Idosa de 88 anos é suspeita de vender armas a acusado de matar Marielle
Uma mulher de 88 anos é suspeita de integrar uma quadrilha de tráfico de armas que abastecia diversos criminosos, de acordo com a Polícia Federal. Entre os compradores de armas do grupo, segundo as investigações às quais o Fantástico teve acesso, estava Ronnie Lessa — acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
Em um dos áudios mostrados pelo programa na noite deste domingo, Ilma Lustoza fala com o filho João Marcelo de Lima Lopes, vulgo Careca, que reconhecia Lessa. A mensagem foi mandada dois dias após ele ser preso em 2019.
Ilma e o filho são acusados de fazer parte da quadrilha que fornecia armas a criminosos. A investigação descobriu que parte das armas, peças e munições do esquema passava pela casa da idosa, no bairro de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
O homem foi monitorado pela PF (Polícia Federal) e pelo MP (Ministério Público) por mais de dois anos. Os dois órgãos brasileiros atuaram em parceria com um departamento de polícia norte-americano, especializado em crimes transnacionais.
Careca, que mora nos Estados Unidos, tinha pelo menos dois comparsas no país - dois irmãos que também brasileiros. Por estarem nos EUA, e terem cidadania americana, eles não foram presos, mas receberam uma notificação e tiveram os nomes incluídos na divisão vermelha da Interpol. Com isso, podem acabar presos caso deixem o país.
De acordo com a PF, Ilma guardava os pacotes da quadrilha, e depois os repassava a clientes e demais integrantes do grupo. Em imagens de uma câmera de segurança, datadas de novembro de 2020, às quais a Globo também teve acesso, mostram Ilma e um homem conversando do lado de fora da casa e, depois, ele aparece saindo com quatro malas e uma pasta.
O envolvimento de Ronnie Lessa foi revelado em um áudio. Na mensagem mandada por Ilma a Careca, ela conta que o reconheceu, e relembra o encontro dos dois.
"Marcelo, esse Ronnie Lessa foi o que esteve aqui em casa, que me pegou pelo pescoço e me botou na frente dele pra sair aqui de casa, não foi? Agora que eu to conhecendo ele", diz Ilma, ao que Careca confirma e pede que a mãe apague a mensagem.
Depois, o filho diz que não voltará tão cedo à casa da mãe: "depois dessa bomba aí? Não vou agora, não. (...) O lugar que eu menos quero ir agora é aí."
Relação de proximidade
Outras mensagens obtidas na investigação, e mostradas pela reportagem do Fantástico, mostram a proximidade entre Careca e Ronnie Lessa. Em uma das mensagens trocadas entre os dois, Lessa pede os dados bancários de Careca. Depois, manda oito comprovantes de depósitos em dinheiro. O acusado de matar Marielle Franco teria desembolsado ao menos R$ 200 mil em negócios com o grupo.
Já em uma conversa com outros amigos, em que comentam a prisão de Ronnie Lessa, Careca disse que faria o que fosse preciso para ajudá-lo, inclusive "lavar o chão da casa dele": "ele é um amigo também. Eu fui preso e ele me ajudou. Nunca vou esquecer".
De acordo com a PF, o esquema existia há pelo menos seis anos. Nesse tempo, a quadrilha abasteceu milicianos, traficantes e matadores de aluguel pelo Brasil, e principalmente no Rio de Janeiro.
Ao Fantástico, a defesa de Ronnie Lessa disse que não se manifestaria porque não teve "contato com qualquer elemento da investigação". Já o advogado de Ilma Lustoza negou que a ela tenha qualquer envolvimento com o tráfico de armas.
Os investigados poderão responder pelos crimes de tráfico internacional de armas, organização criminosa e lavagem de capitais.
Chegada dos armamentos ao Brasil
A entrada dos armamentos em território brasileiro ocorria, segundo o órgão, através de rotas marítimas (com contêineres) e aéreas (por encomendas postais), e passava pelos estados do Amazonas, São Paulo e Santa Catarina, com o objetivo de chegar a casa no bairro de Vila Isabel, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro.
"Na maioria das vezes, o material era acondicionado dentro de equipamentos como máquinas de soldas e impressoras, despachados juntamente a outros itens como telefones, equipamentos eletrônicos, suplementos alimentares, roupas e calçados."
O envio do dinheiro para a compra dos armamentos era realizado do Brasil para os EUA por meio de doleiros.
Durante as investigações, foi apurado que Careca, que é dono de uma churrascaria na cidade norte-americana de Boston, em Massachusetts, recebia uma parcela do dinheiro enviado do Brasil e repassava aos compradores dos armamentos que viviam nos EUA.
O bando investia o dinheiro adquirido com o tráfico de armas em imóveis residenciais, criptomoedas, ações, veículos e embarcações de luxo. Além das medidas judiciais já citadas, foi decretado o sequestro de bens, avaliados em cerca de R$ 10 milhões. Ao longo da investigação, foram apreendidos milhares de armas, peças, acessórios e munições de diversos calibres, tanto no Brasil, quanto nos EUA"
Nota da Polícia Federal
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.