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Quem é Thomas de Sousa, comerciante que desapareceu na Gardênia Azul no Rio

Thomas de Sousa está sem contato com a família há 5 dias, desde que desapareceu na Gardênia Azul - Arquivo pessoal
Thomas de Sousa está sem contato com a família há 5 dias, desde que desapareceu na Gardênia Azul Imagem: Arquivo pessoal

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

17/09/2021 20h05

A família do comerciante de Rio das Pedras que sumiu há cinco dias na Gardênia Azul, zona oeste do Rio, continua sem respostas. O carro de Thomas de Sousa foi encontrado carbonizado em uma localização próxima. As testemunhas afirmam que, após ser removido de um bar, onde teria se envolvido numa briga, ele foi executado e teve o corpo jogado em um rio da região, mas até o momento, a polícia ainda não realizou buscas no local indicado.

Thomas tinha 32 anos, era empreendedor desde os 15, gostava de estar com a família, vivia rodeado de amigos e adorava viajar.
Nascido e criado em Rio das Pedras, região da zona oeste dominada pela milícia, desde os 15 anos, Thomas cuidava do bar e restaurante "Esquina do Professorão", no bairro Pechincha, com a ajuda da família. Ao terminar o ensino médio e ficar mais velho, assumiu de vez o negócio.

Aos 21 anos, ele casou, teve seu primeiro filho, que hoje tem 9 anos, mas acabou se separando da esposa. Desde 2016, ele decidiu viver um novo relacionamento e se casou com Isabella, 28, com quem teve uma menina que hoje tem dois anos.

Como era morador desde garoto e sempre frequentou a Gardênia Azul, bairro vizinho, a família conta que ele era muito querido: "Ele vivia rodeado de amigos, amigos que ele achava que era, né? Meu irmão sempre gostou de sair à noite, era baladeiro, mas também era muito responsável. Nunca foi de dar trabalho, sempre avisava onde estava, com quem, que horas iria voltar, pra deixar a gente a par de tudo", disse Thainá de Sousa, irmã de Thomas.

Para quem não o conhecia, o comerciante passava uma imagem de "playboy", já que sempre andava muito bem arrumado, tinha um Ford Fusion Branco, avaliado em mais de 50 mil reais, e gostava de viajar. Paris, Londres e Cancún foram alguns dos destinos visitados com a esposa.

Mesmo com essa fama, Thomas era um cara simples, divertido e da paz: "Ele era bobo, tranquilão, fazia palhaçada o tempo inteiro pra gente rir. Nunca foi um cara de briga, sempre foi da paz e quando tinha alguma confusão, ele era o que apaziguava, era o que falaria 'não cara, deixa disso, vamos conversar'. Não acho que meu irmão tenha começado nenhum tipo de confusão naquele bar", disse a irmã sobre a noite em que o comerciante desapareceu.

Carro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Carro de Thomas de Sousa foi encontrado carbonizado, mas sem sinal de ocupantes
Imagem: Arquivo pessoal

A família tem certeza que Thomas foi executado, mesmo que não tenha sido localizado seu corpo. Eles afirmam que o rapaz foi morto e teve o corpo jogado em um rio da região, de acordo com o que ouviram de testemunhas. O carro do rapaz foi encontrado no último domingo (12), queimado, na avenida Ayrton Senna, Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Tanto essa região quanto a Gardênia, são cercadas por dois rios, Arroio Fundo e Rio Papagaio, mas até o momento as buscas pelo corpo de Thomas ainda não foram iniciadas.

O UOL tentou contato com a Polícia Civil, que informou apenas que as investigações continuam pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) para esclarecer o caso.

Desde o desaparecimento, a esposa de Thomas passou a receber muitos trotes sobre o paradeiro do marido e, por isso, decidiu desligar o telefone para evitar esse problema. Mesmo sem o corpo, a família está tentando marcar a missa de sétimo dia do rapaz.

Thomas era um homem de muita fé e gostava de visitar igrejas evangélicas com Isabella, sempre que era convidado. "Eu não faço ideia do que houve e acho que nem ele sabe o que aconteceu. Não sei se alguém achou que ele era playboy, se foi inveja, não sabemos. Só sei que ninguém conta de fato o que aconteceu aquela noite", disse Thainá.

se der ruim - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Thomas sumiu após deixar recado: 'se der ruim, sabe onde estou'
Imagem: Arquivo Pessoal

"Se der ruim, sabe onde estou"

O último contato feito por Thomás foi na madrugada de domingo (12). Após fechar o bar, por volta da 1h30, ele decidiu encontrar Jefferson Lima, conhecido como DJ, no Barracão, uma boate perto de seu estabelecimento. Depois, eles decidiram ir a um bar na Gardênia Azul, bairro vizinho.

"Amor, tô na Gardênia. Se der ruim, sabe onde estou", diz a mensagem de Thomas para a esposa na madrugada de domingo, às 3h20. Quase uma hora depois, às 4h16, ele escreveu "Gardênia".

A família acredita que essa última mensagem possa ter sido um pedido de socorro.

Os relatos que chegaram à família informam que, após a briga no local, o comerciante teria tentado negociar, mas acabou sendo levado para um local conhecido como "campo do favelão", onde foi morto a tiros. Horas depois, após a esposa ter visto a mensagem e alertado a família, eles ficaram preocupados, já que Thomas não havia chegado. Decidiram ir até a Gardênia falar com os moradores e mais tarde, o carro foi encontrado queimado na avenida Ayrton Senna, Barra da Tijuca, zona oeste.

O homem que estava com Thomas foi visto comprando gasolina na manhã de domingo. Desde então a família tenta contato com Jefferson para saber o que aconteceu, mas não o encontra, afirma Thainá. "Assim que realizarmos as apreensões, iremos informar", disse a delegada Elen Souto, da Delegacia de Descoberta de Paradeiros ao UOL.

A delegada acredita que a morte de Thomas tenha ligação com milicianos da região. A família também acredita na possibilidade, mas não consegue entender a razão para isso, já que Thomas não tinha e nunca teve nenhum tipo de envolvimento. O ex-vereador Cristiano Girão, preso desde 30 de julho é apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como chefe de milícia na comunidade da Gardênia Azul.

O carro carbonizado está sendo periciado e no local indicado do crime, os agentes encontraram vestígios de sangue. Uma das possibilidades é que o corpo de Thomas tenha sido jogado em um rio próximo à região, mas até agora não há sinais que comprovem isso.