Topo

Esse conteúdo é antigo

Mulher acha jararaca no jardim de casa e espanta biólogo por sua calma

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

15/03/2022 13h23

A gerente financeira Priscila Gomes Luiz estava passando o final de semana com a família em sua casa de veraneio, que fica no bairro do Guaraú, em Peruíbe, litoral sul de São Paulo, quando se deparou com uma cobra escondida em seu jardim. Apesar do susto que levou na hora, ela diz que conseguiu manter a calma e chamou um biólogo que trabalha na secretaria de Meio Ambiente e Agricultura do município para resgatar o animal, que foi solto em seguida em uma área de mata.

A tranquilidade com que a moradora e a família lidaram com o problema surpreendeu o biólogo Thiago Malpighi, que desde 2017 trabalha para a prefeitura, auxiliando na identificação, resgate e soltura de animais silvestres encontrados em áreas urbanizadas da cidade.

"Quando ela entrou em contato comigo, estava muito calma e já desconfiava que se tratava de uma jararaca. Na hora percebi que ela deveria ter algum conhecimento sobre esses animais", comentou.

A jararaca estava escondida embaixo de uma enxada, no jardim de uma residência no bairro do Guaraú - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A jararaca estava escondida embaixo de uma enxada, no jardim de uma residência no bairro do Guaraú
Imagem: Arquivo Pessoal

A descoberta da jararaca ocorreu na manhã de sábado (12). Priscila estava se preparando para realizar alguns serviços de jardinagem no entorno do imóvel quando puxou uma enxada que estava apoiada no solo. Sob a ferramenta, estava a cobra, enrolada em espiral.

"Claro que, na hora que a vi, tomei um susto enorme, dei um pulo para trás e gritei", contou Priscila ao UOL. "Mas ela também se assustou e acabou escapando para a lavanderia da casa. Meu marido e minhas filhas ficaram de olho nela, no local onde ela tinha se escondido, enquanto eu ligava para o biólogo".

Priscila diz que em momento algum sua família pensou em causar algum mal à cobra. Pelo contrário, estavam todos torcendo para que o especialista chegasse logo para resgatar o animal e realizar sua soltura em uma área apropriada.

"Nós temos essa consciência ambiental. Desde que compramos essa casa no Guaraú, há um ano e meio, sabíamos que iríamos nos deparar com animais silvestres da fauna local. Aliás, essa foi uma das razões que nos levou a comprar esse imóvel, amamos a Natureza", afirma.

"Já tínhamos encontrado antes outras cobras, com a cabeça mais arredondada, que indicam que não são peçonhentas", declarou. "Só chamamos o Thiago porque essa tinha a cabeça bem triangular, uma indicação de que era venenosa. Senão, teríamos deixado ela ir embora sozinha".

Proximidade com a Juréia

O bairro do Guaraú fica numa região muito próxima à Estação Ecológica da Juréia. Muitos imóveis foram construídos em áreas de mata nativa, o que facilita a ocorrência de encontros de moradores e visitantes com diversas espécies de animais da fauna brasileira, como explica o biólogo Thiago Malpighi.

"No município de Peruíbe ocorrem cerca de 27 espécies de serpentes. A espécie em questão, Bothrops jararaca, é uma das 3 espécies de importância em saúde pública que ocorrem no território do município. As outras duas são: Bothrops jararacuçu (jararacuçu) e Micrurus corallinus (coral-verdadeira)", afirmou.

No Brasil, as picadas de jararaca (Bothrops jararaca) respondem por cerca de 90% do total de acidentes com humanos envolvendo serpentes. O veneno da jararaca pode provocar lesões no local da picada, tais como hemorragia e necrose que podem levar, em casos mais graves, a amputações dos membros afetados.

"Geralmente, quando atendemos esses casos, é comum notarmos o nervosismo das pessoas, o medo", afirma Malpighi. "No caso dessa família, foi exatamente o contrário, estavam todos calmos e muito curiosos para obter informações sobre a espécie".

Segundo o biólogo, o espécime encontrado era um filhote, com cerca de 30 centímetros de comprimento, e foi resgatado e solto em uma área de mata, distante das zonas urbanas. Quando adultos, exemplares dessa espécie podem chegar a 1,20 m, dependendo do ambiente e da alimentação.

Chuva, calor e filhotes

No último levantamento realizado por Malpighi, de setembro do ano passado até o momento, 19 cobras já foram resgatadas no município, sempre em bairros próximos a áreas de mata. Dessas, 5 eram jararacas.

"As fêmeas da espécie Bothrops jararaca costumam gestar seus filhotes na estação quente e chuvosa, entre setembro e janeiro. O nascimento de filhotes tipicamente ocorre a partir de janeiro. Portanto, nessa época é comum encontrar indivíduos jovens, como foi o caso do filhote encontrado pela Priscila", esclareceu o biólogo.

Ele afirma que a maior parte dos encontros relatados no município não são de espécies de importância em saúde pública, que podem trazer riscos aos humanos. Além disso, ele explica que a maioria dos acidentes envolvendo as cobras não implica em óbito das vítimas.

Ele cita um levantamento de 2019, em que foram registrados 21 mil acidentes envolvendo cobras no Brasil. Desse total, 96 resultaram em letalidade, em situações muito atípicas, o que representa uma fração muito pequena do total.

"Elas só atacam se sentirem-se ameaçadas. Portanto, ao se deparar com uma cobra numa mata, por exemplo, o importante é manter a calma, como a Priscila fez, e se afastar. Se ela estiver em um ambiente urbano, é só ficar de olho nela, de longe, e chamar as instituições ou profissionais competentes para realizar o resgate do animal".