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SP: Bebê pode ter morrido sem oxigênio em ambulância durante transferência

Lorena Ribeiro Mota foi diagnosticada com anemia, mas morreu a caminho de novos exames - Acervo pessoal
Lorena Ribeiro Mota foi diagnosticada com anemia, mas morreu a caminho de novos exames Imagem: Acervo pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

12/02/2021 15h42Atualizada em 12/02/2021 16h22

Uma bebê de apenas dois anos morreu na última sexta-feira (5), em uma ambulância do município de Sete Barras (SP), a 210 km de São Paulo, a caminho do Hospital Regional de Registro. A enfermeira que acompanhava a menina não teria conseguido fazer o equipamento de oxigênio funcionar.

O desespero de Isadora Lorena Ribeiro Mota, que se debatia na maca sem conseguir respirar, foi assistido durante mais de 20 minutos também pela mãe da menina, Ana Lúcia Ribeiro, em um trajeto de 21 km entre a Unidade Básica de Saúde de Sete Barras e o Hospital Regional de Registro.

Dona de casa, Ana Lúcia conta foi acordada pelo marido por volta das 4h30 de sexta-feira para alertá-la de que a menina não estava passando bem. Os pais então correram para o hospital de Sete Barras com a criança, que foi examinada por um médico de plantão. Ele solicitou à equipe a coleta de sangue para análise e também uma radiografia do tórax. A criança recebeu medicação intravenosa e também uma máscara de oxigênio, para que pudesse respirar melhor.

"Essa foi a última foto que tirei dela viva", conta a mãe ao se referir à imagem de Isadora sentada, com a máscara. "Ela ainda estava bem, até me pediu: 'Mamãe, quero ir para casa assistir Peppa (o desenho animado Peppa Pig)'. Quando deu umas 8h30, a equipe colocou ela dentro de uma ambulância e alguém disse que a gente tinha que ir para o Hospital de Registro."

A transferência se justificava porque o exame de sangue teria diagnosticado a criança com anemia, e o médico optou por transferi-la para Registro, cidade vizinha, onde ela poderia dispor de um suporte médico mais apropriado.

"Na metade do caminho percebi que a boquinha dela começou a ficar roxa, então perguntei para a enfermeira se o oxigênio estava ligado. Ela saiu do meu lado para ver e estava desligado. Ela tentou mexer para ligar e não conseguiu, ela perguntou para o motorista se dava pra parar a ambulância para ela tentar ligar o oxigênio porque a bebê estava mal", lembrou a mãe de Isadora.

"Ele falou que não dava e continuou, aumentando a velocidade da ambulância para poder chegar mais rápido. A enfermeira então pegou o celular e ligou para outra enfermeira no hospital, dizendo que não havia conseguido ligar o oxigênio e perguntou como que ligava. Mas, mesmo assim, não conseguiu", relata.

Ao chegarem ao Hospital Regional de Registro, Ana Lúcia se assustou ao ver que a menina se contorcia demais, com braços e pernas "se entortando" de um jeito que nunca tinha visto. Ao tocar na criança, percebeu que seu corpo estava gelado. A dona de casa se desesperou.

"Foi quando abriram a porta da ambulância e uma equipe levou minha menina lá para dentro (do hospital). Disseram que iam tentar reanimar ela. Mas aí depois de um tempo veio um médico e disse: 'Mãe, a sua anjinha não está mais aqui conosco, a gente tentou reanimar ela por 20 minutos, mas ela não voltou'."

No mesmo dia 5, horas depois da morte de Isadora, o prefeito Dean Alves Martins (MDB) entregou a chave de uma nova ambulância, uma Renault Master furgão para uso exclusivo da Secretaria Municipal de Saúde.

"Estamos aqui sempre pensando em melhor atender a saúde e o transporte para os pacientes que precisam se deslocar para outras localidades, hoje estamos fazendo mais uma entrega, atualmente contamos com uma frota totalmente renovada. Nosso trabalho é incansável na busca das melhorias e benfeitorias para o povo", destacou o prefeito durante a solenidade de entrega.

Mãe continua em choque, mas deseja justiça

Irmão de Isadora, o estudante Erick Eduardo Ribeiro contou hoje ao UOL que a família está arrasada com a morte da menina. "Minha mãe chora todos os dias por causa dela. E os meus outros irmãos choram muito também, quando vêem que ela está chorando", diz.

Erick revelou que a mãe ainda está triste, um pouco "desligada", como em estado de choque. Mas que, passando essa fase, deve procurar a Justiça para esclarecer tudo o que aconteceu.

Por meio de nota, a Prefeitura de Sete Barras confirmou que Isadora deu entrada no Pronto Atendimento Municipal da cidade às 4h59 do dia 5. O médico que a atendeu detectou desnutrição e desidratação com possível diagnóstico de anemia severa. Ele então solicitou um raio-X e exames laboratoriais, e entrou com medicação endovenosa. A paciente foi aceita pelo Hospital Regional de Registro para avaliação e conduta.

"A criança foi conduzida pela ambulância do Pronto Atendimento fazendo uso de O2 em máscara de alto fluxo e mantendo acesso venoso periférico salinizado, acompanhada pelos pais e uma técnica em enfermagem. Ao chegar em frente ao Hospital Regional de Registro, a menina apresentou uma parada cardiorrespiratória e foi levada à emergência onde, após várias tentativas de reanimação, a criança não reagiu e foi declarado o óbito", diz a nota.

O UOL entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde, para apurar o que ocorreu no atendimento realizado no Hospital Regional de Registro. Em nota, a pasta informou que "é responsabilidade do serviço de origem estabilizar qualquer paciente antes de uma transferência e transportá-lo em condições adequadas".

Confira a nota na íntegra:

"O Hospital Regional de Registro (HRR) esclarece que a criança I.L.R.M chegou em óbito e não respondeu às tentativas de reanimação prontamente realizadas pela equipe pediátrica da unidade. É responsabilidade do serviço de origem estabilizar qualquer paciente antes de uma transferência e transportá-lo em condições adequadas. Sugerimos a reportagem que procure o município. O HRR se solidariza com a família e permanece à disposição para esclarecimentos"