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Soldado enfrenta 3 investigações após vídeo sobre orientação sexual, no DF

Henrique Harrison fez vídeo em seu canal para falar sobre sua orientação sexual na PM - Arquivo pessoal
Henrique Harrison fez vídeo em seu canal para falar sobre sua orientação sexual na PM Imagem: Arquivo pessoal

Heloísa Barrense

Do UOL, em São Paulo

20/07/2021 20h06

O policial militar do Distrito Federal Henrique Harrison, atacado por comentários homofóbicos nas redes sociais após publicar foto ao lado do companheiro na formatura da PM, tornou-se alvo de mais uma sindicância - a terceira investigação aberta para avaliar sua conduta desde que ele publicou vídeo falando sobre sua orientação sexual e a vida no meio militar. Agora, o soldado deverá responder a um procedimento administrativo por conta de entrevistas que deu em frente a um cartório no dia do seu casamento.

Durante as entrevistas, ele trajava farda comemorativa e falou com repórteres sem a autorização de um superior. Pelo regulamento da PM, é necessário pedir autorização para ser entrevistado trajando o uniforme oficial. Segundo Harrison, a notícia da sindicância foi recebida ontem e o procedimento foi aberto não apenas pelas entrevistas, mas também sob a justificativa de "colocar a população contra a corporação".

"[A entrevista] foi na porta do cartório. Essa farda não é a que eu trabalho, é a comemorativa, que eu uso para casamento, para festas. Eu estava saindo do meu casamento", contou o soldado. Ele diz ainda que conceder entrevista é a única forma que encontrou de ser ouvido. "Eu não consigo procurar a Corregedoria. Quando eu tento fazer alguma coisa, eles se voltam contra mim. Falar sobre isso é a única forma que eu tenho para tornar o caso público e ver se eu consigo alguma forma de defesa."

O UOL entrou em contato com a PM do DF sobre o caso e, em nota, a instituição informou "que sempre seguirá o devido processo legal dentro do arcabouço legislativo, respeitando sempre os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência."

A corporação ainda defendeu que os processos seguirão os "preceitos da ampla defesa e do contraditório" e que, até o momento, "os procedimentos não foram findados em suas decisões" não tendo, portanto, "qualquer tipo de solução, seja ela publicada para punir, arquivar ou tombar em Inquérito Policial Militar."

Beijo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O beijo aconteceu em janeiro do ano passado na formatura de soldados da Polícia Militar em Brasília
Imagem: Arquivo pessoal

No início do mês, Harrison foi punido com uma repreensão por publicar um vídeo em seu canal no YouTube em que comenta como lidou com a sua orientação sexual dentro do ambiente militar. O vídeo foi ao ar após a cerimônia em que foi alvo de ofensas.

Dias depois, a Corregedoria da Polícia Militar abriu uma sindicância contra ele por um simulacro de arma de fogo aparecer em sua cômoda, no fundo do cenário. Ao UOL, Harrison disse que, por conta da exibição da peça no tal vídeo, acabou imputado por "portar arma de fogo institucional em atividade estranha a policial militar".

O soldado fez uma denúncia na Câmara do Distrito Federal pedindo esclarecimentos e, na sequência, uma segunda sindicância foi aberta, alegando que ele "faltou com a verdade". Harrison deve ser ouvido ainda nesta semana a respeito do caso, mas lamenta o tratamento que vem recebendo da corporação.

"Outros policiais também dão entrevistas fardados e não pedem autorização para isso. Mas eles só vão atrás de usar o regulamento quando isso prejudica a imagem. Isso está mostrando uma omissão por parte da corporação", afirmou. "Eu entendo que me punissem, mas que todos os outros policiais sejam punidos também. Entretanto, isso não acontece. O que eu estou sofrendo é um tipo de assédio. Está se tornando recorrente."

Harrison ainda informou que está tomando medidas cabíveis para questionar o motivo pelo qual os policiais que estão respondendo pelo crime de homofobia contra ele não lidam com o mesmo avanço em seus processos. "Só os meus procedimentos que andam. Falaram que iriam investigar o caso, mas nada acontece", disse.