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"Sobreviver é uma coisa muito cruel", diz assessora que estava no carro com Marielle

15.mar.2018 - Agentes da Divisão de Homicídios fazem uma nova perícia no carro da vereadora Marielle Franco - Pablo Jacob/Agência O Globo
15.mar.2018 - Agentes da Divisão de Homicídios fazem uma nova perícia no carro da vereadora Marielle Franco Imagem: Pablo Jacob/Agência O Globo

Do UOL, em Brasília

18/03/2018 21h32Atualizada em 20/03/2018 16h50

A assessora da vereadora Marielle Franco (PSOL) afirmou em entrevista pela TV Globo ao Fantástico, neste domingo (18), que “sobreviver é uma coisa muito cruel". Ela estava no carro com a parlamentar e o motorista Anderson Gomes no momento do crime em que ela foi a única sobrevivente: Marielle e Anderson morreram por tiros na última quarta-feira (16).

Por segurança, assessora pediu para não ter sua imagem nem seu nome revelados. Foi a primeira vez que ela falou sobre o caso, após prestar depoimento à polícia. Ela deixou o Rio de Janeiro.

“A coisa de ser sobrevivente me marcou muito. Porque eu queria a Marielle viva. Porque eu queria o Anderson vivo. Porque sobreviver é uma coisa muito cruel assim. Por que eu preciso sobreviver? Que coisa horrenda é essa, né? Que violência é essa?”, declarou.

A assessora disse estar “apavorada e despedaçada” e questionou a "audácia" dos assassinos em matar de forma “covarde”. No entanto, disse preferir não pensar em quem realizou o ataque nem no porquê. Para ela, quem tem de dar essas informações são as autoridades, e rapidamente.

A assessora disse que Marielle estava feliz após o encontro de mulheres negras que discutiam racismo. Foi a última atividade da vereadora antes de ser assassinada. “Foi um evento lindo, estava lotado”, comentou. Ela disse que a vereadora não costumava andar no banco de trás do carro, mas resolveu sentar ao lado da assessora para verem fotos.

Questionada sobre como se sentia ao ver as reconstituições do crime, a assessora afirmou não acreditar que estava ali e não entender como conseguiu sair do local. Segundo ela, a ação foi muito rápida e não deu tempo de perceber a chegada dos criminosos.

Eu não percebi [que tinha alguma coisa errada]. Estávamos olhando o celular. [...] Eu não fiz esse raciocínio. Me lembro que, no momento da interjeição dela, exatamente nesse momento, eu ouvi uma rajada. Me abaixei na mesma hora. Não [percebi que foi atingida]. Achei que estava abaixando junto comigo. Foi um barulho forte, mas um barulho rápido. E o vidro quebrando

A assessora afirmou também pensar que estava em uma zona de fogo cruzado e perguntou aos colegas o que estava acontecendo. Nesse instante, Anderson Gomes teria dito “ai”, segundo ela. Ao perceber que o motorista parou de segurar no volante, tentou colocar a marcha do carro em ponto morto, segurou o volante e puxou o freio de mão.

“Saí agachada e com medo de estar em zona de conflito, de tiroteio”, falou. Ela então disse ter percebido que não havia mais tiros e começou a gritar por socorro. Uma mulher, a quem chamou de “anjo”, a acalmou, ligou para a polícia e chamou uma ambulância.

A assessora só percebeu que Marielle e Gomes estavam mortos quando a polícia chegou. “Eles chegaram comentando e já notificando dois mortos e uma sobrevivente”, declarou.

"Ela não vai voltar para casa"

A viúva de Marielle, Monica Benício, também deu entrevista ao programa e falou não acreditar que Marielle não voltará para casa. "Eu ainda não consigo acreditar que ela não vai voltar para casa. Eu ainda não consigo entender por que fizeram isso com ela”, disse.

Monica relatou ter conversado com Marielle pouco antes do ataque, por meio de mensagem no celular. Marielle havia perguntado à companheira se era preciso levar algo para casa. Monica chegou e estranhou que Marielle já não estivesse na residência. Após cerca de meia hora, ligou para a companheira “mais de 20 vezes”, sem sucesso.

“Fui começando a ficar muito desesperada porque ela não atendia”, contou.

Foi quando uma amiga das duas foi até a casa para informá-la sobre o ataque. "Eu falei: 'Dani o que que aconteceu? Cadê a Marielle?'. E ela: 'você precisa ser forte. A Marielle morreu'. E aí eu caí no chão porque eu não conseguia ficar em pé", lembrou.

Segundo Monica, Marielle não relatou sofrer ameaças nem se sentir em perigo. Ambas planejavam se casar em setembro de 2019 e estavam se preparando para a cerimônia.

"A gente demorou muito tempo para conseguir ficar juntas de verdade, e quando a gente finalmente conseguiu, foi tudo muito breve. Ela tinha me dito que ia ser para sempre dessa vez", disse.