.
Foram 56 mortos no Compaj e quatro na UPP. No total, foram 60 mortos no sistema prisional de Manaus em menos de dois dias. Entre os 39 corpos identificados, 36 são do Compaj e três da UPP.
Na coletiva, Mendes afirmou que os técnicos são preparados para o serviço de identificação de cadáveres em situações diversas, mas o estado dos corpos chocou os funcionários do IML. Segundo Mendes, os corpos que estão dando mais trabalho para a identificação são os carbonizados. Ele não soube informar, na entrevista, quantos estão nesta condição. O diretor do DPTC disse que todas as folgas de funcionários do IML foram suspensas e que os peritos estão trabalhando até de madrugada para acelerar a identificação.
"Nossos peritos estão preparados para atuar neste tipo de ação. Mesmo assim é algo chocante. Conversando com eles (peritos), eles dizem que nunca viram corpos da maneira como estão estes. Mas mesmo assim estamos preparados."
Sem armas de fogo
Até o momento, segundo a polícia, não há sinais de mortes por armas de fogo. “A causa mortis que encontramos aqui foram pessoas degoladas, corpos com diversas fraturas e dilacerações. Até o presente momento não encontramos sinais de armas de fogo. Apenas marcas de estoques e perfurações de aparelhos cortantes e contundentes”, afirmou Mendes.
O chefe do DPTC afirmou a análise das arcadas dentárias e impressão digital foram escolhidos por serem mais céleres em relação a exames de DNA, embora, segundo ele, o Estado do Amazonas tenha estrutura que permite a identificação de todos os corpos por esta última opção.
“Este é um procedimento usado internacionalmente. Fazemos a identificação por meio de impressão digital e, não conseguindo, tentamos por meio da arcada dentária com informações cedidas pela Seap (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Amazonas). A terceira tentativa é o exame de DNA, que é um exame que demanda um tempo e uma técnica mais apurada”, disse.
Jeferson Mendes afirmou que a equipe do Instituto de Criminalística da Polícia Civil visitou o local do massacre de presos no Amazonas e está apurando informações mais precisas sobre as armas usadas para matar os detentos. Esse trabalho, segundo ele, facilitaria a conclusão da perícia nos corpos para apontar a causa da morte de cada um dos presos.
Mas, segundo Mendes, é um trabalho que demora ao menos 30 dias para ser concluído. “É um laudo de maior complexidade e vai demorar de 30 a 60 dias. Os peritos têm imagens que serão encaminhadas para as autoridades requisitantes”, disse.
Até agora, 34 horas após o fim da rebelião, a Polícia Civil e o IML não divulgaram os nomes dos mortos e as famílias permanecem de vigília em frente ao prédio do instituto. De acordo com Mendes, a partir de hoje será montada uma estrutura para atendimento adequado dos familiares dos presos num prédio anexo ao IML com funcionários da Secretaria de Assistência Social e Secretaria de Administração Penitenciária do Amazonas.
“Vamos divulgar os nomes primeiro para as famílias, e depois os tornaremos públicos”, justificou Mendes
A rebelião em Manaus durou cerca de 17 horas e começou na tarde de domingo (1º). A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas atribuiu o que aconteceu a uma disputa entre as facções rivais FDN (Família do Norte) e PCC (Primeiro Comando da Capital), pelo controle do tráfico de drogas em Manaus.
Trata-se da maior matança registrada em presídios desde o massacre do Carandiru, que resultou na morte de 111 presos em 1992, em São Paulo.
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