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Prisão de esposa de ativista que incendiou estátua é absurda, diz advogado

Colaboração para o UOL

28/07/2021 18h44

O advogado Jacob Filho, que representa o ativista Paulo Roberto da Silva Lima, o Galo, e a sua esposa Géssica de Paula Silva Barbosa, avalia a prisão da mulher como "absurda". Galo, que se define como entregador antifascista, afirmou hoje ter sido um dos responsáveis pelo incêndio da estátua do bandeirante Borba Gato, localizada na zona Sul de São Paulo, no último sábado (24). Tanto o entregador de aplicativo quanto sua esposa foram presos temporariamente.

"Paulo, na data de ontem, já sabia da possibilidade de ser preso, e mesmo assim resolveu enfrentar as autoridades, a acusação contra si e confessar o que de fato fez. Veja que Paulo usa o seu telefone, entretanto em nome de Géssica. Eles são casados, têm um filho, então o crime de Géssica é emprestar o nome para o marido. E hoje temos uma criança de três anos que está à mercê de cuidados e a gente não sabe de quem", disse o advogado ao UOL News na noite de hoje.

Segundo Jacob Filho, decisão judicial para prendê-la "não encontra respaldo jurídico algum", além de contrariar o "entendimento da Suprema Corte".

"Essa mulher não estava presente na cena, Isso está comprovado. Fizeram agora a busca e apreensão na casa de Paulo e Géssica e nada de risco foi encontrado. Ele colaborou com todas as investigações, esteve e está presente no distrito policial e aqui ele elucida os fatos, confessa a autoria. A prisão de Géssica é absurda, para dizer o mínimo."

Na avaliação do advogado, o decreto do juiz é "no mínimo lamentável", isso porque, segundo ele, há inúmeras maneiras de se resolver o problema sem ser a prisão.

"Se prende uma mulher negra e periférica, e é assim que é tratada todos os dias pelo judiciário. Isso é no mínimo lamentável, colocar uma mãe no cárcere porque ela é esposa de um ativista, de manifestante político", afirmou ele.

De acordo com o advogado do casal, durante o ato, Géssica estava em casa, cuidando de uma criança de três anos e do irmão, de 9 anos. "Isso por si só bastaria. Não há imagem que reconheça Géssica, nãoo existe lógica nessa decisão, não existe fundamento jurídico."

Galo disse hoje que o objetivo de incendiar a estátua do bandeirante era abrir um debate sobre o monumento a um "genocida e abusador de mulheres". Borba Gato fez parte do grupo de bandeirantes paulistas que capturava e escravizava indígenas e negros entre os séculos 16 e 17, segundo obras como "Vida e Morte do Bandeirante", de Alcântara Machado, de 1929.

"O que ele [Galo] fala tem muita coerência. Milhões de trabalhadores paulistanos passam por ali todos os dias e veem uma estátua daquele tamanho, com 13 metros de altura, homenageando um genocida, torturador e estuprador, e não sabem quem é. Ele [Galo] trouxe o debate a público", avaliou o advogado Jacob Filho.