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Quase 200 presos estão foragidos após rebeliões em Manaus; mortes chegam a 60

Do UOL, em Brasília e São Paulo*

02/01/2017 20h38Atualizada em 02/01/2017 22h30

Ao menos 184 presos continuavam foragidos até pouco antes das 20h desta noite (horário de Brasília) após rebeliões em presídios de Manaus nesta segunda (2), segundo números divulgados pelo governo do Amazonas.

De acordo com o Comitê de Gerenciamento de Crise do Sistema de Segurança Pública, 72 detentos do Ipat (Instituto Penal Antônio Trindade) ainda estão em fuga, assim como outros 112 do Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim).

Ao mesmo tempo, segundo o governo, 40 presos foram recapturados até as 17h desta segunda, horário local (19h de Brasília).

As rebeliões deixaram pelo menos 56 mortos no Compaj, de acordo com a Seap-AM (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Amazonas). No início, o governo chegou a falar em 60 mortos só no Compaj, mas depois corrigiu o número.

À noite, o governo informou, em nota, que mais quatro detentos morreram na UPP (Unidade Prisional do Puraquequara) por volta das 17h desta segunda, horário local (19h de Brasília). Apesar de não esclarecer o motivo das mortes, o comunicado diz que "a unidade se encontra em situação estável".

No total, somando o Compaj e na UPP, são 60 mortos no sistema prisional de Manaus.

Presos são transferidos para cadeia desativada

O governo amazonense comunicou também a transferência de cerca de 130 internos para a Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, no centro de Manaus. A prisão está desativada desde outubro passado, mas precisou ser utilizada, segundo o governo, "para abrigar presos de uma facção criminosa que estão recebendo ameaças de morte".

A cadeia Vidal Pessoa foi inaugurada em 1907, funcionando durante quase 100 anos, e era considerada a "porta de entrada" do sistema prisional do Amazonas. Em 2010 e 2013, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) recomendou o fechamento da prisão. Há três anos, a unidade prisional tinha capacidade máxima para 300 presos, mas abrigava cerca de 1.100 detentos.

Facção planejava assassinatos desde 2015

Para investigadores, o que aconteceu em Manaus não se trata de rebelião, mas de uma disputa entre as facções criminosas FDN (Família do Norte do Amazonas) e PCC (Primeiro Comando da Capital). A FDN atua no tráfico de drogas na região Norte e é aliada do Comando Vermelho.

Os principais líderes da facção foram presos em novembro de 2015 e transferidos para presídios federais. Na época, segundo a Polícia Federal, já existiam "planos para o assassinato de todos os membros desta organização criminosa paulista que se encontram presos em Manaus (pelo menos 3 das principais lideranças do PCC foram brutalmente assassinadas nos últimos meses pela FDN dentro do sistema)".

'Evitamos Carandiru 2', diz secretário

Ao UOL, o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes, disse que a entrada da Polícia Militar no Compaj poderia ter causado um massacre como o ocorrido em 1992 no hoje extinto presídio do Carandiru, em São Paulo.

Segundo Fontes, apesar das dezenas de fugas e mortes, a situação está "sob controle" no momento. No entanto, o secretário disse temer a reação do PCC. "As retaliações vão vir", afirmou.

Para a ONG de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, a quantidade de presos mortos no Compaj revela que o Estado não tinha controle sobre a unidade prisional. O presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Cláudio Lamachia, criticou o episódio, o qual chamou de "selvageria que parece não encontrar limites".

(*Com Estadão Conteúdo)