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Buscas por armas disparam no Google com eleição de Bolsonaro

Flexibilização do Estatuto do Desarmamento foi uma das principais propostas durante a campanha Bolsonaro à Presidência - Alan Marques/ Folhapress
Flexibilização do Estatuto do Desarmamento foi uma das principais propostas durante a campanha Bolsonaro à Presidência Imagem: Alan Marques/ Folhapress

Olga Bagatini

Colaboração para o UOL

30/10/2018 17h26

Nos últimos sete dias, houve um aumento significativo da busca pelo termo "armas" no Google, atingindo os níveis máximos de popularidade entre 18h e 20h deste domingo (28), quando foram divulgadas as pesquisas de boca urna e os primeiros resultados da apuração das eleições presidenciais, que já antecipavam a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). De acordo com o Google Trends — ferramenta que monitora as pesquisas do Google — a pesquisa pelas marcas de armamento Glock e Taurus também aumentaram no mesmo período. A flexibilização do Estatuto do Desarmamento foi uma das principais propostas de campanha do capitão da reserva para a segurança pública.

As procuras por "revogação" e "revogar" também entraram em ascendente nesta segunda-feira (30). O motivo é que, com o resultado do pleito, voltou à tona uma consulta pública feita pelo site do Senado sobre a eventual convocação de um plebiscito para revogar a lei que limita a comercialização, o registro e a posse de armas de fogo e munição. Baseada na proposta do senador Wilder Morais (PP-GO) de consultar a população, a PDS 175/2017 levou a dois dos assuntos mais comentados no Twitter nesta segunda-feira: "votem não" e "Estatuto do Desarmamento Civil" ficaram entre os trending topics durante quase todo o dia. 

Até o fechamento da reportagem, 560 mil pessoas haviam votado a favor e 761 mil se mostraram contra a convocação do plebiscito. É válido lembrar que a votação online não é determinante para a convocação, mas apenas uma maneira de os senadores saberem a opinião popular.

Gráfico armas Bolsonaro - Reprodução/Google Trends - Reprodução/Google Trends
Números representam interesse de pesquisa relativo ao ponto mais alto do gráfico para a região e o intervalo de tempo especificados; um valor de 100 é o pico de popularidade
Imagem: Reprodução/Google Trends

Glock e Taurus, duas das marcas de armamentos mais acessíveis e conhecidas no Brasil, também passaram a ser amplamente pesquisadas na noite de domingo, com o ápice às 19h. Já a Beretta, considerada premium devido aos preços mais elevados, manteve a variação de buscas. De acordo com uma revendedora da marca no Brasil, a diferença desta última para as demais é justamente o preço, mas isso não impediu que a empresa fosse contatada por potenciais clientes no dia seguinte à eleição.

"Segunda-feira foi um dia normal, mas teve um caso de alguém que ligou querendo comprar uma arma de calibre 9x19 mm Parabellum [conhecida como 9mm]", informou um funcionário que preferiu ter a identidade preservada. "Pela lei atual, esse calibre é exclusivo para integrantes da Polícia Federal e das Forças Armadas. Ele não sabia disso. Tem muita confusão sobre posse e porte de armas no Brasil, e isso precisa ser desmistificado", acrescentou.

O UOL também entrou em contato com Glock e Taurus por informações sobre o assunto, mas não teve resposta até o fechamento desta reportagem. 

Posse e porte de armas no Brasil

De acordo com o Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003), qualquer cidadão acima de 25 anos pode obter uma arma, desde que cumpra os requisitos de comprovar idoneidade, apresentar certidão negativas de antecedentes criminais, não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, ter ocupação lícita e residência fixa, além de comprovar a capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio do objeto.
Porém, não basta entrar em contato com a loja. É preciso obter uma licença emitida pela Polícia Federal, que só é concedida mediante a apresentação do motivo pela qual se pretende adquirir o item – não basta gostar ou querer ter uma arma.

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Além disso, a diferença entre porte e posse de arma de fogo deve ser observada. Comprar é permitido, mas apenas militares, policiais e afins e trabalhadores rurais que comprovem o uso para subsistência podem andar com o equipamento na rua.

Para andar armado é preciso ter uma Guia de Trânsito de Arma de Fogo, expedida pela PF. Quem não se enquadrar nas exceções e for pego armado em público sem a Guia pode pegar de dois a quatro anos de prisão, além de multa. O Estatuto considera carregar arma sem porte um crime inafiançável.

Segundo especialistas ouvidos pelo UOL em reportagem publicada em setembro, proibir o porte fez com que o número de mortes por armas de fogo diminuísse, mas permitir a venda evitou com que este índice caísse ainda mais, pois grande parte dos homicídios são causados por armamentos que um dia foram regularizados, e não pelos contrabandeados.

O número de registros de armas para pessoas físicas quintuplicou entre 2008 e 2017: de 6.260 para 33.031, segundo dados obtidos pelo Instituto Sou da Paz por meio da Lei de Acesso à Informação.

Outras propostas sobre desarmamento

Além da proposta de Morais sobre a consulta, há outras propostas sobre flexibilização do Estatuto do Desarmamento tramitando pelo Congresso Nacional. Uma dessas iniciativas é a Frente Parlamentar em Defesa da Segurança Pública, liderada pelo deputado federal Alberto Fraga (DEM/DF).
O objeto do grupo é revogar a lei por meio da nº PL 3722/2012, e entre as propostas estão a retirada da exigência de comprovação da necessidade da arma para a PF e a diminuição da idade de compra de 25 para 21 anos. O novo Estatuto já foi aprovado em todas as comissões e aguarda, desde 2015, votação no Plenário da Câmara.

Há um projeto semelhante no Senado Federal. De autoria de Cidinho Santos (PR/MT), o PLS 480/2017 pretende passar a responsabilidade de avaliar os documentos de venda de armas de fogo da Polícia Federal para os vendedores.

O argumento dos parlamentares e representantes da sociedade civil a favor da flexibilização é que diminuir restrições de compra poderia ajudar a reduzir os casos de homicídios, ou ao menos aumentar a sensação de segurança dos cidadãos.