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Mulher de metralhado no RJ diz que militares debocharam e omitiram socorro

Luciana Nogueira, viúva de Evaldo Rosa, compareceu ao Instituto Médico Legal para reconhecer o copo do marido, atingido por 80 tiros disparados por militares do Exército - Reprodução/TV Globo
Luciana Nogueira, viúva de Evaldo Rosa, compareceu ao Instituto Médico Legal para reconhecer o copo do marido, atingido por 80 tiros disparados por militares do Exército Imagem: Reprodução/TV Globo

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

08/04/2019 16h40

A viúva de Evaldo Rosa, morto após ter o carro metralhado na tarde de ontem em Guadalupe, zona norte do Rio, disse que os militares riram e não socorreram o marido, apesar de ela ter pedido ajuda.

"Eu comecei a botar a mão na cabeça:.'Moço, socorre meu esposo!', e eles não fizeram nada. Ficaram de deboche", afirmou Lúcia Rosa. O carro em que ela, o marido e os filhos estavam foi atingido por 80 tiros durante intervenção do Exército.

Lúcia esteve na manhã de hoje no IML (Instituto Médico Legal) para reconhecer o corpo do marido.

"Eu tinha que morrer com ele. Ele é meu melhor amigo. Gente, o que eu vou falar para o meu filho? Meu filho está traumatizado, com calmante. Eu dei calmante para ele. Ele ainda não sabe. Ele quer foto do pai, eu falei que o pai está no hospital", disse.

O sobrinho do casal, Daniel Rosa, 29, disse que o filho da vítima presenciou a ação e viu o pai ferido.

"Imagina uma criança ver o pai baleado, tentando respirar? O Exército acabou com a minha família", desabafou o sobrinho, que foi criado por Edvaldo e o trata como pai.

"Ele me deu muito carinho. Foi mais que um pai para mim. Era ótimo, boa pessoa, me ajudava muito, me dava conselhos, dedicava a vida à família. Ele me empurrava pra frente e me dava puxão de orelha quando fazia algo de errado. Agora vou ficar sem meu pai?", questionou Daniel muito emocionado.

Dez militares foram presos

Hoje, dez dos 12 militares do Exército que estavam envolvidos no caso foram presos após prestarem depoimento. A investigação do caso ficará sob responsabilidade da Justiça Militar.

Segundo a Polícia Civil, mais de 80 disparos foram realizados contra o veículo dirigido por Evaldo. Ele estava com a família a caminho de um chá de bebê quando foi abordado. O sogro dele, que estava no veículo, e um pedestre também ficaram feridos.

As primeiras informações divulgadas pelo Exército ainda ontem diziam que a tropa havia "reagido a uma agressão oriunda de criminosos a bordo de um veículo". Segundo a família, a vítima não tinha qualquer envolvimento com o crime.

Em um comunicado divulgado hoje, o CML (Comando Militar do Leste) informou que "com base em informações iniciais transmitidas pela patrulha, foi emitida nota segundo a qual a tropa teria reagido a uma agressão oriunda de criminosos a bordo de um veículo".

Em virtude de inconsistências identificadas entre os fatos inicialmente reportados [pelos militares envolvidos na ação] e outras informações que chegaram posteriormente ao Comando Militar do Leste, foi determinado o afastamento imediato dos militares envolvidos, que foram encaminhados à Delegacia de Polícia Judiciária Militar para tomada de depoimentos individualizados", continua a nota.