Polícia pede prisão preventiva de acusado de matar ex-namorada a facadas
A Justiça decretou a prisão preventiva de Valdelício Santos, de 21 anos, acusado de matar a ex-namorada, Adriele Sena, de 22 anos, com dez facadas na casa dos pais dele, em Guaíra, no interior de São Paulo, na noite da última terça-feira (28).
Segundo o delegado Rodrigo Souza Ferreira, que foi destacado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) para cuidar da investigação, o rapaz, que golpeou a si mesmo em uma tentativa de suicídio, deverá responder por homicídio doloso, quando há intenção de matar, com três qualificadores: motivo fútil, meio que dificultou a defesa da vítima e feminicídio.
O suspeito, que foi detido em flagrante, está internado na Santa Casa de Barretos, também em São Paulo, para tratar dos ferimentos que ele causou em si mesmo: uma facada no tórax e outra no pescoço. Monitorado por escolta policial, o rapaz ainda não prestou depoimento por estar sob efeito de medicamentos, mas a expectativa é que isso ocorra assim que ele tiver alta. De acordo com boletim médico divulgado nesta sexta-feira (31), Santos tem quadro estável e já começou a realizar fisioterapia.
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Agressão foi estopim para separação do casal
Ainda abalados pela morte de Adriele, familiares revelaram, em conversa com o UOL, que o casal estava junto havia 10 meses, mas morava junto apenas nos últimos dois. Segundo Douglas Aparecido Silva de Sena, pai da jovem, Valdelício Santos se mostrava uma pessoa muito educada.
"Ele sempre tratou a gente assim: para mim era 'bênção, sogro', para minha mãe era 'bênção, vó', sempre pedindo bênção, baixava a cabeça para conversar com a gente, era um tratamento muito bom com a gente, sempre passou a imagem de que estavam tendo um relacionamento muito bom. Acreditávamos que ele era muito boa pessoa, nunca demonstrou nada para nós", revelou o pai da jovem.
O primeiro sinal de violência apareceu ainda no mês de agosto, quando Santos procurou o então sogro para relatar um conflito que havia acontecido entre ele e Adriele.
"Mais ou menos na semana retrasada ele falou: 'preciso conversar com o senhor. Eu e a Adriele discutimos, ela veio para cima de mim, eu segurei ela e ela bateu o nariz. A gente conversou, ela me deu mais uma chance, mas ela pediu para vir contar para o senhor', aí passou", conta Douglas.
Contudo, ao que tudo indica, a história não foi exatamente como Santos relatou ao ex-sogro. Em conversa com uma parente, Adriele revelou que foi agredida pelo então companheiro durante a discussão.
"Ela contou para a minha sobrinha que ele havia batido nela, então minha sobrinha a ajudou a juntar umas coisas e tirou ela de lá", detalhou Douglas.
"Minha filha falou para mim: 'pai, não aguento mais, ele está me sufocando, me dá socos, ele não te contou?'"
Douglas Aparecido Silva de Sena, pai de Adriele Sena
"Eu disse que não, que ele tinha falado que a segurou, e ela falou que era mentira, que ele esmurrou a cabeça dela e ela chegou a desmaiar e ficar com o nariz roxo. Ela contou que, nos dois meses em que moraram juntos, eles brigavam todos os dias e ele a enforcou várias vezes."
Ainda segundo o pai de Adriele, após ficar sabendo dos casos de agressão, ele apoiou a decisão da filha de interromper o relacionamento. Foi a partir daí que eles optaram por marcar o encontro com Valdelício e seus pais para comunicar a decisão de colocar um ponto final no namoro.
"Os pais dele não sabiam que ele tinha batido nela, e até falaram para ele: 'se você bateu nela e ela não te quer mais, você tem que aceitar', e ele só ficava repetindo: 'estou mudando, me dá mais uma chance'. Até que, na hora que estávamos na cozinha, ele foi para a sala e ficou andando para lá e para cá. Aí eu falei para ela ir terminar a conversa com ele, para podermos ir embora, e ela foi sentar na sala. Vimos que ele foi para o quarto, voltou e sentou-se de frente para ela".
O relato do ocorrido, então, passa a ser feito por Rogério Adriano Silva de Sena, irmão de Douglas, já que o pai da vítima ainda está bastante abalado. Segundo o tio de Adriele, ela e o ex conversavam no sofá quando ela começou a gritar. Douglas foi para cima do rapaz e começou a agredi-lo.
“Meu irmão tirou ele de cima dela e começou a dar socos nele, e ele não reagiu. Até então, meu irmão não tinha visto a faca, achava que ele a estava esmurrando de novo. Foi aí que a Adriele levantou e correu para a rua, já ensanguentada, e caiu na calçada. Foi a mãe dela, que tinha visto a faca, quem percebeu que ela estava ferida. Então, colocaram ela no carro e a levaram para o hospital, mas os médicos não conseguiram reanima-la”, explicou Rogério, que salientou só ter ficado sabendo que Valdelício tentou se matar já no pronto-socorro, quando uma ambulância chegou com ele.
Ainda de acordo com o parente, em nenhum momento o encontro tinha a finalidade de unir o casal, já que mais ninguém apoiava o relacionamento após as agressões.
Parentes e técnico pedem justiça
Adriele Sena era ex-judoca e chegou a competir em diversos torneios da modalidade, como Campeonato Brasileiro e Mundial, na categoria sub-17, e Jogos Sul-Americanos Escolares. Segundo Stefanio Stafuzza, a jovem era uma atleta exemplar e era como se fosse uma filha para ele.
“Foi ao lado dela que passei minhas maiores alegrias. Tinha ela como filha e isso nunca foi segredo para ninguém. Ela me chamava de pai direto. Nada do que for feito com ele a trará de volta. A maior punição que ele terá será com sua própria consciência, tendo que acordar todos os dias e pensar que tirou a vida de uma menina cheia de sonhos, cheia de vida, que era amada por todos onde passava e, pior que isso, deixar uma criança de cinco anos sem mãe”.
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Já o tio da vítima, Rogério Sena, foi mais duro ao falar sobre a situação do rapaz. "Sabemos que a Justiça no Brasil é uma porcaria, mas esperamos que ele seja condenado pelo que ele fez”
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