CCA, CV, PCC e FDN: massacre revela nó de facções locais e nacionais no PA
A morte de 58 presos anteontem, 16 deles decapitados no Centro de Recuperação Regional de Altamira (PA), levou os holofotes nacionais para o emaranhado de facções locais e nacionais que se forma no Pará e na Amazônia, de maneira geral.
O massacre é interpretado pelas autoridades e especialistas como mais uma tentativa do Comando Classe A (CCA), facção local, de frear o avanço do Comando Vermelho (CV), de origem carioca e atuação nacional, sobre o narcotráfico da região.
Além desses grupos, PCC (Primeiro Comando da Capital), surgido em São Paulo e já enraizado em boa parte do país, e FDN (Família do Norte) se sobrepõem nas atividades criminosas da região.
Por trás dessa história, estão também a construção da usina de Belo Monte, o crescimento desordenado e a decadência de Altamira - município de pouco mais de 100 mil habitantes e um dos mais extensos, e hoje em dia, mais violentos do Brasil.
Crescimento desordenado e progresso para poucos
Com o início da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, em 2011, Altamira viu a expansão da economia e da população.
Mas sem planejamento nem estrutura para tanta gente e para tanto dinheiro, o progresso nunca chegou para a maior parte dos moradores, que hoje convivem com a explosão de assassinatos.
Segundo Atlas da Violência de 2017, Altamira está no top dez das cidades com mais homicídios do Brasil.
O professor de Direito de Humanos do campus Altamira da UFPA (Universidade Federal do Pará), Assis Oliveira, relaciona a criação de assentamentos para relocados para construção de Belo Monte com o fenômeno.
"A partir de 2013, você tem uma desestabilização dos territórios já consolidados do crime organizado, sobretudo ligado ao tráfico. Há uma nova disputa pela nova configuração, já que saem dos locais onde estavam para novos", afirma.
"Junto com isso, e quase que ao mesmo tempo, vai ter novas facções, como a chegada da FDN, como a CCA, que vão se aproveitar de um território novo e se unem em grupos locais e regionais. Com domínios mais fortes, vão gerar mais violência", diz Assis.
Assis também afirma que a violência em Altamira está ligada à atuação de milícias.
"Desde essa época já havia sinalização de que milícias estavam atuando --em parceria ou não com as facções-- fazendo esse processo de execuções sumárias, tanto de inimigos das facções, como daqueles que matavam policiais. Isso também vem ocorrendo de maneira sistemática no município", aponta.
Com a desmobilização do canteiro de obras de Belo Monte, no segundo semestre de 2015, a crise econômica empurrou jovens e pessoas pobres para o mundo do crime. "Inclusive pessoas que estavam trabalhando no empreendimento, que migraram para o tráfico de drogas como única forma de renda", diz.
Surgimento da facção local
Sem dinheiro, com territórios desconfigurados e estado ausente, Altamira pariu prematuramente um problema típico das metrópoles: a formação de uma facção criminosa local para controlar o tráfico de drogas.
"Antes, Altamira era dividida em várias gangues. Agora tem um comando que articula todas as relações dentro do município", afirma Aiala Colares, professor e pesquisador da Uepa (Universidade do Estado do Pará).
Oziel Barbosa, 27, conhecido por Maranhão, era apontado como fundador do grupo. Ele foi morto durante confronto com policiais em Campo Grande em 6 de abril de 2016. Segundo a polícia, ele tinha na ficha cerca de 50 homicídios.
"Altamira se apresenta também como uma rota do tráfico, utilizando rios e a Transamazônica. Isso permitiu que o CCA pudesse organizar o mercado da droga, tanto em Altamira, como transporte para outras regiões e mesmo para o estado do Pará e, claro, cooptando as pequenas facções que existiam", afirma.
Facções nacionais
A atuação já violenta do CCA na região piorou com o crescimento rápido do CV, grupo de origem carioca, em Belém.
"O CCA começou a ficar preocupado com a influência do CV no Pará", afirma.
Além desses grupos, a Amazônia tem ainda a presença da FDN (Família do Norte), que controla o tráfico amazônico de drogas, e do PCC, que tenta transportar por ali a droga advinda do Centro Oeste.
"A FDN nem é aliada, nem é inimiga do CCA. E para o CCA também não é interessante estabelecer uma aliança com PCC, porque ele está muito distante", afirma.
Ainda assim, para barrar o avanço do CV, há indícios de que CCA tenha ensaiado uma aproximação com o PCC - inimigo do FDN.
Essa encruzilhada de siglas e facções é de conhecimento das autoridades. Reportagem da Folha mostrou que a cúpula da segurança paraense monitorava o avanço do CV e sabia que o grupo estava decidido a investir sobre as áreas ao sul do Pará, onde há controle de PCC e CCA.
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