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Vendedor ambulante imigrante é espancado por guardas civis em Osasco (SP)

Willio Paul, vendedor ambulante e imigrante - Reprodução
Willio Paul, vendedor ambulante e imigrante Imagem: Reprodução

Por Lucas Veloso

Colaboração para o UOL, de São Paulo

15/07/2021 18h45

Ao menos três agentes da Guarda Civil Metropolitana espancaram um vendedor ambulante haitiano em Osasco, cidade da Grande São Paulo, na tarde desta quarta-feira (14). A entidade informou ter afastado as pessoas envolvidas.

Um vídeo gravado por pessoas que passavam pelo local mostra que o imigrante estava perto de algumas mercadorias no chão. Quando se aproximaram do homem, os agentes tentaram imobilizá-lo. Um deles chega a bater insistentemente com o cassetete enquanto outro solta algum tipo de gás no rosto do imigrante.

O homem espancado é Willio Paul. Derrubado, ele continua a apanhar no chão até que um dos guardas civis aplica um "mata-leão", golpe de estrangulamento comum em artes marciais.

O uso da técnica é criticada por especialistas em segurança pública e já foi proibido em diversas forças policiais. Na PM de São Paulo, o veto à prática veio em julho de 2020, dias após uma abordagem violenta a um jovem negro no interior de São Paulo recorrer ao golpe. Na capital paulista, a prefeitura barrou a prática pelos agentes da Guarda Civil na cidade em setembro do ano passado. Em Osasco, porém, não há nenhuma lei que impeça a aplicação do golpe.

Nas imagens, é possível ver algumas pessoas sendo repelidas pelos guardas ao se aproximar da agressão. A dona de casa Sueli da Costa, que passava pelo local, disse ao UOL que os agentes tentavam tomar as mercadorias que Paul vendia ali, mas exageraram na violência.

"Acho que não precisava de tamanha agressão para recolher o que ele estava vendendo. A gente está numa pandemia, e a renda não está fácil. Imagina para eles que nem conhecem direito o país. Não foi justo"
Sueli da Costa

Willio Paul foi detido e encaminhado para o 5º DP, no centro da cidade. Após a detenção, o imigrante recebeu auxílio do vereador Emerson Osasco (Rede), que foi até a delegacia. "De pronto, colocamos nosso corpo jurídico à disposição. Após horas de incertezas, conseguimos a liberação do Willio", afirmou em suas redes sociais.

Para o advogado criminalista Renan Bohus, responsável pela defesa de Paul, este foi mais um caso de brutalidade policial. "O que se apurou nos atos é que ele estava trabalhando quando foi abordado e fez um pedido de não levar os materiais, pois não tinha dinheiro nem para o aluguel", contou Bohus.

Na delegacia, para evitar a prisão e ser liberado, Paul precisou assinar um termo dizendo que houve resistência dele na abordagem. No entanto, seu advogado julgou desonesta a justificativa do caso. Nos próximos dias, ele pretende entrar com uma ação na Justiça.

Em nota, a Guarda Civil Municipal de Osasco por meio da Prefeitura disse que não compactua com nenhuma ação violenta no município e que determinou a abertura de uma sindicância para apurar o caso. "Os GCMs envolvidos ficarão afastados até o término das apurações", respondeu a entidade.

Na nota, o órgão diz que os guardas civis viram o imigrante vendendo produtos no calçadão. Na abordagem, constataram que ele não tinha autorização para trabalhar ali.

Ainda conforme a GCM de Osasco, Paul foi informado que deveria deixar a área. Mas, ao saber que teria suas mercadorias apreendidas, empurrou um dos guardas contra uma placa de anúncio. A partir daí, ambos começaram a lutar.

A entidade diz que "durante o atrito, o ambulante tentou pegar a arma do guarda, que foi ajudado por outros agentes municipais que acompanhavam a operação". Não é possível ver isso nas imagens que circulam nas redes sociais.

Além disso, a Guarda Civil diz que, após o ocorrido, o rapaz foi conduzido ao 5º DP (centro), onde constatou-se que o celular do ambulante apresentava queixa de furto. "Diante dos fatos, o rapaz foi autuado por receptação culposa e resistência. O celular foi apreendido e será devolvido ao proprietário, que já foi notificado", finaliza a nota.