Motivado por dinheiro: o que diz a polícia do crime que Flordelis é acusada
O crime pelo qual a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) é acusada —ela foi denunciada hoje pelo Ministério Público do Rio como mandante do assassinato do próprio marido— foi motivado por dinheiro, segundo apontam as investigações. Cinco filhos e uma neta dela foram detidos hoje também acusados de envolvimento no crime. A deputada só não foi presa porque tem imunidade parlamentar.
Flordelis, que segundo a polícia tentou matar o marido por envenenamento um ano antes do assassinato, foi denunciada por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica, uso de documento falso e organização criminosa majorada. O pastor Anderson do Carmo de Souza foi morto a tiros na madrugada de 16 de junho de 2019 na casa da família em Niterói, região metropolitana do Rio.
O delegado titular da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo, Antônio Ricardo, afirmou hoje que 20% da família da deputada está envolvida na morte de Anderson. Nove integrantes da família —composta pelo casal e 54 filhos (a maioria adotivos)— foram denunciados. Oito deles estão presos.
Na ocasião do crime, Flordelis disse em depoimento que o casal teria sido seguido por suspeitos em uma moto e que a morte teria ocorrido durante um assalto. Mas o crime já estava sendo arquitetado bem antes do assassinado do pastor, apontam as investigações. Segundo a Polícia Civil e o MP-RJ (Ministério Público do Rio), a parlamentar planejava matar o marido havia mais de um ano e chegou a colocar veneno na comida dele.
A primeira tentativa de envenenamento ocorreu em maio de 2018, segundo as investigações. Na ocasião, o pastor chegou a buscar atendimento de emergência em unidades de saúde com diarreia, sudorese e vômitos. Ao menos seis depoimentos prestados à Polícia Civil apontam que remédios teriam sido colocados em comidas e bebidas do pastor, supostamente com o intuito de dopá-lo.
Além de arquitetar, ela [Fordelis] financiou a compra da arma, convenceu a pessoa a praticar o crime, regimentou, avisou sobre a chegada da vítima ao local e ocultou provas. Não resta a menor dúvida de que ela foi a grande cabeça desse crime
Delegado Allan Duarte
O promotor Sérgio Luiz Lopes Pereira, do Gaeco (Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado), afirmou que um matador de aluguel chegou a ser pago para assassinar o pastor.
Filha admitiu participação em envenenamento
Uma das filhas adotivas admitiu que colocava o ansiolítico Rivotril e outro remédio que não soube descrever na comida de Anderson com regularidade. Ela foi apontada por outros irmãos como uma das pessoas diretamente envolvidas na morte do pastor. A justificativa dada por ela para dopá-lo, segundo o depoimento, seria porque "Anderson era uma pessoa agressiva com os filhos".
Ela admitiu ter furtado R$ 5.000 do pastor em 2012. Desde então, alega que era retaliada por Anderson financeiramente e em assuntos relativos à ascensão dela na igreja Ministério Flordelis.
Desde o início das investigações, a parlamentar nega participação no assassinato de Anderson. Hoje a defesa dela se disse "surpresa" com a operação.
Flávio, o autor dos disparos
Em junho, o laudo da reconstituição da morte apontou que Anderson levou dois tiros depois de cair no chão. Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da deputada, é apontado como o autor dos disparos. Ele estava no quarto quando Anderson e Flordelis chegaram em casa, apontou o laudo.
Depois de atirar, acionou a polícia para despistar a sua participação no crime, diz a investigação. O corpo de Anderson tinha mais de 30 perfurações. Segundo a polícia, Flávio confessou ter dado seis tiros no pastor.
Lucas Cézar dos Santos, 19, filho adotivo do casal, foi o responsável por arranjar a arma de calibre 9 mm usada no crime. Ele se encontra preso e também foi denunciado pelo crime.
Filhos incriminam Flordelis
Em depoimentos à polícia, ao menos quatro dos 54 filhos de Flordelis e Anderson apontaram a participação da mãe no crime. Um deles disse à polícia que a deputada seria "mentora intelectual da execução de Anderson".
Ele também afirmou que Flordelis teria lhe dito que "Anderson iria morrer" e acrescentou que a deputada vinha sondando os filhos há cerca de dois anos para saber se algum deles teria coragem de executar o crime.
De acordo com esse depoente, a parlamentar estaria descontente com a situação financeira, sob gestão do pastor, e acreditava que Anderson "poderia estar dando volta nela".
Outro filho disse em depoimento ter ouvido a mãe falar, em diversas ocasiões, que "a hora do seu pai ia chegar e que não ia demorar muito".
Filhos também mataram por dinheiro, diz testemunha
Quando soube do crime, outra filha da deputada disse à polícia que seu primeiro pensamento teria sido "foi ela [Flordelis], não acredito que realmente tiveram coragem de fazer isso com ele". Ela disse ainda que viu "nos olhos de Flordelis um sentimento de alívio" após o assassinato.
Essa filha relatou à polícia que os envolvidos "se beneficiariam financeiramente" com a morte, "pois eram os mais queridos de Flordelis e não gostavam da maneira como Anderson controlava o dinheiro da casa".
Uma outra filha não apontou a suposta ligação da mãe ao homicídio, mas teria ouvido de Flordelis que "o tempo de Anderson estava chegando" em decorrência da administração que o pastor impunha às finanças relativas a dízimos de igreja e à carreira de cantora gospel de Flordelis.
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