SP: Jovens batem em carro de delegada e são presos por tentativa de roubo
Quatro jovens foram presos em Cotia, na região metropolitana de São Paulo, depois de saírem para dar uma volta de moto. No boletim de ocorrência, a delegada Ana Karina Marin, que trabalha na mesma cidade, relata que eles tentaram roubá-la, mas eles negam. As famílias afirmam que eles apenas bateram no carro da policial e, com medo, fugiram.
Alex Vinícius Medeiro da Silva, 18, Matheus Leal de Carvalho, 21, Gustavo Alcantara Lacerda, 21, e Pedro Henrique Ferreira da Silva, 19, que não tinham passagem pela polícia, foram encaminhados ao CDP (Centro de Detenção Provisória) Belém II, na zona leste da capital.
Segundo o relato da delegada —que consta no boletim de ocorrência—, ela e uma passageira estavam virando à esquerda em uma rotatória quando os quatro jovens, a bordo de três motocicletas, cercaram o veículo. Naquele momento, disse ela, um dos rapazes gritou: "Perdeu".
Foi quando ela teria jogado o carro em cima de uma das motos e, imediatamente, o quarteto teria fugido. Ela contou à polícia ter pedido apoio de policiais, seguido os jovens e os encontrado em um posto de gasolina.
Ali, conforme narra o boletim de ocorrência, uma das testemunhas revistou os jovens e teria encontrado "cannabis sativa" —ou seja, maconha—com dois deles. O material foi para análise para confirmar do que se trata.
No registro, há duas testemunhas: um policial civil e um segurança do posto de gasolina. O histórico não especifica qual dos dois revistou os jovens.
Confusão na volta para casa
Já os jovens negam terem tentado roubar a delegada. Segundo familiares que conversaram com a reportagem, eles estavam voltando juntos para casa depois de terem ido até uma estrada de terra, que é ponto de encontro de jovens que andam de moto para fazer manobras.
Eles dizem que tentaram ultrapassar o carro da delegada, mas que um deles teria batido uma parte da moto no veículo. Assustados, relatam os familiares, os quatro fugiram e só pararam no posto de gasolina. Foi lá que "muitos policiais" teriam chegado, dando voz de prisão ao quarteto.
O UOL teve acesso a conversas no WhatsApp entre os jovens, antes de todos saírem para se encontrar. Nas mensagens divulgadas pela família (e que estão copiadas abaixo, como o grupo escreveu), eles combinaram a ida até o município de Vargem Grande Paulista, onde costumavam realizar as manobras com motos. Foi Gustavo que convidou os amigos. O passeio deveria durar até as 15h.
[09:38] Gustavo: Vamo dar uns gral agora?
[09:38] Alex: Na onde???
[09:38] Gustavo (mensagem de áudio): Viado, vamos lá pra Vargem agora? Ía dar um salve no Matheus agora, ver se ele quer ir, parça. Aproveitar que tá cedo.
[09:40] Alex: kkk 11:00 vou trampa doido
[09:40] Alex: Eae mais se vc for vai fica lá até que horas?
[10:00]: Alex: Chama o Matheus vamo aí
Durante toda a manhã, as conversas mostram que o grupo organizou os horários para sair. Às 10h22, Gustavo e Pedro combinaram de comprar pão e mortadela em um local próximo, para matar a fome antes do passeio. Gustavo chegou a relatar à namorada que iria até Vargem Grande para "treinar uns graus", como se a prática fosse comum entre o grupo.
Prima fala em abuso de autoridade
A prima de Pedro e Alex, Vitória Guilhermina Moreira, afirma que a família está sofrendo. "Eles estão presos desde sábado, injustamente, e por um abuso de autoridade", disse à reportagem. "Negaram o primeiro pedido de liberdade provisória, não tendo nenhuma prova concreta contra eles. Estão acusando de tentativa de 157 com um flagrante, mas não houve um flagrante."
Os quatro são trabalhadores, têm carteira assinada, têm residência fixa, não têm antecedente. Por que manter quatro jovens presos? A única coisa que a delegada disse que ouviu foi "perdeu". Perdeu o quê?
Vitória Guilhermina Moreira, prima de dois dos jovens presos
Consultado pela reportagem, o advogado criminalista Afonso de Oliveira questiona o fato dos quatro jovens terem sido presos sem provas. "O crime de roubo é cometido por violência e grave ameaça. Isso tem de ser comprovado. Os meninos não foram presos com armas, nem objeto que demonstrasse a configuração de roubo. Perdeu em que sentido? Em que momento? Qual dos quatro?", indaga.
O advogado que representa Pedro e Alex, que são irmãos, Sidvan de Brito, afirma que não houve prisão em flagrante e que irá pedir a liberdade provisória dos dois. "Para mim, não houve flagrante porque não houve tentativa de roubo. A vítima fala que ouviu eles dizerem "perdeu". Isso não configura estado de flagrância, no nosso entendimento."
A defesa de Gustavo e Matheus vai na mesma linha. "A prisão ocorreu simplesmente porque os meninos acabaram colidindo com o carro. Na fala dela, ela coloca como tentativa de roubo. Esses fatos não prosperam de forma alguma. Já foi juntado aos autos que não foram encontrado arma, nem instrumento que poderia dar ensejo ao roubo. É uma prisão totalmente injusta", disse o advogado Leonardo Medeiros Carvalho Xavier.
O que diz a SSP
O UOL não conseguiu localizar a delegada Ana Karina Marin. A reportagem ligou para o celular da passageira que acompanhou a delegada no carro, mas não obteve retorno.
Em nota, a Secretaria Estadual da Segurança Pública de São Paulo disse que os quatro jovens foram "presos em flagrante por tentarem roubar duas mulheres, sendo uma delas delegada de polícia". A pasta, no entanto, não respondeu por que os suspeitos estariam presos se a prova contra eles, até o momento, segundo o boletim de ocorrência, é apenas o relato da delegada.
"Todos foram reconhecidos pelas vítimas na Delegacia de Cotia, que instaurou inquérito policial. A prisão dos quatro foi apreciada pelo Poder Judiciário, que também aceitou a conversão da prisão em flagrante em preventiva", concluiu a pasta.
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