Caso Henry: Jairinho é preservado e Monique, exposta em meio a acusações
Na primeira vez que esteve sentado no banco dos réus pela morte do enteado Henry Borel, o ex-vereador Dr. Jairinho não foi visto pelo público na audiência do caso. Já Monique Madeiros, a mãe do menino, esteve diante da plateia, composta por jornalistas, parentes e advogados, durante as 14 horas de audiência.
A defesa de Jairinho pediu à Justiça que ele acompanhasse a sessão a partir do presídio Bangu 8, no Complexo de Gericinó, alegando questões de segurança. A defesa de Monique, também presa, decidiu levá-la ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, no centro da capital fluminense.
O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) diz que Jairinho espancou Henry até a morte e que Monique sabia dos riscos que o filho corria —sem agir para preservá-lo. O casal responde por homicídio triplamente qualificado e agora tem defesas diferentes.
Jairinho não apareceu para a plateia nem mesmo virtualmente, por meio de telão instalado na sala de audiência.
Quando a juíza Elizabeth Louro, da 2ª Vara Criminal do Rio, acionava a advogada que acompanhava o ex-vereador em Bangu, pedia para a imagem constar somente na tela de 40 polegadas da sala de audiência, e não no telão para a plateia e imprensa.
Para a defesa de Monique, a participação remota de Jairinho foi o primeiro elemento de exposição da sua cliente. "A estratégia do Jairinho não ir [à audiência] era para virar o foco todo para a Monique, mas assumimos o risco para podermos passar a versão dela", diz Thiago Minagé, advogado de Monique.
Desgaste de imagem será estratégia, diz defensor
Sem Jairinho, as imagens da audiência expostas pela imprensa foram de Monique. De moletom branco, calça jeans e chinelos, todas as reações da professora, inclusive uma crise de choro, foram acompanhadas —e fotografadas— por todos.
Os defensores da mãe de Henry avaliam contudo que isso não foi negativo para a estratégia.
"Quando eu soube que ele não iria, eu incentivei Monique a ir. Eu disse que ela tinha que mostrar a cara e que não fazia sentido se omitir se não havia nada a esconder'', conta Minagé.
Após a primeira audiência para ouvir as testemunhas de acusação, haverá outras duas para ouvir as testemunhas de defesa e somente depois os réus serão interrogados. Até lá, diz Minagé, a figura de Monique será desgastada tanto pela defesa de Jairinho quanto pelo MP-RJ.
A vida de Monique anterior à morte do filho também foi explorada. Durante as perguntas a Leniel Borel, pai de Henry, o promotor Fábio Vieira tentou corroborar a tese que Monique via vantagem financeira no relacionamento com Jairinho e, por isso, não denunciou as agressões.
Testemunhas atacam principalmente Monique, diz advogado
Testemunhas de acusação que na fase do inquérito policial haviam indicado um padrão agressivo de Jairinho amenizaram o tom frente à juíza. Uma mudança de versão, que atacou Monique, dominou a pauta do noticiário no dia seguinte.
A ex-esposa Ana Carolina Ferreira Netto, que já registrou boletim de ocorrência contra Jairinho por agressões durante um "relacionamento conturbado", afirmou na audiência que não sabia de um histórico de agressões dele contra crianças.
A babá de Henry, Thayná Ferreira, disse em seu segundo depoimento à Polícia Civil, que havia testemunhado ao menos três episódios de agressão de Jairinho contra Henry, inclusive uma "rotina de violência" com chutes e rasteiras. Na audiência, a babá recuou e voltou à versão inicial, dizendo que nunca presenciou agressões.
Além disso, Thayná atribuiu a mudança de versão a uma suposta influência exercida por Monique. Ela afirmou ter medo da professora.
"Todas as testemunhas de mérito atacaram a Monique e pouparam o Jairinho. Isso mostra uma influência da família dele", avalia Minagé.
Ao UOL, o promotor Fábio Vieira também disse que Thayná tinha uma intenção nítida: "Ela quis tornar a Monique o monstro dessa história. É nítido que o Jairo e sua família exercem influência sobre ela".
A defesa de Thayná negou que ela tenha sido coagida ou agido em troca de supostos benefícios. O promotor afirma crer contudo que ela ganhou "algum tipo de benefício" para mudar novamente a versão.
Os delegados e inspetor da Polícia Civil ouvidos se limitaram a discorrer sobre as evidências colhidas na fase de inquérito, e não tinham elementos sobre a conduta de Monique ou Jairinho além do crime investigado.
O momento mais contundente contra o ex-vereador foi quando Leniel revelou que tem sido ameaçado de forma velada desde a morte do menino e atribuiu a intimidação a Jairinho.
No depoimento, o pai de Henry não revelou entretanto provas de sua acusação. Durante a inquirição, o advogado de Jairinho não se manifestou.
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