Criança recebe medula do pai após doador 100% compatível contrair covid-19
Em abril de 2020, já com o número de casos de covid-19 aumentando, Jéssica Lopes viu sua filha, Alice Lopes, de 7 anos, ficar doente. Em um mês, descobriu que se tratava de leucemia e encontrou um doador 100% compatível.
Mas era só o começo da história. "Ela estava fazendo quimioterapia para a doença entrar em remissão, o que não ocorreu", contou Jéssica. "Quando o doador fez exames, constataram que ele estava com covid."
O transplante não pôde ser realizado com ele, mas a equipe médica do Hospital de Amor, em Barretos (SP), decidiu fazer com o pai de Alice, Flávio Rodrigues, que tem 50% de compatibilidade com Alice.
Jéssica contou que, no caso de sua filha, não era possível esperar o doador 100% compatível se recuperar do novo coronavírus. Os médicos informaram que os casos de transplante com 50% de compatibilidade têm bons resultados.
Então, o transplante de pai para filha foi realizado em 24 de dezembro do ano passado, dois dias antes do aniversário de Alice.
"A doença dela não entrou em remissão e eles fizeram o transplante mesmo assim. A chance de dar certo é menor, porém existe essa chance. A gente se apega em Deus que vai dar tudo certo", disse Jéssica.
Os procedimentos de doação e recebimento da medula foram realizados com sucesso. O pai precisou ir para o centro cirúrgico para fazer a coleta. Já a pequena Alice recebeu a medula por um cateter, como se fosse recebimento de sangue.
"Não é uma cirurgia, foi feito no quarto e tanto Flávio quanto eu assistimos tudo."
A etapa de pós-transplante e a importância da doação
Jéssica contou ao UOL que a etapa pós-transplante vem sendo delicada. Alice ficou, segundo ela, sem imunidade.
"Ela está bem prostrada, se alimenta somente por sonda, fica sonolenta. Mas ela está bem, na medida do possível. Os médicos falaram que é normal, então a gente está na luta para que ela volte ao normal", disse. Flávio já voltou para o trabalho e está bem de saúde.
Para lutar contra a doença de Alice, foi feita uma campanha para doação de medula óssea. A divulgação feita por Jéssica deu resultado. Em Botucatu (SP), onde foi o início do tratamento, De duas ou três pessoas que o Hemocentro recebia mensalmente para se cadastrar como doador, o número subiu para 500 pessoas.
"Acredito que existe medo de doar por acreditar ser uma cirurgia, mas para fazer o cadastro é apenas uma coleta de sangue", conta Jéssica.
Para ela, essa etapa na vida da família também mostrou o quanto é importante doar sangue e medula óssea. "Alice precisou de sangue também e ainda precisa, então toda doação é muito bem-vinda", alertou.
Para se tornar um doador, o interessado deve procurar um Hemocentro de sua região. Todo o processo e informações também pode ser consultado pelo site do Redome (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea).
Médica fala sobre a decisão do transplante
Patrícia Shimoda Ikeuti, médica do transplante de medula óssea do Hospital de Amor, de Barretos (SP), disse ao UOL que a unidade tem experiências em protocolos de transplante com doadores de 50% de compatibilidade. ]
"A literatura mostra que em relação às leucemias, existem serviços com experiência em transplante com 50% de compatibilidade, com controle da leucemia equivalente ao transplante com 100%, e o nosso serviço tem uma boa experiência nesse tipo de transplante", diz.
Ela lembra que essa portagem de 50% não é a mesma coisa de ser o grau da possibilidade de dar certo ou errado. "O risco de falha no transplante é significativo e independente da compatibilidade". A especialista disse ainda que, no caso de Alice, a escolha do pai doar era o mais correto a se fazer.
"Para o momento em que se encontrava escolhemos pelo transplante 50% de compatibilidade. A espera poderia significar aumento da leucemia, o que ocasionaria na impossibilidade de realizar o transplante", disse a médica.
Ela ressaltou ainda que o momento de Alice agora é ter cuidados com a imunidade e realizar consultas frequentes para avaliar a presença de sintomas e o controle da doença.
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