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Só sabíamos brincar, diz irmã de professor morto; mãe entregou suspeito

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL, em Brasília

02/05/2019 17h15

O corpo do professor Júlio César Barroso de Sousa, morto na última terça-feira dentro de uma escola em Valparaíso de Goiás (GO) foi sepultado na tarde de hoje no cemitério de Brazlândia, depois de ser velado em uma capela de Santa Maria, no Distrito Federal. Familiares, alunos e colegas de trabalho compareceram em peso.

Sousa foi morto com dois tiros na tarde de terça, após ter discutido com um aluno no período da manhã. O jovem de 17 anos foi apreendido, suspeito de ser o autor do crime. Ele estudava na escola e teria entrado uniformizado na escola, segundo a investigação, antes de executar o assassinato.

O velório do professor de 41 anos começou às 7h, na capela Divino Espírito Santo. A mulher dele, Daiani Alves, não quis falar com a imprensa e ficou o tempo todo próxima ao caixão, mostrando estar muito abalada com o crime.

Irmã de Sousa, Juliana Maria de Lima lembrou que o professor era uma pessoa que apenas fazia o bem e que morreu por acreditar na educação.

"Éramos em cinco irmãos. Só sabíamos brincar, rir um do outro e aproveitar a nossa família. Infelizmente, meu irmão, que era um ser iluminado, se foi de forma covarde, pelas costas. O que nós queremos é justiça, porque fácil não vai ser", disse. O professor era casado há 15 anos e deixa um filho de seis anos e uma filha de três.

2.mai.2019 - Funeral do professor Júlio César Barroso de Sousa, morto por um aluno na terça-feira (30) em Valparaíso de Goiás - Jéssica Nascimento/Colaboração para o UOL - Jéssica Nascimento/Colaboração para o UOL
Funeral do professor Júlio César Barroso de Sousa, morto por um aluno anteontem em Valparaíso de Goiás
Imagem: Jéssica Nascimento/Colaboração para o UOL

De acordo com a Secretaria de Educação de Goiás, as aulas no Colégio Estadual Céu Azul, onde Sousa era professor e coordenador de turno, devem ser retomadas em 13 de maio. Emocionada, a professora de português Rosenilda Melo explicou que ainda não sabe se vai conseguir voltar à rotina na unidade escolar.

"Eu trabalho há 20 anos nessa escola. É a minha casa. Como vou voltar lá, sabendo que um professor foi morto? Me sinto desamparada. Fico imaginando como vai ser a sala dos professores onde dividíamos angústias, brincávamos. É desesperador", disse a professora. "É um trabalhador que doou a vida pela educação. A gente nasce professor, é nosso ofício. Eu acho que nosso maior defeito é tentar ser super-herói."

Alunos acharam que fosse um massacre

Sousa dava aulas de inglês na escola Céu Azul. As alunas M.H.S., 16, e S.S., 17, lembram com carinho do professor, que entrou no colégio neste ano. Segundo elas, o docente era paciente, rígido, mas brincalhão ao mesmo tempo. Elas tiveram aula com ele na manhã da terça-feira, dia de sua morte. Já em casa, receberam a notícia do crime através de amigos, que acreditavam que o crime, na verdade, tratava-se de um massacre.

"Era intervalo, todo mundo estava no pátio. Nossos amigos ouviram vários tiros e acharam que também iriam morrer, que era um massacre. Ainda não sabemos como vai ser o retorno das aulas. Estamos todos muito abalados", disse S.S..

Já M.H..S. reclama da falta de segurança no colégio. Disse que não há nenhum policiamento nas redondezas e que tem medo de sair de casa e não voltar.

A Secretaria de Educação tinha que implementar uma revista, pelo menos de mochilas. O aluno era tranquilo, na dele. Mas a gente nunca sabe, né? Ele tinha uma arma e ninguém percebeu
M.H.S., aluna da escola onde professor foi morto supostamente por aluno

Mãe entregou adolescente

O aluno suspeito de ser autor dos disparos foi apreendido na tarde de ontem, na região do Novo Gama, no bairro Pedregal. Segundo a Polícia Civil de Goiás, a própria mãe indicou o seu paradeiro. Ela levou os policiais até o esconderijo do rapaz, que estava em cima de uma árvore, na casa de uma conhecida da família. Com o aval da mãe, ele se entregou.

Ele fez, ele tem que pagar. Sinto muito pela família do professor. Peço perdão para a esposa, para os filhos pequenos. Mas o meu [filho] vai pagar
L.S., mãe de aluno suspeito de matar professor

O adolescente será apresentado ao juiz e promotor da Vara da Infância e da Juventude. Na sequência, será encaminhado para um centro de internação de menores.

A arma usada para matar o professor foi encontrada na manhã de ontem. Segundo o delegado Rodrigo Mendes, ela estava enterrada em um terreno baldio perto da casa onde o investigado mora.

"A gente ainda apura se existe uma pessoa que teria emprestado a arma para o adolescente", disse o delegado.

Crime

O professor Júlio César Barroso de Sousa - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O professor Júlio César Barroso de Sousa, morto dentro da escola onde era coordenador de turno
Imagem: Arquivo Pessoal

Sousa foi morto na tarde de anteontem com dois tiros disparados pelo estudante de 17 anos dentro da escola, que fica a 35 km de Brasília. O crime ocorreu por volta de 15h.

De acordo com a Polícia Civil de Goiás, o professor e o aluno tiveram uma discussão pela manhã. O adolescente, então, voltou ao colégio horas depois e atirou contra o docente, que estava na sala dos professores.

A Polícia Militar, o Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (Samu) e o Corpo de Bombeiros foram acionados, mas Sousa não resistiu aos ferimentos e morreu no local.