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Com ações do PCC e "Novo Cangaço", homicídios e roubos a banco sobem em SP

30.jul.2020 - Policiais do Gate durante ação contra criminosos que atacaram agências bancárias em Botucatu (SP) - Divulgação/PM
30.jul.2020 - Policiais do Gate durante ação contra criminosos que atacaram agências bancárias em Botucatu (SP)
Imagem: Divulgação/PM

Luís Adorno e Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

25/01/2021 18h45

Em 2020, aumentou o número de homicídios e de assaltos a banco no estado de São Paulo. O dado foi divulgado na tarde de hoje pela SSP (Secretaria da Segurança Pública).

Os roubos a banco foram de 21, em 2019, para 29, em 2020, o que representa acréscimo de 38%.

As vítimas de homicídios dolosos (com intenção de matar) no estado também aumentaram. Passaram de 2.906 em 2019 para 3.038 no ano passado —alta de 4,5%— de acordo com os dados divulgados pela pasta.

Especialistas e pesquisadores apontam o chamado "Novo Cangaço" como uma das razões para essas altas. O termo se refere aos criminosos que invadiam cidades do Nordeste no início do século 20 para assaltar bancos e carros fortes. À época, agia Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, o cangaceiro mais famoso da história.

Também afirmam que a pandemia teve influência direta nos dados divulgados hoje, fazendo aflorar a atuação das organizações criminosas e diminuindo a criminalidade simples (roubo de carros, assalto a pedestres etc.).

O UOL pediu uma entrevista com o secretário da Segurança Pública, general João Camilo Pires de Campos, mas ele não atendeu ao pedido até a publicação deste texto. Em nota, a SSP diz que analisa os dados (leia mais ao final do texto).

"Novo Cangaço" pode ter ligação com PCC

Ourinhos e Botucatu, no interior paulista, tiveram madrugadas de pânico causadas por quadrilhas de roubo a banco no ano passado. A tática foi a mesma nas duas cidades, em maio e julho: criminosos com armas de grosso calibre e explosivos trocaram tiros com policiais, gerando pânico à população, e saindo da cidade em menos de uma hora.

As ações do "Novo Cangaço" podem ter integrantes de facções criminosas, sobretudo do PCC (Primeiro Comando da Capital), mas normalmente não são financiadas pela organização criminosa, que pode alugar armamento e itens de logística.

Contudo, o PCC poderia ter ligação com o crescimento dos roubos a banco no ano da pandemia.

Devido ao aumento de operações federais nos últimos anos, que apreenderam grandes quantidades de drogas em 2020, e com menos eventos causadores de aglomeração —que impacta negativamente o tráfico de drogas—, membros da facção podem ter migrado para o roubo a banco para conseguir dinheiro, mas não necessariamente agindo para chamar a atenção como o "Novo Cangaço".

Organizações criminosas devem comemorar números, diz juíza

Para a juíza Ivana David, que integra a 4ª Câmara Criminal do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), as organizações criminosas "devem comemorar os números [divulgados pela SSP]".

A desembargadora aponta que os dois crimes que mais cresceram foram justamente aqueles "dominados pelas facções e organizações criminosas".

Para ela, a pandemia afetou somente a criminalidade de rua, pois vítimas e criminosos circularam menos devido às medidas de isolamento e sanitárias.

"Quando falamos em organizações criminosas, esse estado pandêmico em nada afeta. Ao contrário: abre espaço. Com menos polícia na rua, eles conseguem se organizar melhor, gerando, obviamente, um resultado satisfatório para o crime", afirma a juíza

Para Rafael Alcadipani, professor de estudos organizacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o "Novo Cangaço" pode ter relação com o aumento dos roubos a bancos, mas não só. "O ponto central é a situação de pandemia e o crime querer se capitalizar num cenário em que o crime não está conseguindo atuar", afirma.

Prisões caem 25,3% em relação a 2019

Enquanto roubos a bancos e homicídios dolosos aumentaram em 2020, o número de prisões em São Paulo caiu 25,3%.

Em 2019, as polícias de São Paulo bateram o recorde histórico de 184.270 prisões (o maior número já registrado desde o início da estatística, em 2001), contudo, em 2020, foram 137.555, o menor número de prisões registrado desde 2012.

SSP afirma que está analisando os dados

A Secretaria de Segurança Pública informou que está analisando o aumento dos roubos a bancos e dos homicídios.

Segundo a pasta, os roubos a banco tiveram crescimento após seis anos de queda consecutiva, entre 2014 e 2019, quando foram registrados apenas 21 casos no Estado.

A SSP afirma que 60 "criminosos ligados a esta prática criminosa" foram presos e que, na soma dos últimos "35 meses", 131 criminosos envolvidos em roubo a banco foram presos.

De acordo com a SSP, "as polícias paulistas atuam de maneira integrada, com uso de inteligência para reduzir todas as modalidades criminosas" e cita a transferência de líderes de facções para presídios federais e a apreensão de 306,7 toneladas de entorpecentes — a Polícia Rodoviária Estadual bateu recorde em 2020, por exemplo — como sucessos dessas ações.