Boate Kiss: MP pede condenação de réus para que 'tragédia não se repita'
A promotora de Justiça Lucia Helena Callegari pediu a condenação dos quatro réus acusados pelo incêndio na boate Kiss, ocorrido em Santa Maria (RS), em 2013. A declaração da representante do MP ocorreu na fase final do julgamento, em andamento há dez dias em Porto Alegre.
Ao falar no plenário, Callegari disse que estava acompanhada de "242 anjos", em referência às vítimas do incêndio na casa noturna.
"Isso é uma responsabilidade de cada um dos senhores [jurados] hoje, os senhores querem que se repita [a tragédia na Kiss], querem que se repita? Façam a sua parte, os senhores são a sociedade, condenem os quatro. Não devem passar ilesos", disse a promotora, ao se dirigir para os sete integrantes do júri --seis homens e uma mulher.
A história não pode ser reescrita, nós temos uma página em branca para escrever, é o futuro. Todos nós choramos por Santa Maria, mas nós não podemos chorar de novo pelo coração do Brasil, nós não podemos chorar de novo."
Lucia Helena Callegari, promotora de Justiça
Na sequência, ela voltou a pedir a condenação dos quatro réus. São eles: os dois sócios da boate --Elissandro Callegaro Spohr, conhecido por Kiko, e Mauro Londero Hoffmann-- e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira --o produtor musical Luciano Augusto Bonilha Leão e o músico Marcelo de Jesus dos Santos.
"A missão é essa: se os senhores não condenarem ou desclassificarem estão dizendo: 'Façam, porque não dá [condenação]'. Se os senhores desclassificarem ou absolverem, vão dizer isso. Façam o que deve ser feito", reforçou.
Minutos antes, a promotora voltou a mostrar fotos dos corpos das vítimas da Kiss, o que provocou a saída de vários familiares e sobreviventes que acompanham o Tribunal do Júri na plateia. As cenas não foram mostradas na transmissão do YouTube do julgamento.
Na volta do intervalo, no começo da tarde, a advogada Tatiana Borza criticou a reprodução das imagens dos cadáveres pelo MP. "Eu não preciso passar fotos de mortos." Porém, ontem à noite ela mostrou uma foto do sanfoneiro Danilo Jaques caído no chão, já sem vida. A fotografia também não constou na transmissão ao vivo do julgamento.
Após Borza, passou a usar o recurso de réplica a defesa de Mauro Hoffmann, que deve ser seguido pelos advogados de outros dois réus. Só então os jurados se recolhem em espaço reservado para deliberar sobre as condenações, o que deve ocorrer no meio da tarde de hoje. Eles têm três horas para decidir.
MP já havia mostrado corpos e vídeo de pânico
Ontem, os promotores de Justiça Lucia Helena Callegari e David Medina já haviam mostrado fotos de corpos de algumas das 242 vítimas da tragédia. A estratégia foi adotada durante a fase de debates, após o fim dos 32 depoimentos. A exibição das imagens provocou a saída de alguns familiares do salão.
Em um dos registros, os cadáveres apareceram acumulados no banheiro, onde cerca de 180 pessoas foram encontradas sem vida, por confundirem o local com uma saída de emergência. Em outro, os corpos estavam enfileirados lado a lado no chão de um ginásio do CDM (Centro Desportivo Municipal).
Os promotores também apresentaram vídeos da tragédia. Um deles revelou o momento de transporte dos cadáveres, dentro de sacos pretos, realizado no dia do incêndio em 27 de janeiro de 2013.
Além do vídeo exibido seguidamente durante o julgamento em que se iniciam as chamas, os promotores compartilharam com o público outras gravações em áudio e vídeo. É possível ouvir ao fundo, em uma delas, uma jovem dizer "mãe e pai", com a fala antecedida por gritaria e tumulto. Os representantes também mostraram duas ligações de frequentadores da boate para serviços de emergência, quando, aos gritos, tentam avisar do incêndio.
O julgamento
Quase nove anos após a tragédia, quatro réus são julgados por 242 homicídios simples e por 636 tentativas de assassinato —os números levam em conta, respectivamente, os mortos e feridos no incêndio. Devido ao tempo de duração e estrutura envolvida, o júri é considerado o maior da história do Judiciário gaúcho.
Os réus são: Elissandro Spohr, conhecido como Kiko, que era dono da boate; o produtor musical Luciano Bonilha, que comprou o produto que deu início ao incêndio; o sócio investidor da boate Kiss, Mauro Hoffmann, e Marcelo de Jesus dos Santos, músico que segurou o artefato com fogo.
O pedido do MP é de condenação por "um homicídio simples que será punido com a pena de um homicídio acrescentada até a metade", afirmou o promotor David Medina.
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