Sem mando do PCC: bastidores da fuga em massa em SP após crise do covid-19
Resumo da notícia
- 1.375 detentos fugiram de três prisões de SP na noite de segunda-feira (16)
- Estopim foi suspensão de saídas temporárias e visitas em presídios
- Governo suspendeu direitos dos presos por receio de alastramento do coronavírus
- Em paralelo, PCC reclama de comida em Brasília e ameaça novos ataques
Maior ansiedade, primão, o bagulho tá louco. Cinco dias para a saidinha. Terça que vem tô na rua, graças a Deus. Eu tava falando com a tia, primão, vou tentar ir aí. Vou fazer um esforço pra ir aí para ver vocês. Maior saudade.
Essa mensagem foi transmitida por áudio a um parente semana passada por W. de dentro do presídio de Mongaguá, litoral de São Paulo. Desde que 577 presos escaparam da unidade, na noite de segunda-feira (16), a família não tem mais contato com W, e as autoridades acreditam que essa fuga, diferentemente de grande parte das ações no sistema penitenciário paulista, não tem ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
A suspensão do direito de saída temporária na Páscoa, além da suspensão de visitas sob a justificativa da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) de contenção do coronavírus nas cadeias revoltou os presos, segundo as principais linhas de investigação em curso.
Entre as cinco unidades prisionais de São Paulo que tiveram rebeliões ontem, uma delas, a de Mirandópolis, inclui presos rivais do PCC. Segundo agentes penitenciários, advogados de presos e servidores da administração penitenciária estadual, não ocorreu uma ação orquestrada pela cúpula da facção paulista.
Lincoln Gakiya, promotor tido como o principal investigador do PCC em atividade, concorda que as fugas da noite de ontem tiveram como únicas motivações a suspensão da saída temporária e das visitas.
A PF (Polícia Federal) que tem investigado a dinâmica do crime organizado a nível federal interceptou um áudio supostamente de um líder do PCC no Paraná que repassava aos integrantes da facção detidos no estado que não havia determinações para rebeliões e que a questão de São Paulo era pontual.
"Estão chegando vários irmãos aqui na sintonia do comando perguntando o que tá acontecendo, se tá tendo algum salve para virar a cadeia. A situação que está acontecendo em São Paulo não é salve. Está relacionado a essa pandemia aí de coronavírus, onde foi cortado a saidinha dos parceiros lá", diz o suposto líder do PCC no Paraná.
"Salve" é a determinação dada pela cúpula do PCC contra o sistema de segurança e costuma ocorrer por meio de cartas. E "virar a cadeia" se refere a rebelião.
1.375 fugas
Ao todo, uma rebelião simultânea em cinco presídios de São Paulo culminou na fuga de 1.375 detentos. Também escaparam 594 presos de Porto Feliz e 218 em Tremembé, cidades do interior paulista. Até as 8h dequarta-feira (18) de hoje, 645 haviam sido recapturados.
Além dos três presídios, houve incidentes, sem fugitivos, nas unidades de Mirandópolis e de Sumaré, também no interior. As cinco unidades são de regime semiaberto, local em que presos podem trabalhar fora da prisão e retornar à noite, além de ter direito a saídas temporárias.
Problema vindo de Brasília
Além da fuga em São Paulo, há uma ameaça que parte do sistema carcerário para novos ataques contra forças de segurança, no moldes do ocorrido em maio de 2006. Mas o motivo não é o mesmo da fuga de ontem.
Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado por investigações estaduais e federais como o principal líder do PCC, se queixa da alimentação em Brasília. A informação é negada pelo Depen (Departamento Penitenciário Federal), que diz oferecer alimentações na unidade três vezes ao dia.
Integrantes da cúpula do PCC iniciaram uma greve de fome em Brasília para chamar a atenção das autoridades sobre a reclamação feita sobre a alimentação. Marcola, por exemplo, teria perdido 20 quilos em um ano. Seu irmão, Alejandro Camacho, conhecido como Júnior ou Marcolinha, também.
Agentes penitenciários e policiais civis de São Paulo afirmam que, como a greve de fome em Brasília não chamou atenção o suficiente, um "salve" foi dado para uma "greve branda" nas cadeias de São Paulo: os chefes determinaram que integrantes do PCC presos no estado paulista devem se recusar a ir a audiências.
A "greve branda" ocorreu na quarta-feira passada (11). A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) informou que todos os presos que se recusaram a ir para audiência foram penalizados e serão responsabilizados por terem cometido falta disciplinar grave.
Segundo agentes penitenciários, ao se recusarem a ir para audiências, o discurso era um só em diferentes unidades prisionais: caso a situação dos presos de Brasília não melhore, o PCC agirá dentro e fora dos presídios. A mesma tática utilizada em 2006, quando 564 pessoas foram mortas violentamente em um mês.
Ouça também o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Este e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.