Trump xinga, ofende e promete deportação, mas vê apoio de latinos crescer
Donald Trump ofendeu, xingou e recorreu à xenofobia contra imigrantes latinos. Mas chega para as eleições em menos de um mês com um número ainda mais alto de apoio entre a população latina nos EUA que nos pleitos de 2016 e 2020.
Uma pesquisa realizada pelo New York Times e Siena College revelam que, há quatro anos, 25% dos latinos votaram pelo republicano. Em 2024, essa taxa é de 37%.
Há quatro anos, 47% dessa população votou por Joe Biden e, agora, 56% do apoio desse grupo vai para Kamala Harris. Mas a distância entre os republicanos e democratas encolheu.
Ainda que ela continue na frente, Kamala Harris sabe que, em estados onde a eleição está praticamente empatada, o aumento de apoio para Trump pode ser decisivo. No estado do Arizona, por exemplo, um quinto do eleitorado é composto por latinos. A taxa é de 20% em Nevada.
A situação da Flórida é ainda mais reveladora. Um levantamento do Marist College apontou que Trump teria 58% das intenções de votos entre os latinos do estado, contra apenas 40% para Harris.
Os números revelam um profundo contraste com os resultados dos últimos anos. Em 2020, Joe Biden somou 53% dos votos hispânicos na Flórida. Em 2016, Hillary Clinton teve 62% dos votos dessa população no estado.
'Maracas for Trump'
Entre analistas e cientistas sociais, muitos se perguntam por qual motivo essa população migrou para dar seu apoio ao republicano, que chega a ter um grupo chamado "Maracas for Trump", numa referência aos instrumentos latinos.
Um dos argumentos para o aumento do apoio seria o custo de vida. Na pesquisa, 35% dos latinos indicaram que as políticas de Trump ajudaram suas comunidades, contra um apoio de apenas 22% para os plano econômicos de Biden. 34% dos entrevistados indicaram que as políticas do atual presidente prejudicaram suas condições de vida, contra uma taxa de 30% quando a pergunta se refere às políticas no governo Trump.
Outra constatação das pesquisas é de que o eleitorado latino não se vê identificado quando Trump ofende a minoria.
63% dos hispânicos afirmaram que não sentem que Trump está falando individualmente sobre eles quando os ataques ocorrem. A mais recente polêmica se refere a supostas gangues de venezuelanos que estariam tomando conta de áreas residenciais. Trump já se referiu aos latinos como "criminosos", "estupradores" e "aproveitadores".
Mais recentemente, Trump prometeu realizar a maior operação de deportação de imigrantes irregulares da história dos EUA. Um terço dos latinos questionados, porém, afirmaram que estavam de acordo com o projeto de construir um muro com o México.
Estratégia é colocar imigrante contra imigrantes
Trump ainda passou a adotar uma postura de colocar os novos imigrantes como uma ameaça aos que já estão no país. Num comício nesta semana, ele acusou Harris de estar trazendo "drogas e mortes" aos EUA com sua política de imigração e apontou que essa "invasão está sendo devastadora para os empregos" dos latinos que já estavam no país.
"Eles roubam seus empregos", disse o republicano, numa mensagem à minoria. "Qualquer hispânico que vote por Kamala tem que ter sua mente examinada", completou.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberUm fator que vem sendo considerado como importante é a relação entre os latinos e a ala mais conservadora dos republicanos em temas como família, religião e postura anti-aborto. A expansão de direitos de grupos LGBTQI+ e direitos sexuais e reprodutivos - temas centrais para Biden - não teriam tido a mesma acolhida entre os grupos latinos nos EUA.
Para completar, a geração mais nova e que acaba de chegar às cidades americanas se identifica com a postura dura de Trump contra os regimes na Venezuela, Cuba ou Nicaragua.
O avanço de Trump obrigou Kamala Harris a incrementar sua campanha entre os latinos. Mas, entre analistas, a impressão é de que a reação dos democratas pode ter sido atrasada.
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