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Detentos que teriam ordenado matança em Manaus serão levados para presídios federais

Edmar Barros/Futura Press/Estadão Conteúdo
Imagem: Edmar Barros/Futura Press/Estadão Conteúdo

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo*

11/01/2017 09h52Atualizada em 11/01/2017 13h33

Suspeitos de terem comandado e participado das ações que mataram 60 detentos em presídios do Amazonas no primeiro dia do ano, 17 presos do Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), em Manaus, serão transferidos para penitenciárias federais nesta quarta-feira (11), informou ao UOL o secretário de Administração Penitenciário do Estado, Pedro Florêncio. 

"A força-tarefa da Polícia Civil, que está investigando os homicídios no Compaj e na UPP [Unidade Prisional do Puraquequara], chegou aos nomes dos suspeitos de terem comandado e participado dos homicídios", disse Florêncio. Os nomes dos detentos não foram divulgados.

A operação começou por volta das 2h (4h em Brasília) e tem apoio da PM (Polícia Militar) e da Força Nacional, cujos agentes chegaram na terça-feira (10) à capital do Amazonas. 

Procurado pelo UOL, o Ministério da Justiça ainda não passou informações sobre a operação desta manhã.

Segundo Florêncio, os presos serão levados para a Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e de Campo Grande (MS). A informação, porém, ainda não é confirmada pelo Depen (Departamento Penitenciário Nacional), que disse ao UOL que só irá se pronunciar assim que todo o processo de transferência estiver finalizado.

Foi no Compaj onde ocorreu o maior massacre de presos este ano, quando 56 presos foram assassinados. Após a matança, 284 presos foram transferidos, em 3 de janeiro, para a Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa --que estava desativada até então--, onde ocorreram novas mortes cinco dias depois. Quatro presos foram assassinados: três decapitados e um asfixiado.

Juntos com os mortos do Compaj e da UPP, até agora, foram assassinados 64 detentos durante a crise no sistema penitenciário do Estado.

Os presidiários estão no Batalhão de Choque da PM, que fica próximo à BR-174. Segundo a polícia, os detentos foram levados para o Batalhão de Choque, onde passarão por triagem. Depois, devem ser encaminhados para o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes.

A SSP-AM (Secretaria de Segurança Pública do Amazonas) ainda não se pronunciou sobre a transferência.

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Afastado

Na terça-feira (10), o governo do Amazonas anunciou o afastamento do diretor interino do Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim) José Carvalho da Silva, acusado por dois presos que morreram no massacre do último dia 1º de receber dinheiro da facção criminosa FDN (Família do Norte) para facilitar a entrada de drogas, armas e telefones celulares na penitenciária. As denúncias foram feitas por meio de duas cartas enviadas à Justiça do Amazonas no dia 14 de dezembro, 18 dias antes da rebelião ocorrida em Manaus.

As cartas que denunciaram José Carvalho foram escritas por dois presidiários mortos durante a rebelião do dia 1º de janeiro. Nelas, os detentos diziam estarem sendo vítimas de perseguição por parte de Carvalho porque o diretor saberia que alguns detentos conheciam a sua suposta ligação com a FDN.

“Querem nos tirar [da ala segura do presídio] só pelo fato de nós internos sabemos [sic] que eles são corrupto e recebem dinheiro da facção FDN, facilitando a entrada de armas, drogas, celulares”, diz um trecho da carta.

Entorno

Também na terça-feira (10), policiais da Força Nacional chegaram a Manaus para atuar no entorno do Compaj (Complexo Prisional Anísio Jobim), na capital do Amazonas.

"Nossa intenção é que [a Força Nacional] fique no complexo da BR-174, onde temos cinco unidades prisionais", afirmou Sérgio Fontes, secretário de Segurança Pública do Estado, durante entrevista a jornalistas na tarde de hoje. Segundo Fontes, os policiais vão começar a atuar na quarta-feira (10), sendo 23 por turno de trabalho.

O efetivo, de cerca de cem homens, chegou a Manaus em aviões da FAB (Força Aérea Brasileira). A maioria fez cursos de formação em policiamento de choque, força tática ou operações especiais. Até ontem, eles estavam trabalhando nos complexos da Pedreira e do Chapadão, no Rio de Janeiro, no combate a furto e roubo de carga.

De acordo com o secretário, com a Força Nacional cuidando da segurança no lado de fora do Compaj, policiais militares que atualmente trabalham nisso vão poder reforçar a proteção em outras áreas da cidade. 

"Se eles conseguirem resolver esse problema [a segurança no lado de fora do Compaj], vou ter um efetivo muito bom para proteger outras unidades, como a [Unidade Prisional de] Puraquequara e a [Cadeia Pública Raimundo] Vidal [Pessoa], e para fazer o policiamento ostensivo na cidade", declarou. 

O envio de policiais da Força Nacional à capital amazonense foi um pedido feito pelo governador do Estado, José Melo (Pros), no domingo (8), depois que uma rebelião na Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, no centro de Manaus, terminou com quatro presos mortos. Foi para essa unidade onde foram transferidos, durante a semana passada, cerca de 280 presos após a rebelião no Compaj.

*Com colaboração para o UOL, em Manaus, e Estadão Conteúdo