Laudo: Mortos após ação da PM no RJ foram baleados na cabeça e no coração
Herculano Barreto Filho
Do UOL, no Rio
15/12/2020 18h09Atualizada em 17/12/2020 12h50
Laudos de necrópsia aos quais o UOL teve acesso indicam que os jovens negros baleados sem motivo aparente na madrugada de sábado (12) durante uma ação policial na Baixada Fluminense morreram em decorrência de tiros em órgãos vitais. Jhordan Luiz Natividade, de 17 anos, foi atingido por três disparos no tórax e no abdômen, que acertaram o coração e um dos pulmões. Já Edson Arguinez Júnior, 20, levou dois tiros na cabeça.
O cabo Júlio César Ferreira dos Santos e o soldado Jorge Luiz Custódio da Costa foram presos preventivamente e indiciados pelo crime de homicídio qualificado. A Polícia Civil só identificou a ação dos PMs porque a família de uma das vítimas obteve imagens de câmeras de segurança com a abordagem aos jovens, que passavam de moto pela Rua Margem Esquerda, na Vila Medeiros.
No vídeo, a viatura aparece estacionada durante uma blitz, onde há pouca visibilidade para os condutores. O soldado Jorge Luiz está no meio da via, enquanto o cabo Júlio César conversa com o motorista de um veículo próximo ao meio-fio. Quando a moto passa pela rua, o condutor reduz a velocidade e desvia do soldado, que atira à queima-roupa. Edson, que pilotava o veículo, perde o equilíbrio e os jovens caem.
Eles não podiam andar de moto só porque são negros? Eles [PMs] acharam que o caso iria ficar impune. Mas não ficou, porque eles têm família." Renata Santos de Oliveira, mãe de Edson Arguinez Júnior, durante o enterro do filho
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) agora tenta identificar o condutor do veículo branco que aparece no vídeo durante a abordagem, momentos antes do tiro. A moto usada pelos jovens segue desaparecida.
Jovens podem ter sido levados a local do crime
O soldado Jorge Luiz e o cabo Júlio César serão intimados para prestar um novo depoimento nos próximos dias na DHBF, ainda sem data definida. Quando foram presos, eles negaram o tiro que aparece no vídeo e justificaram a ação porque Edson e Jhordan estariam em "atitude suspeita".
A reportagem tenta contato com os advogados de ambos desde ontem, mas não obteve retorno. Se enviado, seus posicionamentos serão publicados.
Os PMs precisarão informar aos investigadores qual foi o percurso após saírem do local da abordagem. O soldado Jorge Luiz conduziu a moto usada pelos jovens e acabou sendo seguido pelo colega de farda, que estava com Edson e Jhordan no banco traseiro da viatura. Os investigadores tentam remontar o trajeto com base em dados do GPS da viatura.
Inicialmente, os PMs disseram que iriam conduzir os jovens a uma delegacia. Mas decidiram liberá-los 40 metros depois do local flagrado em vídeo, já que eles não tinham antecedentes e não havia problemas na documentação da moto. Contudo, já há elementos suficientes na investigação para descartar essa hipótese, afirmam fontes na Polícia Civil.
A hipótese mais provável, segundo os investigadores, é que os jovens teriam sido levados ao local onde foram assassinados. A Polícia Civil investiga se houve a participação de outras pessoas no crime.
Velório de jovens negros mortos em abordagem da PM no RJ
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Velório de Jordan Luiz Natividade, de 17 anos, e Edson Arguinez Júnior, 20, mortos durante abordagem de PMs no Rio de Janeiro
Herculano Barreto Filho/UOL
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