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MP abre investigação para apurar mortes durante ação da PM em São Gonçalo

22.nov.2021 - Corpos achados por moradores no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ) - Marcos Porto/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
22.nov.2021 - Corpos achados por moradores no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ) Imagem: Marcos Porto/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Igor Mello e Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

22/11/2021 17h12

O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) abriu uma investigação para apurar as circunstâncias que levaram à morte de ao menos 11 pessoas durante uma operação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Desde o início da manhã, moradores vem resgatando corpos de pessoas mortos do manguezal localizado às margens da comunidade.

A Polícia Militar afirma que as vítimas morreram em um confronto, ocorrido em uma operação realizada um dia após a morte de um policial. Mas os relatos dos moradores contradizem a versão oficial.

Durante o fim de semana, o Bope (Batalhão de Operações Especiais) —tropa de elite da PM do Rio— fez incursões na comunidade. A operação tinha como objetivo encontrar um dos supostos responsáveis pela morte do sargento da PM Leandro Rumbelsperger da Silva, 40 anos, baleado durante operação na região na manhã de sábado (20).

Segundo o MP-RJ, a 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Niterói e São Gonçalo, instaurou um PIC (Procedimento Investigatório Criminal) próprio para investigar a operação —que foi comunicada pela PM, como determina decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Um perito do MP irá acompanhar os exames de necropsia das vítimas no IML (Instituto Médico-Legal).

"O PIC também vai analisar eventuais violações a direitos praticados quando da execução da operação", diz o MP em nota.

Moradores falam em chacina

Uma moradora de outro ponto da comunidade, que não será identificada, disse que mensagens circulam em aplicativos de mensagens relatando que muitos mortos foram achados na região.

Falam em muitos mortos no interior do mangue, pedem ajuda para retirar, famílias estão desesperadas procurando filhos e outros parentes. Eles falam em chacina. Muita gente nem saiu de casa para trabalhar.

Outro morador afirmou que se estima que podem ser achados até "15 mortos".

Disseram que entrou um grupo grande de meninos dentro do mangue e 8 fugiram. Os meninos da comunidade têm o hábito de se refugiarem no mangue.

A PM informou que dará início a uma ação no local e permanecerá na região para garantir o trabalho de perícia da Polícia Civil. Ontem, segundo a PM, houve confronto e um homem morreu no local. A corporação afirma que ele foi reconhecido como um dos envolvidos no ataque criminoso à guarnição da PM que vitimou o sargento Silva.

Uma idosa de 71 anos também ficou ferida. Carmelita Francisca de Oliveira foi atingida no braço, levada para o hospital, medicada e liberada.

PM não fez varredura na região, diz porta-voz

O porta-voz da PM, o tenente-coronel Ivan Blaz disse ao UOL que, durante a ação, suspeitos de serem traficantes se refugiaram na área da mata e, após cessarem os supostos confrontos, não foi feita uma varredura no local devido à complexidade da região.

"Eles [suspeitos] sempre recorrem à mata e atiram lá de dentro. É um confronto complexo, não dá para fazer varredura após o confronto por conta da complexidade do local. Não sabemos quem mais está ali dentro. Então, quando os confrontos cessam, as equipes deixam o local", disse Blaz.